Siemens Energy perde mais de um terço de valor de mercado com problema em turbinas eólicas

Falha de qualidade pode atingir até 30% dos equipamentos instalados pela companhia e respinga sobre brasileira Aeris

Close de uma turbina eólica instalada da marca Siemens Gamesa
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Uma das maiores produtoras de turbinas eólicas do mundo, a Siemens Energy perdeu mais de um terço de seu valor de mercado desde sexta-feira, após anunciar que vai levar anos e gastar um montante “significativamente maior que o previsto” para solucionar defeitos nos seus equipamentos. 

Os papéis da companhia despencaram 37% na sexta-feira e continuavam em queda, de cerca de 2%, na bolsa de Frankfurt nesta segunda-feira. 

De acordo com a companhia, as falhas atingem entre 15% e 30% dos equipamentos já instalados e podem levar a custos extras de mais de  € 1 bilhão para serem resolvidas. 

“Estamos também revisando hipóteses críticas para o atual plano de negócios dado que as melhorias de produtividade não estão se materializando na extensão anteriormente prevista”, disse a companhia em comunicado. 

As turbinas são produzidas pela Siemens Gamesa, que é controlada pela Siemens Energy. 

Segundo a empresa, a extensão dos problemas é incerta e uma imagem sobre o tamanho do impacto financeiro só deve ser fornecida em agosto. As análises iniciais já fizeram com que a Siemens Gamesa revisasse sua previsão de lucro e, consequentemente, retirasse o guidance para os resultados da Siemens Energy. 

No Brasil, as ações da fabricante de pás eólicas Aeris caem 6% nesta tarde na B3 como reflexo do caso. A empresa tem contratos fechados de R$ 3 bilhões para fornecer pás à Gamesa até o fim de 2024. O contrato responde por 15% do seu volume de produção. 

“Ainda prevemos uma recuperação gradual de volume neste ano e no próximo, mas o evento da Siemens pode atrasar a recuperação do setor”, disseram analistas do BTG em relatório a clientes. 

Os problemas de qualidade da Gamesa foram noticiados em janeiro, mas a extensão do estrago é muito maior que a imaginada. 

Em teleconferência com analistas, o CEO da Siemens Gamesa Jochen Eickholt — um veterano da Siemens, que assumiu o comando da divisão eólica há pouco mais de um ano — disse que os problemas se concentram nos rotores e rolamentos das turbinas e que não pode descartar que haja falhas também o design dos modelos. 

“Muita coisa foi varrida para debaixo do tapete”, disse o CEO da Siemens Energy, Christian Bruch, em alusão ao processo de fusão da Siemens com a espanhola Gamesa. 

Os problemas de qualidade vem num momento complicado para a indústria eólica, que vem sofrendo há anos com pressões de custo de componentes como o aço, e competição crescente. 

O escândalo envolvendo uma das maiores empresas do setor pode também ter impacto sobre o processo de transição energética, num momento em que diversos países estão dando incentivos e subsídios para financiar energias mais limpas.