(Atualizado em 28/04, às 8h20)
Seguindo uma tendência que vem ganhando corpo há dois anos, a temporada de assembleias nos Estados Unidos promete ser palco de grande pressão dos investidores nos temas socioambientais.
Mas, a julgar pelas reuniões dos acionistas de três dos maiores bancos, ganhar apoio para medidas mais concretas pode não ser assim uma tarefa tão fácil.
No Wells Fargo, no Bank of America e no Citi, propostas para alinhar as carteiras de empréstimos com a meta de neutralidade de emissões em 2050 ganhou apoio de apenas pouco mais de 10% dos investidores.
A demanda, apresentada pelo Sierra Club, ONG de defesa do meio ambiente, era categórica e pedia também o fim do financiamento para novos projetos de combustíveis fósseis.
Os três bancos fazem parte da Net-Zero Banking Alliance, uma organização que promete justamente portfólios financeiros descarbonizados até a metade do século (Bradesco e Itaú são os únicos brasileiros participantes).
O CEO do Bank of America, Brian Moynihan, foi defensivo ao responder sobre um eventual compromisso do banco de não fazer mais negócios com empresas do setor de combustíveis fósseis que não estejam alinhadas com a meta de 1,5°C. Ele afirmou que o BofA quer ajudar seus clientes, mas, “no fim das contas, eles é que têm de fazer a transição.”
Jane Fraser, presidente do Citi, disse que as emissões de petróleo e gás têm de cair, mas que não é “viável parar a economia dos combustíveis fósseis do dia para a noite”.
A proposta do Sierra Club, que pode parecer radical à primeira vista, tem respaldo até mesmo na Agência Internacional de Energia (AIE).
O órgão, considerado a maior autoridade em assuntos energéticos do mundo, já deixou claro que para atingir a neutralidade de carbono até 2050 é preciso parar de furar novos poços de petróleo já.
Apesar da derrota, uma representante do Sierra Club enxergou um copo meio cheio. O apoio às propostas foi “sem precedentes”, afirmou ao Financial Times Adele Shraiman, responsável pelas campanhas de combustíveis fósseis da ONG. “A pressão está só aumentando.”
A arena pública
A cada ano que passa, temas ESG crescem em importância nas assembleias anuais das companhias americanas, que costumam acontecer entre e abril e junho.
As propostas apresentadas pelos acionistas têm o nome técnico de “resoluções” e não são vinculantes, ou seja, elas não têm de ser acatadas pelo corpo executivo mesmo que aprovadas.
Mas elas constituem um importante instrumento de pressão pública. No mês passado, a Unilever cedeu à pressão de um grupo de ativistas para aumentar a transparência dos indicadores de saúde de seus alimentos e bebidas.
E novas regras da Securities and Exchange Commission (SEC), o órgão regulador dos mercados americanos, facilitam a vida dos ativistas.
A mais importante delas reduziu muito o poder que as empresas tinham para simplesmente bloquear a apresentação dessas resoluções ligadas a temas socioambientais.
Este ano, somente 16% das propostas haviam sido barradas de saída; no ano passado, o percentual foi de 32%. A diretriz faz parte de um pacote de medidas tomadas pelo novo diretor da SEC, Gary Gensler, indicado por Joe Biden.
Ele também foi o responsável por um novo conjunto de divulgações climáticas obrigatórias por parte das companhias de capital aberto. A regra ainda não entrou em vigor, e espera-se uma contestação judicial.
“A SEC está tentando forçar a definição de materialidade”, disse à Economist Evan Williams, da US Chamber of Commerce, um poderoso lobby corporativo.