Consumo de energia atual deve levar aquecimento global para 2,4ºC, diz AIE

Novo relatório aponta que mundo ainda está longe de estar alinhado com metas do clima

Consumo de energia atual deve levar aquecimento global para 2,4ºC, diz AIE
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No Acordo de Paris, os países concordaram em agir para buscar limitar o aquecimento global a bem menos que 2ºC. Mas o atual ritmo de consumo de energia e suas emissões de gases de efeito estufa devem fazer o planeta esquentar 2,4ºC até 2100, mostra novo relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), publicado nesta quarta-feira. 

O limite ideal para o aumento de temperaturas seria de até 1,5ºC para impedir os piores efeitos das mudanças climáticas, marca já considerada altamente improvável por alguns cientistas – e impossível por outros. 

“Apesar de ganhar impulso por trás das transições [energéticas], o mundo ainda está muito longe de uma trajetória alinhada com suas metas climáticas. As decisões de governos, investidores e consumidores muitas vezes consolidam as falhas no sistema de energia atual, em vez de empurrá-lo para um caminho mais limpo e seguro”, afirma a AIE. 

Por ora, os combustíveis fósseis atendem 80% da energia global, mas a agência mantém a previsão de que a demanda por petróleo, gás natural e carvão vai atingir o pico até o fim desta década.

As emissões de carbono também devem chegar ao nível máximo em breve, espera a AIE, mas para cumprir as promessas anunciadas e caminhar para um cenário net zero serão necessários maiores investimentos em energia renovável e uma queda acelerada desses picos.

Hoje, os investimentos em fontes renováveis giram em torno de US$ 2 trilhões. Até 2035, esse valor deve subir para US$ 3 trilhões se seguir o ritmo atual. 

Em um cenário bem mais otimista da AIE, em que o net zero seja alcançado até 2050, as fontes limpas teriam que receber US$ 5 trilhões no mesmo período – o que contribuiria para que a temperatura global atingisse o ápice de 1,6ºC e, até 2100, caísse para menos de 1,5ºC.

Com a maior produção de energia, o dinheiro também terá que fluir para as redes de transmissão e baterias de armazenamento. Atualmente, a cada US$ 1 investido na geração de energia renovável, outros US$ 0,60 vão para rede e armazenamento. Em 2040, essa relação deve entrar em equilíbrio, em qualquer dos cenários traçados. 

O Brasil tem caminhado nessa frente e realizou leilões de transmissão de energia entre 2023 e 2024. Já o leilão para armazenamento de energia do setor elétrico está previsto para o ano que vem e a expectativa é que a regulamentação para esses sistemas avance até lá.

No relatório, a AIE destaca que “o modo que consumidores fazem suas decisões e as políticas governamentais terão um impacto enorme nas consequências para nossos mercados de energia e para o planeta”. 

A agência também chama atenção para a necessidade de apoio às economias mais pobres, incluindo “muito mais ajuda internacional”. O apelo é feito a um mês da COP29, a Conferência do Clima, que reunirá diplomatas em Baku, no Azerbaijão, para discutir, especialmente, financiamento climático.