Suzano quer meio milhão de hectares em 'corredores de biodiversidade' (e fala sobre mercado de carbono)

Em 'balanço ESG', companhia anuncia nova meta de biodiversidade, vê potencial para mais ambição em sequestro de CO2 e relata desafios em diversidade e inclusão

Fotografia da UNF - Unidade Florestal- da Suzano Papel e Celulose em Grajaú, Maranhão.
Fotografia da UNF - Unidade Florestal- da Suzano Papel e Celulose em Grajaú, Maranhão.
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No seu primeiro evento integralmente ESG — que deve ser uma rotina anual a partir de agora —, realizado na manhã desta sexta-feira, a Suzano prestou contas sobre as metas anunciadas no ano passado para 2030 e lançou uma nova, desta vez, ligada à biodiversidade. 

A companhia quer interligar meio milhão de hectares de áreas de mata nativa que hoje estão fragmentadas nos biomas de Mata Atlântica, Cerrado e Amazônia.

Na prática, isso quer dizer que a companhia quer construir corredores de biodiversidade, seja com florestas plantadas ou restauração de matas nativas, unindo unidades de conservação nos Estados em que atua.

“Queremos construir uma rede de unidades de conservação, que vai contribuir em última instância para o equilíbrio dos ecossistemas onde atuamos e termos área de influência”, resume Fernando Bertolucci, diretor de inovação e tecnologia da Suzano em conversa com o Reset. 

A lógica da ação é quase intuitiva: isoladas, as espécies — tanto animais quanto vegetais — têm sua capacidade reprodutiva reduzida, o que afeta o equilíbrio de todo o sistema e o torna mais suscetível a mudanças climáticas e o ataque a pragas. 

Com a integração, a biodiversidade floresce, reduzindo, por exemplo, as ameaças a animais com risco da extinção. No seu banco de dados de monitoramento, a Suzano tem mais de 2700 registros de espécies de plantas, aves e mamíferos, das quais, 258 ameaçadas de extinção. 

Somados, os ‘corredores de biodiversidade’ terão uma área equivalente a quatro vezes a cidade do Rio de Janeiro. 

Além das cercas

Será, antes de tudo, um trabalho de engajamento, já que apenas metade dessas áreas está em território de sua propriedade — onde a empresa pode efetivamente cuidar do manejo e do plantio.

O  principal desafio, aponta o diretor de inovação da companhia, é engajar os ‘vizinhos’ sobre os ganhos da conservação. A ideia é trabalhar em conjunto para o desenvolvimento das comunidades e oportunidades de gestão de renda. 

“Esses corredores não precisam ser improdutivos, na verdade eles serão produtivos. Podem ser corredores de florestas plantadas, podem ser corredores de áreas que serão restauradas e podemos usar para serviços ecossistêmicos”, aponta, lembrando que é possível pensar no desenvolvimento de mecanismos de monetização como créditos de carbono.  

“Se a gente quer ser transformacional, não podemos enxergar a natureza como se ela tivesse cercas, porque ela não tem. Não existe: ‘Aqui termina a Suzano, ali é do fazendeiro, de uma comunidade vizinha’. Essa rede terá que ser interligada”, diz Bertolucci. 

A companhia não abre os investimentos esperados para implementar a agenda.

Créditos de carbono

Há tempos, a Suzano vem sinalizando que vê potencial para ganhar dinheiro a partir da venda de créditos do carbono que é sequestrado pelas árvores que planta para sua operação.

Mas no evento de hoje deu pela primeira vez alguns números para o mercado começar a mastigar. Segundo o diretor de sustentabilidade, Pablo Machado, a empresa já mapeou potencial para gerar 22 milhões de toneladas equivalentes de CO2 em créditos.

É um volume expressivo. A título de comparação, estima-se que o mercado voluntário, em que as companhias compram os créditos para compensar as emissões e atender suas próprias metas de descarbonização, movimentou cerca de 100 milhões de toneladas em 2019, segundo os números mais recentes do Ecossystem Marketplace, da Forest Trends. (A expectativa é que o número tenha crescido bem em 2020.)

“Estamos com algumas negociações em curso e quando tivermos mais novidades avisaremos ao mercado”, apontou. 

O potencial para escoamento desses créditos, contudo, deve depender do futuro das negociações para a formação de um mercado global de créditos — o famoso “Artigo 6” do Acordo de Paris, que deve ser discutido na COP 26, em Glasgow, prevista para novembro. 

“Nossa visão para o futuro é que conseguiremos monetizar o carbono. Depende de como o mercado vai participar da COP 26 no próximo evento em Glasgow. Se o Brasil for parte disso, poderemos ter parte do mercado regulado. Se não, será só via o mercado voluntário. Estamos trabalhando nas duas dimensões”, afirmou o presidente da Suzano, Walter Schalka, no evento. 

Na prestação de contas das suas metas anunciadas no ano passado, a companhia sinalizou que pode revisar para cima a ambição de sequestro de CO2. 

A meta inicial era sequestrar 40 milhões de toneladas de carbono equivalente até 2030, mas somente no ano passado a companhia retirou 15 milhões de toneladas da atmosfera.

Por conta principalmente das florestas plantadas para abastecer as fábricas, a Suzano é uma empresa negativa em carbono, o que significa que tira mais CO2 do ar do que emite nas suas operações industriais e no consumo de energia. 

Metas de diversidade 

Na seara de diversidade, a Suzano conseguiu avançar na meta de ter até 30% de mulheres na liderança até 2025 — ainda que lentamente. Do número de base de 16% em 2019, a companhia passou para 19% no ano passado. 

O calcanhar de Aquiles, no entanto, foi a meta para inclusão de negros na liderança: o percentual caiu de 22% em 2019 para 20% no ano seguinte. O compromisso é chegar a 30% dos cargos de liderança ocupados por negros. 

“Percebemos que, além de mudar as políticas de contratação, temos que trabalhar ainda mais duro para melhorar nossas políticas de qualificação e aceleração de carreira”, apontou a head de comunicação da Suzano, Marcela Porto, reforçando o compromisso em cumprir a meta.  

A Suzano sinalizou ainda que pode acessar o mercado de dívida com títulos com metas atreladas a questões de diversidade. O diretor financeiro, Marcelo Bacci, disse que a companhia deve continuar a captar com ‘sustainability-linked bonds’, a exemplo da emissão pioneira feita no ano passado. 

“Estaremos de volta a esse mercado logo. Mas provavelmente vamos usar metas diferentes das do ano passado, como aquelas atreladas a uso de água e diversidade e inclusão”, afirmou.