Pouco antes de completar um ano da inauguração de sua fábrica em Manaus, a fabricante de motos elétricas Voltz é alvo de ação de despejo no valor de R$ 2,8 milhões, por conta de aluguéis em atraso e outras despesas associadas ao imóvel.
A empresa é acusada de ter dado o calote nos meses de janeiro e fevereiro, além de não ter pago os encargos de locação – como taxa de condomínio – dos mesmos meses e as penalidades pelo atraso do aluguel em dezembro, conforme processo judicial visto pelo Reset.
A ação de despejo é o mais recente lance numa crise vivida pela startup, considerada uma das principais promessas para a eletrificação da frota de motos no país. A empresa foi a escolhida pelo iFood como parceira no projeto de substituição das motos dos seus entregadores.
As redes sociais estão coalhadas de depoimentos de clientes frustrados com atrasos na entrega das motos ou com problemas na qualidade dos produtos. No site ReclameAqui, a empresa recebeu mais de 2100 reclamações e conta com um índice de solução baixo, de 30%. Uma busca no site JusBrasil mostra que muitos dos clientes resolveram recorrer à Justiça para garantir seus direitos.
A startup de origem pernambucana, que chegou a ser chamada de “Tesla brasileira” no auge do mercado de venture capital, investiu R$ 12 milhões em maio passado no galpão de 11 mil m² para abrir a primeira fábrica de motos elétricas do Brasil.
A promessa era justamente eliminar o problema quase crônico de atraso nas entregas de motos, ao aumentar a produção em sete vezes. A expectativa declarada pela empresa era zerar a fila de espera até setembro do ano passado e conseguir vender motos a pronta entrega a partir de outubro. Algo que não aconteceu, conforme indicam as reclamações de consumidores.
Os recursos para a fábrica vieram de um aporte de R$ 100 milhões recebido um ano antes, em rodada liderada pela fintech Creditas e pelo braço de inovação do Grupo Ultra, dos postos Ipiranga.
A ação de despejo
Sede da Voltz Motors da Amazônia, o galpão é propriedade da Manaus III do Brasil Projetos Imobiliários, gerida pela norte-americana Gerbera, autora da ação. O processo, aberto em meados de abril, corre na Justiça de São Paulo e ainda será analisado pelo juiz do caso.
A Manaus III afirma no documento que, caso a Voltz pague R$ 401 mil pelos aluguéis atrasados, com correção monetária e juros, e R$ 560 mil pelos honorários de advogados, poderá manter o contrato.
Caso contrário, a conta pode se multiplicar. Dada a inadimplência, a Manaus III pede a rescisão do contrato e que a Voltz pague, com base em cláusula contratual, valores retroativos pelos nove meses de carência e descontos do aluguel nos demais meses que foram concedidos – o equivalente a quase R$ 3,7 milhões, segundo o documento.
O período de carência e os descontos eram atrelados ao cumprimento de 120 meses do contrato, destaca a Manaus III. O valor atual do aluguel é de R$ 233 mil por mês.
No processo, a locadora pede a rescisão do contrato, a desocupação do imóvel em 15 dias e o pagamento de dívidas, multas e demais taxas, e diz não estar aberta a uma audiência de conciliação dada “a inércia” da Voltz quanto às notificações prévias.
Questionada pela reportagem, a Voltz diz que “seguimos nossas operações onde estamos produzindo e recebendo produtos normalmente. Temos uma fábrica modelo instalada no local e não pretendemos sair de lá onde temos um ótimo relacionamento com a Hines”. A Hines é administradora e gerente de propriedade do galpão.
Sobre os pagamentos em atraso, o sócio da Voltz, Manoel Fonseca, diz não saber se foram feitos, mas que “a fábrica está 100% funcionando”.
Além dos processos movidos por consumidores e pela Manaus III, a Voltz também responde a uma ação no valor de R$ 3,9 milhões aberta pela BLU Logistics Brasil Transportes Internacionais. A empresa de logística alega que a startup não teria entregue contêineres de carga nas datas estipuladas por contrato. O CEO da Voltz, Renato Villar, também é alvo de outra ação movida pela BLU.
Outras empresas de construção e montagem também processam a startup por valores que, juntos, superam R$ 1 milhão.