Unicoba cresce levando luz a comunidades isoladas

Fundada há 50 anos, fabricante de baterias cresce 30% ao ano viabilizando a substituição de geradores a óleo diesel por energia renovável

Unicoba cresce levando luz a comunidades isoladas
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Em junho do ano passado, a instalação de 132 painéis solares ligados a 54 baterias de lítio transformou a vida dos 130 habitantes da pequena comunidade de Santa Helena do Inglês, às margens do Rio Negro, distante cerca de 60 quilômetros de Manaus. 

Na mercearia do ribeirinho Pedro Vidal de Mendonça, os peixes que ele mesmo pesca e antes estragavam em horas, agora ocupam um freezer e são vendidos ao longo de todo o ano. 

A comunidade já contava com eletricidade, instalada em 2012 pelo programa Luz para Todos, do governo federal. 

Mas os geradores, além de movidos a óleo diesel – caro e muito  poluente – ofereciam um sistema extremamente instável.  Bastava chover forte ou cair uma árvore, e os moradores ficavam até 12 horas sem energia. 

As baterias que atendem Santa Helena do Inglês são fabricadas pela Unicoba, uma empresa brasileira com cinco décadas de atuação, e que recentemente vem enxergando na iluminação dos sistemas isolados – como é o caso da comunidade – um filão relevante de crescimento. 

Cerca de 3 milhões de brasileiros vivem nesses sistemas que não estão ligados ao grid nacional, a maior parte na região amazônica, de onde, ironicamente, vem boa parte de energia que abastece o país. Outros 425 mil de brasileiros não têm acesso à energia elétrica. 

As baterias de lítio, ferro e fosfato ainda correspondem a 30% da receita da Unipower, o negócio de baterias da companhia. Os outros 70% são baterias portáteis para as mais diversas aplicações, desde celulares até todas as urnas eletrônicas usadas para as recentes eleições no país. 

Mas o segmento das chamadas baterias estacionárias (não portáteis) vem avançando a taxas de startup e hoje responde pela maior parte do crescimento da empresa.

O avanço no faturamento é de 30% ao ano desde que um investimento maior nesta área começou, em 2019, com a chegada das gestoras de private equity GEF e Confrapar. 

E a previsão é de que a receita dos sistemas de armazenamento de energia atinja, em 2023, 50% da receita total da empresa. A previsão é fechar este ano com faturamento de R$ 800 milhões. 

“Em 2019 o faturamento era de cerca de R$ 400 milhões e a projeção para 2023 é ele passar de R$ 1 bilhão”, afirma George Fernandes, que assumiu em outubro o cargo de CEO do setor de baterias da empresa. 

O sistema entregue como solução pela Unicoba alia placas solares a baterias de lítio estacionárias com inteligência não apenas para armazenar a energia coletada durante as horas de sol para terem eletricidade também à noite, como para controlar e calcular por quanto tempo ela vai durar, a fim de usá-la de maneira otimizada para que não falte. 

Quase sempre atuando junto às distribuidoras de energia da região Norte — Equatorial, Energisa, Amazonas Energia e Roraima Energia —, a empresa já instalou sistemas em cerca de 5 mil unidades consumidoras. 

E tem mais 15 mil em processo de implantação. Atualmente a empresa está trabalhando na calha do Rio Purus, no Sudoeste do Amazonas, próximo à fronteira com Rondônia e Acre. São 3,8 mil quilômetros e mais de 4 mil famílias ribeirinhas atendidas. 

A universalização do sistema de energia é uma obrigação regulatória das distribuidoras que atuam na região.

“O Brasil tem aproximadamente 80% da sua matriz energética gerada por fontes renováveis, o que é motivo de orgulho. Mas o armazenamento desta energia é quase inexistente, um mercado potencial imenso”, explica Marcelo Rodrigues, VP de Inovação e Negócios da unidade de negócios de baterias da Unicoba. 

“Não tenho dúvidas de que o sistema de armazenamento de bateria está para o sistema de energia como o celular esteve um dia para a telecom. Ele vai mudar esta indústria, porque é transformador.”

Divisão dos negócios

A Unicoba nasceu em 1973, fundada pelo imigrante coreano Young Moo Park, como empresa de baterias. 

No início, trabalhava exclusivamente com importação, depois passou a produzi-las no Brasil, hoje com fábricas em Manaus (AM) e Extrema (MG). Atualmente, apenas as células das baterias de lítio ainda vêm da Ásia. 

Os negócios da família Park expandiram para lâmpadas com tecnologia LED, com produtos para concessões e projetos de iluminação pública, de indústrias, comércio e de serviços. 

Com mercados e possibilidades de crescimento bastante distintos e após duas tentativas de IPO da Unicoba no ano passado que não se concretizaram, as duas áreas — Unipower, com baterias, e Ledstar, com tecnologia LED — tiveram suas operações totalmente separadas no início de 2022.

As tentativas de abertura de capital aconteceram em fevereiro e em agosto de 2021. A primeira buscava R$ 800 milhões e a segunda, R$ 450 milhões. 

“Suspendemos as duas porque o mercado não estava favorável”, explica a CFO Rosângela Sutil. O caminho, então, foi partir para o mercado de dívida. 

Nesse processo, a natureza distinta dos negócios ficou mais clara. 

Na divisão de baterias, há uma necessidade alta de capital de giro porque a empresa precisa pagar as células de lítio antes do embarque delas na China. “São cerca de 120 a 180 dias até estarem disponíveis no Brasil, para a produção. Isso cria uma demanda alta de capital de giro, de 15% a 20% da receita”, diz Sutil. “Isso não acontece na Ledstar, então a separação foi fundamental.” 

Hoje, a empresa tem uma agenda intensa com instituições financeiras para financiamentos – e equity também não é descartado. “O IPO não foi descartado, ainda é uma hipótese, mas não contamos com ele, não é um limitador para o crescimento dos negócios.”

No início de julho, a Unicoba captou US$ 25 milhões com a emissão de títulos verdes, vendida para a gestora de ativos americana Gramercy. Os papéis saíram com uma taxa de retorno de 14% e vencimento de cinco anos. O plano da empresa é captar outros US$ 50 milhões em dívida em meados de 2023. 

Desafios

Capital, junto com as dificuldades geográficas impostas pela floresta amazônica, são os principais limitantes para escalar os sistemas de armazenamento de energia a bateria na velocidade que o país exige, afirmam os executivos. 

“Nós entregamos zero sistemas isolados em 2020, cem em 2021 e 10 mil neste ano, com previsão de entregar outros 20 mil. Do ponto de vista de negócio, os números são ótimos”, diz Rodrigues. “Mas, neste ritmo, levaríamos uns 100 anos para solucionar o problema de distribuição e armazenamento de energia no Brasil.” 

Não falta dinheiro para a escala ser muito maior. 

“Talvez falte todo mundo que defende uma agenda ESG sentar junto à mesa. Mas, para isso, os grandes financiadores não podem jogar a responsabilidade nas costas apenas do BNDES”, completa Fernandes. 

Segundo Anibal Wadih, sócio da GEF Capital, investidora da Unicoba, o segmento de baterias para sistemas isolados ainda deve garantir o crescimento da empresa por alguns anos, embora tenha um limite.

“Mas existe um segundo tipo de mercado para as baterias estacionárias, que são os sistemas híbridos, em que é possível substituir sistemas de backup movidos a diesel, como no setor agrícola, por soluções de energia solar mais bateria. E esse é um mercado infinito ainda.”