(Atualizada em 17/02 às 9h para incluir mais informações)
Três anos depois do rompimento da barragem de Brumadinho, o ex-CEO da Vale reaparece na cena corporativa brasileira.
Afastado do comando da mineradora depois do acidente, Fabio Schvartsman está entre os nomes indicados por um grupo de investidores para compor a chapa do novo conselho da Vibra Energia, a antiga BR, na primeira formação do colegiado depois da saída do governo do capital da empresa, que hoje tem as ações pulverizadas no mercado.
Um dos executivos mais bem-sucedidos e admirados do país, ex-CEO da Klabin antes de chegar à Vale, Schvartsman estava submerso desde 2019. A barragem Córrego do Feijão rompeu em janeiro daquele ano e deixou 270 mortos. Seis pessoas seguem desaparecidas. Esta é a primeira tentativa de reabilitá-lo para uma posição em uma grande empresa.
A indicação não deve ficar imune a críticas. Embora nada o impeça de atuar em conselhos de companhias listadas, Schvartsman ainda é alvo de um processo administrativo sancionador da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que apura a conduta do executivo, para entender se decisões tomadas por ele concorreram, direta ou indiretamente, para a tragédia. Desde agosto o processo está com o relator do caso, que aprecia as considerações da defesa. O processo é sigiloso e os detalhes da investigação não são conhecidos.
Na esfera criminal, Schvartsman deixou o banco dos réus em outubro, quando sua defesa obteve vitória no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que determinou que a ação penal é de competência da Justiça Federal. Com isso, foi extinto o processo na Justiça mineira, que havia acatado a denúncia de homicídio qualificado feita pelo Ministério Público de Minas Gerais. Na Justiça Federal ainda não existe um processo.
A Vibra divulgou na noite de terça-feira comunicado ao mercado informando ter recebido das gestoras Dynamo, Verde e Bogari, acionistas da empresa, a indicação da chapa que inclui o executivo.
A composição é uma constelação de CEOs: Sergio Rial, ex-CEO do Santander, na posição de chairman; Walter Schalka, CEO da Suzano; e Nildemar Secches, ex-CEO da antiga Perdigão. E inclui também duas mulheres de destaque na pauta ambiental e de sustentabilidade: Ana Toni, presidente do Instituto Clima e Sociedade, e Clarissa Lins, consultora em sustentabilidade e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis.
O conselho atual da empresa precisa aceitar a indicação da chapa para que ela seja levada a votação da assembleia de acionistas em 28 de abril.
Desde a saída da Petrobras do seu capital e a nomeação de Wilson Ferreira como CEO, no ano passado, a Vibra vem desenhando uma estratégia para se inserir no contexto de transição energética e os investidores consideram que a complexidade da missão exige um conselho à altura.
Quando começou a articulação para montagem da chapa, o nome de Schvartsman foi um dos primeiros a ser lembrado, por conta da grande admiração de todo o mercado por sua capacidade estratégica e de gestão.
A indicação de seu nome não veio sem uma reflexão sobre o risco de backlash por parte das assets. Foi levada em conta a postura de Schvartsman ao se colocar na linha de frente após a tragédia e o fato de que do ponto de vista legal hoje não há nada contra ele. As chances de condenação pela CVM são consideradas mínimas. No fim, predominou a visão de que o benefício de contar com a experiência e conhecimento do executivo dentro do grupo de conselheiros supera em muito qualquer risco de revés.