Lula privée
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, já está em Sharm el-Sheikh, numa residência oferecida pela presidência egípcia. Nesta terça-feira, Lula tem marcados encontros privados com o americano John Kerry, enviado especial do clima do governo americano, e representantes chineses, alemães e noruegueses (estes dois últimos contribuem com recursos para o Fundo Amazônia).
Amanhã e quinta Lula tem compromissos no Centro de Convenções Tonino Lamborghini, quando deve fazer um pronunciamento. Quem visitou hoje a COP foi a futura primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja.
O candidato derrotado ao governo de São Paulo Fernando Haddad também viajou com Lula, mas não se sabe quando ele vai aparecer na COP27.
De olho no termômetro – 1
Na reta final da COP27, as atenções devem se concentrar em dois pontos principais. O primeiro é o andamento das negociações sobre perdas e danos, sobre o qual as expectativas de avanço real são moderadas, na mais otimista das avaliações.
Outro foco, talvez mais importante, é na manutenção da meta de limitar a 1,5°C o aumento da temperatura global no final deste século, em comparação com os níveis pré-industriais.
China e Índia querem retirar as menções a esse alvo, com o argumento de que não conseguem fazer a transição para fontes limpas de energia sem comprometer seu crescimento econômico.
Esse número já estaria praticamente fora do alcance – já estamos em mais de 1,1°C, caminhando rápido para 1,2°C – e existe pressão para que os documentos agora sejam mais “realistas”.
De olho no termômetro – 2
Mas abrir mão dessa ambição seria catastrófico, diz Alok Sharma, que presidiu a COP26 e costurou o documento que manteve vivo o 1,5°C.
“Cada fração de grau absolutamente faz diferença. É a diferença entre uma existência tolerável e um futuro impossível.”
No fim da noite de segunda-feira, circulou uma versão inicial do “texto de capa”, a declaração que resume o consenso político e as bases para as negociações climáticas futuras.
O rascunho inclui uma menção à meta. Ed King, que analisa o andamento da diplomacia da COP27 para o site Climate Change News, diz que por enquanto temos apenas “os ingredientes, mas não a receita”. “Acrescente quase 200 cozinheiros e é difícil saber se teremos um belo koshari egípcio ou o que chamam de massa italiana no meu hotel.”
Pilha de demandas
Num Brazil Climate Action Hub em que mal havia onde pisar de tão lotado, entidades que representam a sociedade civil brasileira entregaram no fim da tarde de segunda-feira uma longa lista de demandas climáticas a políticos próximos do governo eleito
No palco, empilhando os relatórios no colo, estavam o senador Randolfe Rodrigues, a deputada federal eleita e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, a também ex-ministra do MMA Izabella Teixeira, os deputados federais Alessandro Molon e Joemia Wapichana e o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande.
Eles receberam propostas como a da Concertação pela Amazônia, que elaborou uma lista de medidas emergenciais para os cem primeiros dias da nova administração federal, do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que defende medidas como a regulação dos mercados de carbono, e do Instituto Talanoa, que pede a revogação imediata de mais de 400 normas relativas ao meio ambiente.
Fake news climáticas – 1
Uma pesquisa tentou medir a extensão dos danos causados por informações mentirosas ou enganosas na percepção da crise climática global.
Entre 6% e 23% da população de seis países incluídos no levantamento (Alemanha, Austrália, Brasil, Estados Unidos, Índia e Reino Unido) não acreditam ou estão incertos a respeito da existência de uma mudança no clima.
Na média, um quinto dos entrevistados acreditam que o aquecimento global é um fenômeno natural e não pode ser atribuído à atividade humana. Na Austrália e nos EUA, um terço das pessoas concordam com essa afirmação, que contradiz as pesquisas científicas.
A pesquisa foi encomendada pelas entidades Climate Action Against Disinformation e Conscious Advertising Network e divulgada nesta terça-feira durante a COP27.
Fake news climáticas – 2
Um manifesto assinado por mais de 500 ativistas, marcas e agências de publicidade alertam para o perigo de campanhas de desinformação a respeito da emergência do clima.
De forma indireta, o texto aponta o dedo acusador para as petroleiras. “Divulgam falsamente esforços que apoiariam os objetivos climáticos, mas que na verdade contribuem com o aquecimento global ou contradizem o consenso científico sobre mitigação ou adaptação.”
Quem é mencionado pelo nome são os CEOs de empresas de tecnologia (Facebook, Instagram, Google e TikTok, entre outras). Eles devem “aceitar a definição universal de desinformação/informações enganosas sobre o clima e produzir e divulgar planos transparentes para eliminar” fake news em suas plataformas.
* O jornalista viaja a convite da International Chamber of Commerce