Brasil vai liderar avanço dos biocombustíveis nesta década, diz AIE

País também se destaca por encabeçar expansão de fontes limpas de eletricidade na América Latina; meta de triplicar renováveis firmada na COP está ao alcance

Uma bomba de combustível na cor verde, com os dizeres "bio", abastecendo um carro branco
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A oferta dos biocombustíveis está posicionada para crescer 30% mais rápido até 2028, em comparação aos últimos cinco anos, e o Brasil sozinho deve ser responsável por 40% dessa expansão. As estimativas são da Agência Internacional de Energia (AIE), em novo relatório publicado hoje. 

“Políticas mais fortes são o principal motor deste crescimento, à medida que os governos aumentam os esforços para fornecer energia de modo acessível, seguro e com baixas emissões”, afirma o ‘Renováveis 2023’.

Empresas como Be8 e Acelen estão fazendo investimentos bilionários para produzir combustíveis renováveis de nova geração, como o diesel verde e querosenes de aviação sustentáveis, ou SAF.

A Raízen foi a primeira produtora de etanol do mundo a receber a certificação internacional para produzir SAF, em agosto passado.

Os volumes de produção ainda são baixos, mas os diversos tipos desses novos combustíveis devem ser responsáveis por dois terços da redução das emissões de gases de efeito estufa dos aviões até 2050.

No curto prazo, a maioria esmagadora do biocombustível produzido no mundo, cerca de 90%, ainda deve ser destinado às rodovias.

Já consolidado no mercado de etanol da cana-de-açúcar, o Brasil deve vivenciar o aumento de sua posição no combustível feito a partir do milho, com a maior produção do cereal atraindo investidores. 

A União Nacional do Etanol de Milho (Unem) prevê o aumento de 6 bilhões de litros na produção do combustível na safra 2023/24, 36,7% acima da safra anterior. No período, foram investidos entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bi em toda a cadeia do etanol de milho, estima a entidade. 

O crescimento de renováveis

O Brasil também se destacou no relatório por ter renovado, em 2023, seu recorde anual de capacidade instalada de renováveis, ao lado dos Estados Unidos e Europa. O país deve liderar o setor na América Latina até 2028, sendo responsável por 108 GW dos 165 GW adicionais esperados na região, projeta a AIE. 

No ano passado, a capacidade instalada de energia por renováveis subiu em 50% globalmente, beirando os 510 gigawatts (GW) – a geração solar foi responsável por 75%. O crescimento mais expressivo foi na China, que instalou sozinha em 2023 tantos painéis solares quanto o mundo todo em 2022.

O mundo está aumentando sua geração renovável mais rapidamente que em qualquer outro momento e, se acelerar, tem uma possibilidade real de alcançar a meta acordada na COP28 de triplicar a capacidade instalada globalmente até 2030, estima a AIE.

“Nas condições de mercado e políticas atuais, a capacidade global de renováveis já está no caminho para crescer 2,5 vezes até 2030. Não é o suficiente para alcançar a meta de triplicar essas fontes, mas estamos chegando mais perto”, disse o diretor-executivo da AIE, Fatih Birol, em nota. 

No Brasil, assim como em grande parte do globo, o crescimento na geração deve vir de solar, seguida pela eólica. A previsão da agência é que o país dobre sua capacidade de geração no período, em comparação aos últimos cinco anos. 

Mundo afora, os preços de painéis fotovoltaicos registraram queda anual de quase 50%, segundo a agência, e a expectativa é que a redução dos custos e a rapidez da implementação continuem ao longo dos anos. 

“Apesar de mudanças regulatórias, o crescimento da capacidade de geração solar distribuída no Brasil está excedendo nossas expectativas, levando a uma revisão considerável para cima”, afirma o documento. O movimento é diferente de outros países, em que uma visão mais otimista foi resultado de melhorias em políticas públicas ou na estrutura de leilões do setor.

Mesmo considerando baixo o incentivo, a AIE aposta em dois fatores para que a expansão de geração distribuída ocorra no país: o aumento das tarifas de eletricidade nas residências desde 2019 e os custos ainda baixos no sistema elétrico. “Assim, a combinação destes fatores significa que o período de retorno dos sistemas residenciais aumentou apenas moderadamente, de uma média de pouco menos de cinco anos para cerca de cinco anos e meio, ajudando a impulsionar o crescimento.”

Por aqui, assim como na União Europeia, a instalação de pequenas unidades de geração, como as usadas nos telhados de casas, deve superar as de grandes fazendas solares à medida que consumidores residenciais e comerciais busquem reduzir o preço de sua conta de luz, acredita a AIE.

Na contramão, o crescimento em eólica onshore deve acontecer apesar do cenário desafiador para os geradores fora da China. A combinação de gargalos na cadeia de fornecimento, custos mais altos e períodos mais longos para obtenção de licenças vai exigir, na visão da agência, atenção mais forte dos governos. 

Junto ao recorde na instalação de fontes renováveis em 2023, os EUA conseguiram reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 1,9%, em comparação ao ano anterior, enquanto sua economia cresceu. A estimativa preliminar foi feita pelo Rhodium Group.