Na SLC, a regeneração também traz produtividade 

Gigante do agro começa a colher resultados das técnicas de agricultura regenerativa e tem planos agressivos de expansão

SLC colheita de algodão. Crédito: divulgação
A A
A A

Um dos setores líderes em emissão de gases de efeito estufa do Brasil, o agronegócio tem buscado práticas mais sustentáveis de manejo da plantação. Não só por pressão de regulação e de consumidores, mas sobretudo porque os efeitos das mudanças climáticas têm acertado em cheio sua produtividade. 

Há dúvidas, porém, sobre a sustentabilidade econômica da transição de um manejo intensivo para um modelo sustentável. Na SLC Agrícola, essa conta começa a dar sinais que fecha para o cultivo em larga escala – o faturamento da empresa foi de R$ 7,2 bilhões em 2023. 

A companhia não divulga todos os números, mas o quadro está desenhado: a produtividade aumentou e o uso de insumos químicos caiu (gerando uma economia) nas áreas em que aplica alguma das práticas de agricultura regenerativa. 

“Coincidência ou não, foram as fazendas que tivemos as maiores produtividade de soja e algodão”, diz Leonardo Celini, diretor operacional da SLC. 

As propriedades em questão são a Pamplona, em Goiás, e a Planalto, no Mato Grosso do Sul. Ambas estão entre as mais antigas da empresa, que começou a operar em 1980, e foram as escolhidas para os testes com oito práticas regenerativas. 

Nessas localidades, a empresa registrou uma colheita de entre 25 a 30 sacas a mais de soja por hectare, em comparação com as outras fazendas. Na colheita do algodão, foram entre 15 e 20 arrobas a mais por hectare. 

Outros fatores também contribuíram para o resultado. “São fazendas supermaduras, com alta fertilidade e a conjuntura de climática não foi tão desfavorável como em outras regiões, como Mato Grosso e Bahia”, explica Celini. 

Expansão

A SLC administra atualmente 675 mil hectares plantados em 22 propriedades distribuídas por sete Estados brasileiros, abrangendo diversos biomas. Isso a torna um dos maiores grupos agrícolas do mundo, com cultivo de soja, milho e algodão. 

Diante do tamanho do negócio, os resultados do experimento ainda não são representativos. As fazendas Pamplona e Planalto somam 36 mil hectares, ou cerca de 5% de toda a área plantada da companhia.

Mas eles foram considerados bons o suficiente para a SLC expandir o programa.

Os acionistas observam a movimentação de perto. Alguns são mais críticos e outros, mais construtivos na questão dos impactos ambientais da companhia.

Neste ano, a meta é expandir as práticas regenerativas para outras quatro propriedades (fazendas Pantanal, Planorte, Palmares e Planeste), uma área de 190 mil hectares, equivalente a 15% da área plantada. Até 2028, o objetivo é chegar em 485 mil hectares (70% do total). 

“É um desafio enorme, pois estamos falando de escala”, afirma o diretor operacional. Segundo ele, o investimento que a companhia está fazendo é grande, mas Celini não revela números. 

“Precisamos encontrar meios de produzir com resiliência no sistema de produção. No último ano, a gente sofreu com inundações no Sul e neste momento a situação de seca, um clima que está em mudança”, afirma ele.

Receituário

Não existe ainda uma taxonomia única para definir o que é agricultura regenerativa, mas produtores e pesquisadores concordam que o termo se refere a um conjunto de práticas de manejo que regeneram o solo – daí o nome.

As técnicas específicas empregadas – e o número delas – variam a depender do interlocutor. 

A SLC classifica oito práticas como regenerativas em sua produção: aplicação localizada de defensivos, plantas de cobertura, plantio direto, defensivos biológicos, rotação de culturas, gestão integrada de pragas e doenças, integração lavoura-pecuária (ILP) e economia circular. 

O plantio direto, bastante difundido em climas tropicais, é a mais usada, cobrindo 95% da área plantada da SLC. O plantio de cobertura está presente em cerca de 200 mil hectares. 

A aplicação localizada de defensivos químicos também entra na lista da SLC, mas há quem discorde. “A gente entende que ela está alinhada com os seus princípios básicos, que é reduzir o defensivo sintético”, diz Celini.

Ele usa o termo “agricultura digital” para se referir ao uso de georreferenciamento e maquinários inteligentes, controlados por software, que aplicam os produtos com extrema precisão. 

No mínimo essa prática evita desperdício. Com a aplicação “cirúrgica”, a SLC economizou R$ 35 milhões na safra 2021/22, R$ 82 milhões na seguinte e cerca de R$ 100 milhões na mais recente (2023/24). 

O relatório integrado de 2023 da SLC informa que a adoção de tecnologias de aplicação localizada gerou uma redução de 70% do volume de defensivos usados, com apoio de sensores de identificação de plantas, em uma área de cerca de 200 mil hectares, equivalente a 30% da área cultivada.

“Acreditamos que a SLC vem colhendo os frutos de sua estratégia bem-sucedida”, escreveram analistas do Citi em relatório recente. Entre as estratégias, citam a de ser uma empresa “asset-light” e de usar tecnologia aliada a decisões orientadas por ESG. 

“A empresa vem investindo pesadamente em tecnologia, um propulsor fundamental do crescimento da produtividade, juntamente com decisões estratégicas guiadas por princípios ESG – por exemplo, o aumento de materiais biológicos produzidos on farm e sensoriamento remoto usando drones”, avaliam os analistas.

A companhia também tem usado defensivos biológicos, em conjunto com os tradicionais. Segundo Celini, eles já respondem por 15% do consumo da companhia. 

Na safra de 2022/23 eles foram aplicados em 2,1 milhões de hectares, equivalente a três aplicações no total de área cultivada. Na última safra, a meta era subir para 3,5 milhões de hectares, um incremento de 62%. 

Hoje, a SLC tem 15 biofábricas, como são chamadas as unidades em que os componentes são misturados. Mas a companhia não é autossuficiente, então casa essa produção “on farm” com insumos preparados por fornecedores. 

A companhia produz defensivos biológicos com duas parceiras, a TopBio e a Solubio. O contrato com essa última acabou e está em processo de análise de renovação da parceria.

Certificação

A virada de chave da SLC aconteceu em 2021, quando adotou uma política de desmatamento zero. Desde então, a gigante do agro não abre mais áreas de plantação em matas virgens e, para expandir a plantação, busca pastagens convertidas. 

Segundo Celini, por conta disso, a empresa está em conformidade com a lei antidesmatamento da Europa, que entra em vigor em 2025. 

Foi também em 2021 que a companhia começou a olhar para a agricultura regenerativa, segundo o diretor operacional. Antes da SLC, Celini teve uma passagem por um grupo concorrente, o Scheffer, que olhava para o assunto desde 2018. 

A empresa, então, buscou um selo para validar suas práticas. No ano passado, as fazendas Pamplona e Planalto receberam a certificação Regenagri, concedida pela Control Union, empresa inglesa que faz inspeção da cadeia de suprimentos de commodities. 

A avaliação in loco da certificadora avalia métricas de gestão do solo, gerenciamento da energia e água, otimização de insumos, introdução de soluções biológicas e orgânicas. 

Também buscou a chancela do CDP, uma organização global sem fins lucrativos que gere a principal plataforma de divulgações ambientais e climáticas das empresas.

Na categoria de mudanças climáticas, a companhia avançou da nota ‘D’, em 2021, para ‘A-’ em 2023. Na categoria florestas a nota é B, mesma nota da categoria segurança hídrica.