Referência em ESG, Klabin teima em derrapar no ‘G’

Chapa indicada para o conselho é um desfile de Klabins e Lafers, as duas famílias controladoras da fabricante de papel e celulose

Referência em ESG, Klabin teima em derrapar no ‘G’
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Uma das companhias consideradas referência em ESG no país, especialmente na frente ambiental, a Klabin parece teimar em se enroscar com o ‘G’, considerado o seu calcanhar de Aquiles.

Um dos principais itens da agenda de governança da empresa finalmente andou no ano passado, com o acordo para encerrar o pagamento de royalties à família Klabin pelo uso da marca, sempre visto pelo mercado como um tremendo conflito de interesses — como os royalties se aplicavam a produtos específicos, pairava o temor de que decisões estratégicas fossem pautadas pelo maior ou menor volume de royalties envolvidos. Uma nova política de dividendos também foi aprovada.

Mas agora, na temporada de assembleias de acionistas em que se esperam alguns avanços na pauta ESG do país, depois da onda pelas três letrinhas em 2020, a companhia compareceu com um retrocesso.

Os controladores apresentaram uma chapa para o conselho que é um desfile de sobrenomes Klabin e Lafer.

De um total de 12 indicados na chapa, apenas dois não são integrantes de uma das duas famílias controladoras: Camilo Marcantonio Júnior e Sérgio Francisco Monteiro de Carvalho — este último, representando o grupo Monteiro Aranha, acionista relevante por muitas décadas. Praticamente uma terceira família, nas palavras de um gestor.

Além desses 12, o BNDES indicou o ex-presidente do IBGC e da Amec, Mauro Cunha, para eleição em separado, pelos acionistas preferencialistas, totalizando 13 membros.

A presença do BNDES como um grande acionista antes assegurava um número mais relevante de conselheiros independentes. Na configuração em vigor, são 13 membros, sendo cinco de fora das duas famílias controladoras. Mas, conforme o banco tem reduzido sua participação, os nomes ligados aos controladores voltaram com força.

“A empresa não acorda nessa frente”, comenta um gestor de fundos com posição em Klabin. “Já era assim [com presença maciça de familiares], mas antes tinha o BNDES.”

Para um analista do ‘buy side’ de um grande banco, a questão da governança tira pontos ESG da Klabin na comparação com Suzano, que está no mesmo setor de celulose. No board da Suzano, além de uma presença limitada da família Feffer e de um grande número de independentes, a diversidade de gênero também já avançou mais.

Um analista que acompanha a companhia de longa data pondera que, felizmente, os integrantes das duas famílias têm uma atuação bastante consistente no conselho, com decisões estratégicas quase sempre acertadas. E o conselho da Klabin desempenha mais uma função de guardião de valores, delegando muito da estratégia aos executivos.

Chapa concorrente

Para tentar ampliar ligeiramente o número de independentes, uma chapa concorrente foi apresentada pelo investidor Luiz Barsi, um minoritário relevante da Klabin. A chapa é praticamente idêntica à dos controladores, com uma diferença: sai o nome de Paulo Sérgio Coutinho Galvão Filho, filho de Graziela Klabin Galvão, e entra o de Heloisa Bedicks, ex-presidente do IBGC.

As chances de que a chapa dos controladores não seja eleita é remota, mas existem. Como relata a jornalista Graziela Valenti, na Exame IN, passam pela solicitação de eleição por voto múltiplo e por uma derradeira atuação do BNDES. 

Carta que defende a eleição de dois conselheiros independentes enviada aos acionistas da empresa estimula os minoritários a: 1) participarem da assembleia virtualmente em vez de votarem por boletim de voto à distância; e 2) se mobilizarem pelo voto múltiplo e concentrarem os votos em Bedicks.

“Já a reeleição do candidato Mauro Cunha pelo voto em separado das ações preferenciais é mais complexa”, prossegue a carta. “É necessário 10% do capital total; e só votam acionistas com a sua posição mínima dos 90 dias anteriores à assembleia.”

Como o BNDES vendeu parcela significativa da sua posição, seu poder de voto caiu. Além disso, os investidores que compraram os papéis preferenciais do banco estatal nos últimos meses ainda não alcançaram o prazo de 90 dias como acionistas e, portanto, não podem votar.

A Klabin não comenta a escolha da chapa feita pelo do conselho.