
Rio de Janeiro – O governo federal aprovou nesta quarta-feira (25) o aumento do percentual de etanol misturado à gasolina a partir de 1º de agosto.
A decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) eleva o percentual de etanol de 27% para 30% na gasolina, em linha com estudos encomendados pelo Ministério de Minas e Energia (MME) que comprovaram a viabilidade técnica do biocombustível.
Segundo a pasta, a mudança evitará emissões de 1,7 milhão de toneladas de gases de efeito estufa ao ano.
A nova política também determina o aumento do volume de biodiesel no diesel, de 14% para 15%.
Dados da plataforma SEEG, que monitora emissões de gases no Brasil, apontam que o transporte rodoviário, do qual o país é fortemente dependente, gerou 207 milhões de toneladas de gases em 2023.
O aumento do volume de etanol nos combustíveis estava sendo discutido há meses e chega em meio às preocupações com o impacto do conflito entre Israel e Irã no preço dos combustíveis.
Segundo o governo, a medida reduz a necessidade de importação de gasolina, que acompanha os preços internacionais do petróleo, e abre caminho para que o Brasil seja autossuficiente neste combustível. Ela também aumenta a demanda pelo etanol em 1,5 bilhão de litros ao ano, gerando investimentos de R$ 9 bilhões.
O Ministério de Minas e Energia estima uma queda de R$ 0,11 no preço da gasolina na bomba de combustível, uma vez que, considerada a tributação, o etanol é mais barato do que a gasolina.
As mudanças na composição do etanol são previstas pela lei do Combustível do Futuro, de 2024, que estabelece diretrizes para a descarbonização da matriz energética brasileira. A legislação permite ampliar o percentual para até 35% no caso da gasolina, desde que a viabilidade técnica seja comprovada.
Petrobras no etanol
O Brasil é uma referência na produção de biocombustíveis, com um modelo que se provou economicamente viável para a substituição de combustíveis fósseis.
Maior produtora de petróleo do país, a Petrobras vai retornar ao mercado de etanol. A estatal deve anunciar no segundo semestre quem será sua parceira na área, disse William Nozaki, gerente executivo de gestão integrada da transição energética da Petrobras, a jornalistas no evento Energy Summit 2025 nesta terça (24).
A companhia está em busca de um grande parceiro para uma joint venture desde o ano passado. No começo do ano, a presidente da companhia, Magda Chambriard, já havia revelado que a empresa estava conversando com “cinco ou seis empresas”. A ideia é retornar ao setor com uma atuação relevante, não do zero.
Segundo o gerente, a Petrobras não tem preferência sobre a matéria-prima para a produção do etanol, tanto cana-de-açúcar quanto milho são considerados.
O plano de negócios da companhia, apresentado pela atual diretoria no fim do ano passado, prevê um investimento de US$ 2,2 bilhões em etanol no período de 2025 a 2029. A previsão é chegar a uma produção de 2 bilhões de litros ao ano.
A companhia estuda investimentos também em biodiesel e biometano, segundo Nozaki. A entrada no setor está em avaliação sob aspectos de governança, modelagens de cenário e de fluxo de caixa. A decisão final caberá ao Conselho de Administração.
A Petrobras atuava no mercado de etanol, principal concorrente da gasolina, desde a década de 1970. Ao longo da última década, porém, liquidou participações que detinha em sociedades com produtores de etanol.
Investimentos
O aumento do volume de etanol foi comemorado pela sucroalcooleira Atvos, uma das maiores do país. “Tem uma demanda potencial que está sendo construída e que também está sendo atendida”, diz Mariângela Grola, gerente-executiva da Atvos.
Ela destaca a expansão do setor para novos Estados. “Vemos a indústria se espalhando, saindo dos estados do Centro-Sul e buscando também as regiões Nordeste e Sul do país, por exemplo.”
Um dos casos mais emblemáticos é a chegada da primeira usina de etanol ao Rio Grande do Sul, que tem baixa oferta do combustível devido aos custos logísticos. O investimento é da Be8 Energia Renovável, que usará a tradicional produção de trigo no Estado, na primeira planta do tipo no Brasil.