O Brasil é hoje o país com o maior número de livros infantis em português selecionados para educar e ajudar crianças de 6 a 12 anos a entender e a interagir com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas.
São 176 obras selecionadas e reunidas em um catálogo, fruto da parceria entre o Leiturinha (clube de leitura para crianças), o Brazilian Publishers (projeto de fomento às exportações do conteúdo editorial brasileiro), a International Publishers Association (IPA), a Câmara Brasileira do Livro (CBL), a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e a Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições (Febab).
Lançado no final de 2021 e disponível na internet, o Clube de Leitura ODS do Brasil faz parte do projeto SDG Book Club, lançado pela ONU na Feira de Livros Infantis de Bolonha, na Itália, em 2019, a maior e mais conhecida do setor.
Na época, foram lançadas listas de livros nas seis línguas oficiais da instituição: árabe, chinês, inglês, francês, russo e espanhol. Desde então, cabe à IPA incentivar o desenvolvimento dos clubes em cada país.
No Brasil, as editoras tiveram a responsabilidade de inscrever os livros, e a seleção foi feita pela FNLIJ a partir de uma base de mais de mil obras. Os 176 escolhidos estão organizados por ODS e são uma importante ferramenta de trabalho para escolas, bibliotecas, educadores e pais.
O processo de atualização da lista ainda está em discussão pelos envolvidos.
Nos catálogos
A FNLIJ, responsável pelo primeiro catálogo brasileiro, esclarece em seu site que a lista também tem obras não-literárias, desde que próximas de um ou mais objetivos definidos pela ONU.
“A correlação estabelecida entre as obras e os ODS é apenas o reconhecimento de que os textos para crianças e jovens – literários ou não – podem oferecer caminhos para debates necessários à formação das crianças e dos adolescentes como cidadãos do mundo, habitantes do planeta”, ressalta a instituição.
Sagatrissuinorana, por exemplo, de João Guimarães e Nelson Cruz (Ozé Editora), que recebeu o Prêmio Jabuti de livro do ano e melhor livro infanto-juvenil em 2021, recomendado por esta coluna em janeiro, está na lista do Clube do Livro ODS associado ao objetivo #12, Consumo e Produção Responsáveis.
Dragão do Mar, de Sonia Rosa e Anabella Lopez (Pallas Editora), indicado por esta coluna em novembro de 2021, ajuda a entender o objetivo #16, Paz, Justiça e Instituições Eficazes.
Fernanda Dantas, gerente de relações internacionais da CBL, explica que os livros que compõem o catálogo não precisam ser literais na sua correlação com os objetivos da ONU, muito menos doutrinar os leitores. “O importante é que sejam lúdicos e que contemplem nossa diversidade, temas comportamentais e de meio ambiente, por exemplo.”
Na lista inicial da ONU, estão histórias conhecidas como as da menina Malala – defensora da educação para meninas no Paquistão e a mais jovem vencedora do Prêmio Nobel da Paz – e da militante Greta Thunberg, por meio de um livro com 11 de seus discursos sobre aquecimento global e crise climática.
Essa versão de Malala não está disponível em português, mas temos aqui o excelente Malala, A Menina que queria ir para a Escola, de Adriana Carranca e Bruna Assis Brasil, publicado pela Companhia das Letrinhas.
Para apresentar Greta aos pequenos, encontramos em português, no Brasil, Ninguém é Pequeno Demais para Fazer a Diferença – O Chamado de Greta Thunberg para Salvar o Planeta, escrito e ilustrado por Jeanette Winter, pela Companhia das Letras.
(Atenção: há outro livro com o mesmo título em português. Trata-se de uma biografia não-oficial, publicada por Valentina Camerini, pela Editora Sextante: A História de Greta – Ninguém é Pequeno Demais para Fazer a Diferença. São conteúdos diferentes.)
Sugiro também Greta e os Gigantes, de Zoë Tucker e Zoe Persico, da Carochinha Editora. Lançado originalmente pelo selo europeu Frances Lincoln Children’s Book, da editora britânica Quarto, a obra foi publicada aqui em 2020 em parceria com o Greenpeace Brasil, e cada exemplar vendido teve sua renda doada à organização, em prol do ativismo ambiental. Hoje não há qualquer menção ao livro no site.
Voltando à lista da ONU há ainda um livro do monge budista Thich Nhat Hahn, do Vietnã, ativista pela paz e pelos direitos humanos. E ainda uma versão infantil da biografia de Muhammad Yunus, criador do microcrédito e fundador do Banco do Povo, para dar alguns exemplos.
Clique aqui para conhecer o catálogo completo.
O presidente da IPA, Michiel Kolman, participou de diversos painéis na feira de Bolonha deste ano e vê a iniciativa de forma pragmática: “Não é preciso complicar as coisas, nem são necessários dados econômicos. Precisamos ajudar as crianças a associar suas experiências cotidianas aos Objetivos de Desenvolvimento.”