Hora da verdade para dívida com metas sustentáveis

Depois de uma retração de quase 20% em 2022, o mercado de dívidas sustentáveis deve voltar a crescer este ano, segundo a S&P. Mas os SLBs devem passar por mais escrutínio

Greenwashing
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Depois de uma retração de quase 20% no ano passado causada pelas incertezas sobre a economia global e a guerra na Ucrânia, o mercado de dívidas sustentáveis deve voltar a crescer este ano, segundo previsão da S&P Global Ratings.

Mas o avanço não será uniforme entre os vários tipos de títulos que se enquadram nessa categoria. 

Os emissores de sustainability-linked bonds (SLBs) “terão de encontrar maneiras de responder aos questionamentos [dos investidores] a respeito da credibilidade, das ambições e dos incentivos para atingir os objetivos” da emissão, diz a agência em relatório.

Empresas que vendem SLBs se comprometem com metas ambientais ou sociais dentro de um determinado período, em troca de abatimento nos juros pagos caso elas sejam alcançadas (ou aumento, em caso de não-cumprimento).

O dinheiro obtido não tem destino carimbado — diferentemente dos green bonds, usados para financiar um projeto específico, como aumento da eficiência energética ou medidas de controle de poluição.

Essa flexibilidade atraiu muitas companhias: nos últimos dois anos, o volume de recursos nessa modalidade aumentou sete vezes, chegando a US$ 70 bilhões no ano passado.

Globalmente, os SLBS respondem por cerca de 8% do mercado de títulos sustentáveis, e no Brasil a participação desse instrumento foi muito maior quando se considera o volume de recursos: 47%, segundo levantamento da consultoria Nint.

Mas os SLBs não devem acompanhar o crescimento esperado para os outros títulos sustentáveis este ano, de acordo com o levantamento. “Investidores e responsáveis por políticas públicas estão examinando mais de perto a credibilidade desses ativos — ou seja, se os SLBs podem de fato ajudar as empresas a atingir seus objetivos”.

A S&P estima que as emissões mundiais de títulos verdes ficarão entre US$ 900 bilhões e US$ 1 trilhão este ano, ligeiramente abaixo do recorde estabelecido em 2021, de US$ 1,06 tri.

Como o mercado global de dívidas deve se manter estável, a agência calcula que a participação dos ativos sustentáveis pode atingir de 14% a 16% do total. No ano passado, eles responderam por 13%.

Parte do incentivo para a dívida sustentável pode vir de novas regulamentações ligadas à emergência climática, como a proibição da venda de novos carros com motor a combustão na União Europeia a partir de 2035.

A Lei de Redução de Inflação, nome oficial do pacote ambiental de Joe Biden, também deve ajudar, especialmente em projetos de energia limpa, diz a S&P.

Os green bonds, mais antiga forma de dívida sustentável, continuarão sendo a modalidade predominante ­— eles responderam por 55% do bolo no ano passado.

Empresas de todos os setores “devem buscar financiamento para projetos que as adequem às metas de emissões dos países e seus próprios compromissos net zero”, afirma a agência.

Já os títulos sociais, que tiveram alta expressiva em 2020 e 2021 por causa da pandemia, devem continuar a trajetória de queda.