“A COP será em Belém. O encontro de chefes de Estado será em Belém. E não há nenhum plano B”, afirmou o presidente da conferência, André Corrêa do Lago, em conversa com jornalistas na tarde desta sexta-feira (1).
Ana Toni, secretária-executiva da COP30, afirmou que não se pensam em alternativas “porque o governo acredita no plano A”, que é receber o maior evento climático global na capital paraense.
As declarações foram dadas na esteira da crise diplomática causada pelas opções de hospedagem a preços exorbitantes. Em uma reunião realizada pelo comando da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC) esta semana, representantes de 25 países formalizaram a queixa em relação à dificuldade de encontrar hospedagem a preços que eles possam pagar.
Também havia especulações de que o chamado segmento de alto nível pudesse ser realizado em outra cidade. Trata-se de dois dias em que chefes de Estado e governo vão à COP fazer discursos e manter conversas bilaterais. Essa parte do evento já havia sido movida para a semana anterior à COP por motivos logísticos – normalmente ela acontece nos primeiros dias da conferência.
As reclamações apresentadas na reunião da ONU, que incluíram pedidos de transferência da COP30 para outra cidade, transformaram a logística da conferência em uma questão política, afirmou Corrêa do Lago.
O presidente da COP disse que o assunto está tomando tempo em que deveriam ser discutidas “questões de substância”, mas ao mesmo tempo reconheceu que o tema é legítimo.
Os altíssimo preços de hotéis e aluguéis temporários vêm sendo relatados há meses. A cem dias do início da COP30 – que vai de 10 a 21 de novembro –, o tema continua dominando o noticiário.
Corrêa do Lago afirmou que representantes dos países mais pobres que dependem de ajuda de custo da ONU para enviar seus negociadores pedem diárias entre US$ 50 e US$ 70. O valor que eles recebem é de cerca de US$ 150 por dia, para todas as despesas.
“Há uma operação em curso para que todos os países possam vir para a COP.” O presidente da conferência afirmou que estão sendo oferecidas opções “no menor preço disponível”.
Mais do Reset
“Quando o Brasil está oferecendo dez quartos [por exemplo] para a Polônia, é óbvio que a Polônia vai ter muito mais que isso. Mas o que a Secop [órgão do Ministério da Casa Civil que cuida da organização] está fazendo é assegurar um número mínimo de quartos a preços possíveis, abaixo do que está no mercado”, disse o embaixador.
Uma plataforma oficial da organização que reúne quartos de hotéis e casas e apartamentos foi disponibilizada em primeira mão para estes países, mas não está claro se o sistema atendeu a essas demandas.
O site, que agora está disponível para o público, é semelhante ao usado em outras edições de COPs. Na tarde desta sexta, havia cerca de 850 de anúncios, mas todos com valores muito acima dos US$ 70.
Neste primeiro dia, quem visita o site precisa esperar numa fila para fazer sua busca, dado o volume de acessos. Uma mensagem afirma que as acomodações em Belém têm características “distintas” e que muitas das opções são de aluguéis temporários de residências.
Os países que ainda não garantiram hospedagem para seus negociadores afirmam que a legitimidade da COP estaria ameaçada caso haja ausências motivadas por questões de custo.
“Temos que lembrar, quando a gente olha para as Nações Unidas, que dos 198 países [membros], mais de dois terços são consideravelmente mais pobres que o Brasil”, afirmou Corrêa do Lago.
A preocupação não está restrita à vinda dos negociadores. Observadores, organizações não-governamentais e representantes do setor privado também relatam a mesma dificuldade.
Há poucas vagas disponíveis nos hotéis da capital paraense, e em sites de aluguel temporário como Airbnb e Booking.com ainda se encontram anúncios pedindo centenas de milhares de reais para ocupar um apartamento pelos 12 dias que dura o evento.
