O Japão voltará a ser movido por energia nuclear uma década após o desastre de Fukushima, em 2011. A decisão foi anunciada pelo primeiro-ministro do país, Fumio Kishida, após reunião com um conselho de transição energética.
Na reunião ficou estabelecido que o Japão vai reativar 17 usinas nucleares ociosas até meados de 2023, além de elaborar, ainda em 2022, um plano de investimento para a construção de plantas de nova geração para a produção de energia atômica.
A guinada acontece por conta da invasão russa da Ucrânia e o aumento global nos preços de energia e de combustíveis. Depois da tragédia de 2011, o país asiático desativou gradualmente as usinas nucleares e as substituiu por termelétricas abastecidas por combustíveis fósseis importados — 9% do gás consumido no Japão vem da Rússia.
A crise energética instalada pela guerra no Leste Europeu foi especialmente agravada na Ásia por uma onda de calor atípica, provocada pelas mudanças climáticas. O aumento do uso de aparelhos de ar-condicionado colocou a região metropolitana de Tóquio sob risco de blecaute entre maio e junho.
Com 80% do seu consumo energético dependente de importações, o retorno à energia nuclear tornou-se também uma estratégia do governo japonês para descarbonizar sua economia até 2050.
A política de independência energética do Japão estava paralisada desde que um terremoto seguido por um tsunami causaram o derretimento de reatores da Central Nuclear de Fukushima, 260 quilômetros ao norte de Tóquio.
Zero carbono
O uso civil da energia nuclear no Japão, único país alvejado por bombas atômicas, foi aceito pela sociedade japonesa durante décadas. Mas incidentes menores e escândalos de acobertamento minaram a confiança na tecnologia.
Depois de Fukushima, as seis usinas que seguiam em operação no país foram fechadas.
A importância da tecnologia no combate à mudança climática é um tema controverso. Usinas atômicas não emitem CO2 na atmosfera e são capazes de produzir eletricidade de forma ininterrupta, ao contrário das duas principais opções renováveis, solar e eólica.
Os defensores da energia nuclear também apontam o histórico de segurança comprovado, apesar do destaque dado aos incidentes.
Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica, um órgão ligado à ONU, 24,6 mortes são registradas para cada TWh gerado pela queima de carvão. O número inclui acidentes e mortes associadas a doenças causadas pela poluição do ar, entre outros.
No caso da energia nuclear, o número é 0,03. Somente uma morte foi diretamente atribuída ao vazamento de radiação da central nuclear de Fukushima. A maioria das 3.691 mortes na tragédia foi causada durante a evacuação das áreas atingidas pelo tsunami.
O aumento dos custos de combustíveis e energia vem colocando as usinas nucleares em evidência como uma alternativa limpa de produção energética. Em julho, o Parlamento Europeu aprovou que certos projetos de gás natural e energia nuclear possam receber o selo de investimento sustentável.
Porém a decisão foi cercada de controvérsia, e países como Áustria e Luxemburgo prometeram fazer uma contestação na Justiça.
Mesmo diante de uma ameaça de desabastecimento, a Alemanha, país europeu mais afetado pela instabilidade no fornecimento de gás natural da Rússia, descartou dar sobrevida às suas últimas três usinas nucleares em operação.
O país é um dos berços do movimento antinuclear. Segundo os ativistas, além da insuficiência das garantias de segurança na operação dos reatores, existem riscos associados aos rejeitos.
Foto: Lukáš Lehotský, via Unsplash