Diário da COP: A agenda de Lula (e os preparativos para ela)

Mais: o risco de abandono da meta de 1,5ºC e suspeitas de espionagem

A eleição de Lula chega carregada de expectativas de guinada na política ambiental do Brasil.
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A agenda de Lula

Circulou domingo à noite a agenda de compromissos oficiais do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, na conferência do clima.

Na quarta-feira (16), Lula aparece pela manhã no estande montado pelos governos dos Estados da Amazônia. No fim da tarde seu site fala em um “pronunciamento”, mas existe a possibilidade que se trate de uma entrevista coletiva.

Na quinta pela manhã (17) ele tem passagem marcada pelo Brasil Climate Action Hub, o espaço da sociedade civil na COP, e à tarde participa do Fórum Internacional dos Povos Indígenas/Fórum dos Povos sobre Mudança Climática.

Preparando o terreno

Mais pessoas ligadas ao futuro governo estão chegando a Sharm el-Sheikh e preparando o terreno para a vinda de Lula. Além da Marina Silva, são esperados o senadores Randolfe Rodrigues e o ex-chanceler Celso Amorim. Simone Tebet, que havia sido anunciada, não veio ao Egito.

Os três, mais a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, participam de um painel em que representantes da sociedade apresentarão suas demandas relacionadas ao clima e, ao final, terão a oportunidade de responder.

O evento acontece às 11h30 (horário de Brasília) e será transmitido ao vivo.

1,5°C em risco?

Simon Stiell, a maior autoridade climática da ONU, fez uma advertência ameaçadora para os negociadores em Sharm el-Sheikh: na reta final da COP27, há muitas questões em aberto. Em linguagem não-diplomática, existe o risco real de fracasso.

Stiell sugeriu que alguns países estão tentando criar impasses, o que na prática representaria perigo para a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C.

O temor é que a distância entre os países ricos e o mundo em desenvolvimento se traduza em um documento final que não mencione esse número-chave.

Um dos principais resultados da COP26, no ano passado, foi “manter vivo” o alvo de 1,5 grau.

“Estou preocupada porque parece haver algum tipo de tentativa de dizer que talvez 1,5°C não seja mais alcançável”, disse a ex-presidente da Irlanda Mary Robinson ao jornal Irish Times.

Sob pressão

Dado o abismo que separa as posições divergentes, cabe à presidência da COP, este ano a cargo dos egípcios, costurar algum tipo de consenso possível.

Além das decisões sobre temas específicos, um dos principais termômetros da conferência é o chamado texto-capa, que resume os avanços políticos obtidos ao longo das duas semanas.

Esse documento define uma visão mais ampla sobre o estado da luta contra a mudança do clima. Foi nele – o Pacto Climático de Glasgow – que a presidência britânica conseguiu manter viva a ambição do 1,5°C na COP26.

Até a manhã de segunda-feira, não havia sido divulgada uma primeira versão do texto. Segundo os especialistas, o processo deveria estar mais  adiantado se os anfitriões quiserem colocar no papel ambição declarada de entregar uma “COP africana”.

Arapongagem egípcia

O governo da Alemanha fez uma queixa formal ao governo egípcio afirmando que seu estande na COP vem sendo vigiado por forças de seguranças do país anfitrião.

Os arapongas locais estariam observando e filmando eventos sobre direitos humanos realizados no espaço alemão.

“Esperamos que todos os participantes da conferência possam trabalhar e negociar em condições seguras”, disse um comunicado do Ministério do Exterior da Alemanha.

Na primeira semana, americanos e britânicos afirmaram que bastava mencionar a palavra “ativismo” para que funcionários da limpeza se aproximassem das rodinhas

*O jornalista está acompanhando a Conferência do Clima de Sharm el-Sheikh a convite da International Chamber of Commerce