Custo de oportunidade é um conceito que analisa o valor daquilo que deixamos de lado quando precisamos fazer uma escolha.
Ao longo do tempo, as florestas perderam significativas partes de seu território por conta dos diversos tipos de atividades humanas. Hoje, diante das mudanças climáticas e dos impactos da perda da biodiversidade, repensar o valor das florestas tornou-se urgente.
Numa reviravolta sem precedentes, os esforços para conter o aquecimento global estão criando, dentro das florestas, a maior oportunidade econômica dos nossos tempos e quem demorar a compreender esse novo rumo terá que arcar com um alto custo de oportunidade — que, antes de tudo, recai sobre a nossa própria existência.
Ainda na década de 40, a Votorantim decidiu manter amplos territórios de mata nativa, em um primeiro momento, com o intuito de proteger as nascentes e os recursos hídricos para suas operações.
Em 2012, decidiu estudar e entender o valor da biodiversidade desses territórios, para provar que a manutenção da floresta em pé, além de ser boa para o planeta, também poderia ser uma oportunidade de gerar negócios sustentáveis e multiplicar o impacto social, econômico e ambiental.
Mais de 60 anos depois, esse modelo de atuação começa a ficar mais evidente e a ganhar espaço na chamada economia verde.
Um estudo da McKinsey estima que os esforços para segurar o aumento da temperatura do planeta a 1,5ºC até 2050 exigirão um investimento anual de US$ 3 trilhões a 5 trilhões até 2030, o que, segundo a consultoria, seria a maior alocação de capital da história.
Só no Brasil, a estimativa é que o mercado da economia do clima seja de US$ 125 bilhões.
Os valores são impressionantes, mas é preciso considerar que não conhecemos todos os tesouros das florestas.
Segundo pesquisa publicada na revista científica Nature Ecology and Evolution, o Brasil é o país com o maior número de espécies de animais vertebrados terrestres desconhecidas pela ciência.
Já um estudo da Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) indica que há mais de 9 mil espécies de árvores ainda não conhecidas no mundo, a maior parte delas na América do Sul.
Do ponto de vista dos negócios, esses números significam uma infinidade de substâncias naturais que aguardam para serem descobertas e utilizadas na produção de medicamentos, cosméticos, aromas, alimentos e tantos outros produtos possíveis.
Foi assim com os remédios e outros produtos que utilizamos em nosso dia a dia, e deve seguir dessa forma daqui pra frente, com o entendimento do potencial de negócios da biodiversidade.
Todos os biomas brasileiros guardam em si potenciais imensuráveis, apenas aguardando serem descobertos com investimentos em pesquisa.
Bioprospecção, reflorestamento, conservação, mercado de carbono, pagamento por serviços ambientais, uso público e a conexão com as comunidades — tudo isso cabe dentro de uma floresta em pé, conservada e respeitada. Quantos outros ativos permitem usos tão diversos sob a ética climática?
Argumentos e números não faltam para provar a rentabilidade de conservar as florestas – estejam elas no bioma em que estiverem. E além deles, há outro custo de oportunidade associado a esse potencial: o reputacional.
O tempo do desenvolvimento versus natureza já passou, e não ter ações bem definidas aliadas à proteção da biodiversidade pode ser um impeditivo de progresso. Na era da economia verde, quanto maior a demora para investir nas florestas, mais cara será a conta.
*David Canassa é diretor da Reservas Votorantim, empresa da Votorantim, especializada em gestão de territórios e soluções baseadas na natureza para negócios tradicionais e da nova economia