As companhias vêm fazendo cada vez mais divulgações sobre o impacto das mudanças climáticas nos negócios, segundo um levantamento divulgado hoje pela Task Force on Climate-Related Financial Disclosures (TCFD).
A entidade analisa as informações publicadas pelas empresas e sugere padrões para que os dados sejam unificados e comparáveis e sirvam como mais um elemento para as decisões de investidores.
A revisão dos dados relativos ao ano fiscal de 2021 é a quinta do tipo. Um sistema automatizado verificou as divulgações de 1.400 companhias, de oito setores e cinco regiões do mundo.
O relatório nota um progresso gradual de reportes climáticos e também uma tendência clara de que esse tipo de informação está se tornando mainstream entre executivos e gestores de recursos.
Cerca de 80% das companhias publicaram informações alinhadas a pelo menos uma das 11 recomendações de transparência da TCFD. A que mais encontra eco hoje é a divulgação de oportunidades ou riscos relacionados ao clima, acolhida por 61% das empresas analisadas.
A integração do clima nas práticas gerais de gestão de risco já chegou a 37% das companhias. Foi a categoria com o maior salto nos últimos dois anos.
Quanto à publicação detalhada das emissões – tanto as do próprio negócio quanto as das cadeias de valor –, 44% das empresas calculam seus impactos nos escopos 1, 2 e 3.
“Riscos climáticos são riscos financeiros, e mais medições e divulgações são cruciais para construir uma economia mais sustentável e resiliente e um futuro mais seguro”, disse em comunicado o chairman da força-tarefa, o bilionário americano Michael Bloomberg.
Europa na dianteira
Os setores mais comprometidos com disclosure climáticos são energia, materiais e construção, bancos e seguradoras, de acordo com a TCFD.
Também há diferenças importantes associadas ao tamanho das companhias. Quase metade daquelas de valor de mercado mais alto (acima de US$ 12,2 bilhões) publicou algum tipo de reporte. Entre as menores (até US$ 3,4 bilhões), o percentual ficou em apenas 29%.
Em termos regionais, os europeus estão muito adiante do resto do mundo no que diz respeito à transparência: 60% das companhias do continente fizeram algum tipo de divulgação.
A região Ásia-Pacífico veio na sequência, como 36%, seguida da América do Norte (28%), América Latina (28%) e África e Oriente Médio (25%). O levantamento não traz dados detalhados por país.
“O relatório mostra um aumento constante nas empresas que divulgam informações financeiras relacionadas ao clima, e o Brasil tem o maior número de apoiadores do TCFD na América Latina”, diz Denise Pavarina, vice-presidente da entidade.
“À medida que mais organizações e governos enfatizam a importância da divulgação, espero que vejamos uma maior adoção no Brasil, para que todas as decisões financeiras levem o clima em consideração.”
A importância dos xerifes
Um dos dados acompanhados de perto pela força-tarefa é o avanço das regulamentações ao redor do mundo.
O documento aponta a decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de ampliar a exigência de divulgações obrigatórias sobre aspectos ambientais, sociais e de governança das companhias listadas na B3.
Por aqui, o Banco Central também lançou uma regra pela qual as instituições financeiras terão que reportar de acordo com o TCFD a partir do próximo ano. A expectativa é que os bancos passem a exigir divulgações semelhantes das empresas para as quais emprestam para poder gerir melhor o risco da sua carteira de crédito.
O plano da Securities and Exchange Commission (SEC), o regulador americano, também recebe destaque. A proposta foi submetida a consulta pública e está em fase de finalização.
Embora seja uma organização independente e sem poderes para impor seus padrões ou recomendações, a TCFD obteve bastante sucesso desde sua criação, em 2015.
As recomendações da entidade vêm sendo acolhidas tanto pelas companhias quanto por investidores e reguladores.
O relatório pode ser encontrado na íntegra aqui.