Mais um passo foi dado na viabilização da produção de hidrogênio verde no Brasil. Shell e Prumo Logística divulgaram nesta quinta-feira (19) a construção de uma planta-piloto de geração do “combustível do futuro” nas instalações do Porto do Açu, que fica em São João da Barra, no norte fluminense. O anúncio foi feito durante o evento Congresso Mercado Global de Carbono no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.
Segundo os termos do memorando de entendimento assinado pelas duas empresas, a Shell investirá entre US$ 60 milhões e US$ 120 milhões ainda em 2022. O dinheiro será aplicado na pesquisa e desenvolvimento da usina.
A iniciativa obedece uma determinação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) que obriga empresas petrolíferas a investir um percentual de sua receita bruta em P&D de tecnologias mais sustentáveis.
Segundo os planos das duas empresas, a planta-piloto poderá começar a operar em 2025 com uma capacidade inicial 10 megawatts (MW), que poderá se ampliar para até 100 MW com um projeto de expansão da unidade.
Visto como uma das chaves para mitigar as emissões de setores de difícil descarbonização, o hidrogênio passou a receber ainda mais atenções com a crise de fornecimento de gás e petróleo russos, especialmente na Europa.
O Brasil reúne boas condições de ser um dos líderes mundiais na produção e exportação do hidrogênio verde. Existem algumas rotas tecnológicas para obtê-lo, mas a mais promissora é a eletrólise da água.
Com energia renovável, tipicamente solar ou eólica, separam-se os átomos de hidrogênio e oxigênio da água. Tanto o processo como o posterior uso desse tipo de hidrogênio não tem emissões de CO2 associadas.
A maior parte dos projetos para produção de hidrogênio verde no Brasil está localizada em portos, com o objetivo de exportação, mas existe a expectativa de uma importante demanda dentro do país.
Operando desde 2014, o Porto do Açu é o único porto privado do país. O terminal fica próximo às bacias de Campos e Santos, localização estratégica para a exportação de combustíveis — 30% do petróleo brasileiro que vai para fora passa por seus terminais.
A empresa, que é administrada pela Prumo Logística e controlada pela EIG Energy Partners, já havia assinado parceria semelhante com a australiana Fortescue Future Industries em março de 2021 e possui outros projetos de energia solar e eólica.
Além da planta-piloto no porto fluminense, há outros dois projetos de produção de hidrogênio verde em estudos no país, nos portos de Pecém, no Ceará, e de Suape, em Pernambuco. No Ceará, os estudos estão sendo bancados por EDP, White Martins e Fortescue Futures. Em Pernambuco, Neoenergia, do grupo espanhol Iberdrola, e Qair.
Laboratório
André Araujo, presidente da Shell no Brasil, afirmou em comunicado que o investimento será destinado a “viabilizar uma série de provas de conceito referente à descarbonização de setores. Será um verdadeiro laboratório de geração de conhecimento e valor tanto para a Shell quanto para o país”.
Além do Brasil, a petroleira também está investindo em projetos parecidos em Alemanha, China e Holanda.