O Sicredi, instituição financeira cooperativa com mais de 5 milhões de associados, acaba de captar US$ 120 milhões com a International Finance Corporation (IFC), do Banco Mundial, para financiar projetos de energia solar, num empréstimo com vencimento em sete anos.
É a primeira operação de uma cooperativa de crédito no país a receber tanto o selo verde, quanto a chancela da Climate Bonds Initiative (CBI), organização internacional que atua para promover investimentos na economia de baixo carbono.
Trata-se de um “duplo diploma”. O selo verde comprova que ela está de acordo com os Green Loan Principles (GLP), atestando as adicionalidades ambientais da aplicação dos recursos. Já o CBI tem critérios bastantes estritos para qualificar os benefícios climáticos das operações.
Em ambos os casos, a instituição que recebe o crédito precisa comprovar em relatórios periódicos como estão sendo aplicados os recursos. A verificação será feita pela Sitawi.
“Essa captação marca nossa inserção no mercado global de finanças sustentáveis e é muito importante para mostrar que estamos evoluindo nesse processo de controles da carteira”, afirma César Bochi, diretor administrativo do Sicredi.
Fundado há 120 anos, o Sicredi é uma rede de cooperativas de crédito com grande capilaridade e que atua principalmente com médias e pequenas empresas.
Com presença em 24 Estados e o Distrito Federal, atinge um total de 1500 municípios, sendo a única instituição financeira disponível em 223 deles, numa carteira total de cerca de R$ 100 bilhões.
Com capilaridade alta e tíquete médio baixo, a instituição tem um longo relacionamento com instituições de fomento, como bancos multilaterais — inclusive a IFC, que já chegou a ser acionista da rede de cooperativas.
Nos últimos anos, a cooperativa vem ampliando o crédito para energia solar. Em fevereiro, a carteira de empréstimos para este fim somavam R$ 2,8 bilhões, um aumento de 104% em relação aos 12 meses anteriores.
Desse valor, R$ 1,6 bilhão foi destinado a pessoas jurídicas, R$ 621 milhões foram para pessoas físicas e R$ 571 milhões para associados no campo (agricultura familiar, médios e grandes produtores).
No fim de 2019, o Sicredi já tinha levantado uma linha de US$ 110 milhões com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), seguida por outra de US$ 135 milhões num empréstimo conjunto da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) e o Citibank.
Em ambos os casos, o prazo foi também de sete anos, mas não houve certificação externa que garantisse o selo verde. O tíquete médio por operação solar é de cerca de R$ 40 mil, afirma Bochi.
Vitrine para sustentabilidade
O Sicredi pretende recorrer a mais operações “carimbadas” para atender uma demanda crescente por parte do mercado financeiro internacional.
“Pela própria relação da cooperativa com o associado e da inclusão financeira, nosso modelo de atuação já é mais sustentável. Estamos no processo de qualificar nossa carteira para fazer essa ponte com o mundo crescente das finanças sustentáveis”, diz o diretor administrativo.
A IFC faz eco à afirmação.
“Cada vez mais vamos promover que as empresas se financiem com operações sustentáveis, com green bonds, sustainable bonds e sustainability-linked bonds”, afirma Carlos Leiria Pinto, que lidera a operação da IFC no Brasil. “Queremos evitar o greenwashing, por isso é importante ter essa acompanhamento validado por instituição independente.”
Em abril deste ano, o Banco Mundial determinou que seu braço para o setor privado alinhe todas as suas operações aos objetivos climáticos do Acordo de Paris até 2025, com uma meta intermediária de adequação de 85% até 2023.
De acordo com Leiria Pinto, 53% da carteira do Brasil já está de acordo com as novas diretrizes.