Petrobras entra em eólicas offshore e quer renováveis já em 2024

Estatal pediu licenciamento ambiental para dez projetos na costa brasileira; no curto prazo, companhia estuda investir em solar e eólica terrestre

Petrobras entra em eólicas offshore e quer renováveis já em 2024
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A Petrobras deu entrada nos processos de licenciamento ambiental para a instalação de dez projetos de geração de energia eólica offshore (em alto-mar).

A capacidade combinada de 23 GW das dez áreas torna a estatal a empresa com o maior potencial de geração de energia por ventos na costa brasileira, levando em conta os pedidos já protocolados junto ao Ibama.

“Essa iniciativa marca a entrada efetiva da Petrobras na eólica offshore”, disse o presidente da companhia, Jean Paul Prates, durante o evento Brazil Windpower, em São Paulo.

O plano é de longo prazo, e o marco legal que vai permitir os leilões das áreas concedidas ainda não foi aprovado no Congresso.

Mas a empresa deu outros sinais de que está determinada a investir em energias renováveis – possivelmente já no ano que vem.

“Temos alguns projetos concretos de parceria com outras empresas [que atuam no Brasil], incluindo aquisição e desenvolvimento, que estão em análise e esperamos poder anunciar algum deles em breve”, disse o diretor de transição energética e sustentabilidade, Maurício Tolmasquim.

A ideia, que ainda demanda aprovação do conselho, é investir em fazendas eólicas (em terra) e também solares que estejam em estágio avançado de desenvolvimento. 

Eólicas offshore

As áreas em que a Petrobras pretende operar usinas eólicas em alto-mar estão distribuídas por toda a costa brasileira. Rio Grande do Norte e Ceará têm três projetos cada um; os outros ficam em Maranhão, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. 

Por enquanto, não há previsão de volume de investimentos e de quando as turbinas devem começar a operar.

“Essa fase é uma fase de estudar as áreas, os ventos e, só depois, ver os custos, como o capex [despesas de capitais]”, afirmou Tolmasquim. “A gente só vai saber se é rentável ou não depois que fizer as análises.”

Na Europa, planos ambiciosos de geração de energia com os ventos de alto-mar estão paralisados por causa do alto custo dos equipamentos, dificuldades de obter financiamento e o baixo preço da energia.

Prates afirmou que a estatal vai investir em projetos realistas, não “malucos e delirantes”. Mas ele próprio admitiu que não é fácil “estender o anzol” para o grande potencial da eólica offshore sem considerar que o futuro não será igual ao presente. “Você vai ter ganho de expertise, desenvolvimento de tecnologia, maior competitividade…”. 

Como os empreendimentos não devem começar a produzir antes do fim da década, a Petrobras espera que haja uma demanda maior de energia no país, com o crescimento populacional e tendência da eletrificação.

A expectativa de exportar hidrogênio verde – cuja produção consome quantidades enormes de energia limpa – também entra nos cálculos da empresa.

Em 2030, o Brasil deve ter o hidrogênio verde mais barato do mundo e a um custo menor que o hidrogênio que é produzido hoje a partir do gás natural, disse Tolmasquim, citando projeções da consultoria BloombergNEF. 

Quanto à aprovação da regulamentação da atividade, Prates afirmou esperar uma resolução até o fim deste ano, ecoando uma fala do dia anterior do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, no mesmo evento. 

Uma proposta feita por Prates em seu mandato como senador já foi aprovada no Senado e está em discussão na Câmara. 

Renováveis já?

Sobre os investimentos no curto prazo, Tolmasquim afirmou que os recursos viriam do dinheiro reservado para projetos de baixo carbono, 6% do capex total, ou US$ 4,4 bilhões.

A parcela deve aumentar para uma faixa de até 15% no novo plano estratégico a ser divulgado até o fim do ano. 

Também nesta quarta, a companhia anunciou uma parceria com a fabricante de motores elétricos WEG para desenvolver em conjunto um aerogerador onshore de 7 MW. A meta é produzir o equipamento de maior porte de fabricação brasileira.

A WEG vai receber R$ 130 milhões da petroleira ao longo de 25 meses para o projeto, que já está em andamento. O objetivo é começar a produção em série a partir de 2025.

Em troca, a estatal receberá royalties das futuras vendas e preferência na aquisição do equipamento. Pelo porte, também existe a expectativa de que esse seja um empurrão para a WEG futuramente estudar a possibilidade de aerogeradores offshore. 

Em março, a petroleira já havia assinado um termo com a norueguesa Equinor para avaliar outros sete projetos offshore, com capacidade total prevista de 14,4 GW. Como comparação, o complexo de Itaipu tem capacidade de 14 GW.

O mundo pós-petróleo

Esses primeiros passos da Petrobras para se tornar uma empresa de energia vêm num momento em que o começo do declínio dos combustíveis fósseis começa a aparecer no horizonte.

Ontem, o chefe da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol, afirmou que o crescimento “aparentemente implacável” na demanda pelos fósseis deve acabar ainda nesta década.

Em artigo publicado no Financial Times, a autoridade antecipou que novas projeções da AIE indicam que o pico da demanda para petróleo, carvão e gás deve acontecer até 2030, antes do previsto anteriormente. 

Mas, pelas declarações de Prates, é difícil julgar o compromisso da companhia com um mundo pós-petróleo. “Não vamos sair ‘sapecando’ parque eólico em todo e qualquer lugar. Temos foco no pré-sal, no petróleo descarbonizado e na descarbonização dos nossos processos de produção e refinaria”, afirmou o presidente da estatal. 

Neste ano, o foco para estudo exploratório da Petrobras – que segue em disputa no governo para conseguir uma licença ambiental do Ibama – esteve na Bacia da Foz do Amazonas, localizada na Margem Equatorial brasileira. 

A região, que já é palco por disputas para exploração de petróleo, deve se tornar também “o mais disputado do mundo em menos de sete anos” para instalação de torres eólicas em alto-mar, afirmou o presidente da Petrobras. As águas rasas e clima estável devem permitir a manutenção barata e garantir atratividade do local.