FINANÇAS

Sai ESG, entra IA: sustentabilidade perde a liderança nas ‘calls’ de bancos europeus

Menções de executivos à sigla deixaram o topo do ranking pela primeira vez em seis anos

Sai ESG, entra IA: sustentabilidade perde a liderança nas ‘calls’ de bancos europeus

A sigla ESG perdeu a liderança e deu lugar à IA nas últimas “calls” de resultados financeiros dos bancos europeus.

Um levantamento da Bloomberg News mostra que pela primeira vez em seis anos as menções dos executivos à sustentabilidade não ficaram em primeiro lugar.

Foram analisadas as teleconferências de 2024. As ocorrências do termo ESG caíram de 51 para 17 na comparação com 2023, enquanto as de IA subiram de 22 para 46.

Em 2021 e 2022, a sigla que indica aspectos de meio ambiente, social e governança chegou a ter mais de 90 citações anuais.

A análise utilizou a transcrição das conferências de bancos que compõem o índice europeu STOXX 600, incluindo HSBC, Santander e BNP Paribas.

A Bloomberg costuma fazer levantamentos do tipo para encontrar palavras e expressões em alta como uma espécie de termômetro das preocupações das companhias. A agência de notícias vasculha comentários de executivos sobre resultados, fatos relevantes e outros documentos. 

Essa queda nas menções coincide com o crescimento do movimento de contestação das práticas climáticas e de sustentabilidade, principalmente nos Estados Unidos, onde o movimento vem ganhando força desde a eleição de Donald Trump. O republicano diz que a mudança do clima é “uma farsa” e vem desmontando uma série de iniciativas verdes implementadas na gestão de seu antecessor, Joe Biden.

Bancos americanos como Morgan Stanley, Citi e Bank of America saíram recentemente da Net Zero Banking Alliance, iniciativa voluntária que reúne instituições financeiras comprometidas em ajustar políticas a favor da economia de baixo carbono. Na sequência, bancos do Canadá, altamente expostos à economia americana, fizeram o mesmo.

Os bancos europeus seguem na aliança, mas reportagem do jornal Financial Times mostra que eles têm reavaliado a posição após a debandada. 

Bancos sob regulação europeia

Independentemente da queda de citações à sigla ESG, bancos europeus estão sob regras ambientais duras. 

A União Europeia tem a meta de reduzir as emissões de gases em 55% até 2030 e impõe regras de transparência mais duras para o setor financeiro a partir de 2026.

A Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em inglês) determinou que os bancos deverão medir e divulgar seus riscos ESG para prevenir ameaças à estabilidade financeira.

Os bancos devem empregar cenários para identificar riscos de investimentos individuais, em nível de portfólio e em todos os setores industriais.

Será necessário, por exemplo, estimar a reserva de capital necessária para absorver perdas e estar preparados para riscos de litígios relacionados ao meio ambiente.

As diretrizes fazem parte de um complexo sistema de regulação ambiental em vigor na UE, cujo braço responsável pelo setor bancário é a Diretiva de Requisitos de Capital (CRD6).

Apesar de a atividade bancária ter baixas emissões diretamente associadas, o setor foi “convocado” a facilitar a transição energética porque gerencia recursos e financia projetos e empresas.

O pacote alivia a abrangência da Diretriz de Due Diligence de Sustentabilidade Corporativa (CSDDD) e da Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD).

Alívio para outros setores


Ao mesmo tempo em que há um aperto sobre os banco, empresas de outros setores da Europa deverão ter algum alívio nas exigências.

A Comissão Europeia, órgão executivo do bloco, apresentou em fevereiro um pacote de medidas para simplificar suas regulações, batizado de omnibus. 

Apesar de elogiados do setor produtivo, a federação de bancos europeus EBF critica o afrouxamento, que poderia atrapalhar a análise de riscos de crédito dos clientes.

O objetivo do projeto é reduzir a complexidade das exigências da UE para todas as empresas, principalmente pequenas e médias.

Críticos à regulação apontam que as legislações que formam o chamado Green Deal europeu contêm sobreposições e são complexas demais. Movimentos ambientais, porém, afirmam que o pacote é um recuo.

Os custos de cumprir com todas as exigências regulatórias da UE são estimados em € 150 bilhões por ano. O objetivo da Comissão é cortar esse total em € 37,5 bilhões até 2029

A imagem foi gerada por inteligência artificial.