EUA abrem 'frente verde' na guerra comercial com a China

Impostos sobre carros elétricos vai quadruplicar; barreira tarifária também inclui painéis solares, chips, aço e alumínio

Concessionária da BYD
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Os Estados Unidos anunciaram barreiras tarifárias para produtos estratégicos da transição verde produzidos na China, incluindo painéis fotovoltaicos e carros elétricos e seus componentes.

Além de aumentar a tensão entre as duas potências, a medida se soma a uma lista crescente de restrições comerciais que usam como argumento o desenvolvimento de uma nova indústria nacional de baixo carbono.

A União Europeia vem adotando políticas semelhantes, incluindo a lei antidesmatamento para commodities agropecuárias e a sobretaxação de produtos intensivos em carbono, conhecida como CBAM.

Um dos principais alvos do novo regime tarifário americano são os carros elétricos produzidos na China. A alíquota de importação para os veículos vai quadruplicar, passando de 25% para 100%.

Embora as montadoras chinesas tenham pouca penetração nos Estados Unidos, muitas delas já nasceram elétricas e estão anos à frente de concorrentes como GM e Ford nessa nova tecnologia.

A chinesa BYD compete com a americana Tesla pela liderança global na venda de carros a bateria, e analistas afirmam que é questão de tempo para que a chinesa assuma o primeiro lugar de forma incontestável.

Incentivos para a transformação do setor automotivo americano são parte essencial do mega pacote de quase meio trilhão de dólares aprovado há dois anos pelo presidente Joe Biden.

Um dos pilares do programa é a criação de uma indústria doméstica de baterias. Hoje, cerca de 60% das baterias usadas em veículos vêm do país asiático, bem como parte fundamental do processamento do lítio.

Os cálculos de Biden, que disputa a reeleição em novembro, também incluem a política doméstica.

Detroit, o berço das grandes montadoras americanas, fica em Michigan, um dos Estados fiéis da balança na eleição presidencial que acontece em novembro.

“Os americanos trabalham mais e são mais competitivos que os trabalhadores de qualquer outro país, desde que a concorrência seja justa”, afirmou Biden. “Mas ela não é justa há muito tempo.”

Batizada de “Bidenomics”, a política industrial baseada numa industrialização verde e na geração de empregos para a classe média é um dos principais argumentos do democrata na campanha.

Biden anunciou as medidas acompanhado de líderes sindicais, representantes de siderúrgicas e de empresários do setor de manufatura.

Segundo as pesquisas, o ex-presidente Donald Trump, do Partido Republicano, tem ligeira vantagem nos Estados que fazem a diferença no colégio eleitoral – mesmo sendo réu em quatro processos criminais.

Estima-se que as tarifas extras incidam em cerca de U$ 18 bilhões de importados. No ano passado, os Estados Unidos compraram US$ 427 bilhões dos chineses, enquanto as exportações ficaram em US$ 148 bilhões.

Esse déficit comercial vem de décadas, e a dominação absoluta da China em dois setores-chave da economia de baixo carbono – painéis solares e baterias para carros elétricos – é considerada uma vulnerabilidade para os planos de transição americanos.

Além dos carros, haverá sobretaxa na importação de aço, alumínio, minérios da transição energética e maquinário pesado, como guindastes.

Em comunicado, o Ministério do Comércio chinês afirmou opor-se “firmemente” às medidas e afirmou que a decisão vai “afetar seriamente a atmosfera de cooperação bilateral”.

Em outubro passado, a Comissão Europeia iniciou uma investigação sobre os carros elétricos chineses vendidos no bloco.

A suspeita é que a China ofereça subsídios para suas montadoras, o que impossibilitaria os fabricantes europeus de competir em pé de igualdade.

Mas uma eventual imposição de sobretaxas não é unânime entre as gigantes do setor automotivo com sede na UE. Num evento do Financial Times, Thomas Schäfer, responsável pela marca Volkswagen, afirmou “não acreditar” nesse tipo de medida.

Em março, o CEO da Mercedes-Benz, Ola Källenius, havia expressado opinião semelhante. Ambas as companhias têm vendas relevantes no mercado chinês e temem sofrer retaliação.