Aceleradora amazônica Amaz seleciona mais três startups

Duas empresas da região e uma fintech de São Paulo foram escolhidas entre 110 candidatas; investimento nas empresas deve somar R$ 1 milhão

Aceleradora amazônica Amaz seleciona mais três startups
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A Amaz acaba de divulgar as três startups que farão parte de seu programa de aceleração de novos negócios de impacto na Amazônia em 2025. O processo de seleção começou em abril, com 110 inscritos. Destes, 20 foram escolhidos para entrevistas e 6 finalistas apresentaram seus negócios para uma banca, durante o Festival de Investimento de Impacto e Negócios da Amazônia (Fiinsa), em outubro.

“A maioria dos inscritos chega numa fase bem inicial de desenvolvimento, ainda de validação. Como o foco da Amaz é olhar para os acelerados de maneira individual, selecionamos apenas três para o programa”, diz Gabriela Santos, gerente de operações da aceleradora. “O objetivo é oferecer a profundidade que cada um deles necessita.”

As escolhidas fora Tribo Superfoods, ForestiFi e Impact Not a Bank. As duas primeiras estão sediadas na Amazônia Legal e a terceira, em São Paulo.

Criada em 2021 e coordenada pelo Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), com as três novas selecionadas a Amaz chega a 18 startups em seu portfólio. A aceleradora conta com um fundo de financiamento híbrido (blended finance) de R$ 25 milhões para investimento em negócios de impacto nos próximos cinco anos – as três novas selecionadas receberão ao todo R$ 1 milhão.

O investimento direto da Amaz até 2024 somou R$ 4,7milhões. “O capital alavancado no mesmo período foi de R$38,5 milhões, ou seja, alcançamos uma taxa de alavancagem de 8 para 1”, diz Santos.

Ao longo do processo de aceleração, as startups recebem mentoria e assistência para desenvolver e fortalecer seus modelos de negócios. Logística, gestão e avaliação de impacto, estratégias de mercado, marketing e comunicação são temas fundamentais.

Superfrutas nativas

Purês e polpas congelados de açaí, cupuaçu e cacau cultivados em solo amazônico. Estes são os carros-chefes da Tribo Superfoods, de Igarapé-Miri, no Pará, maior produtor e exportador de açaí do mundo. A startup, criada em 2023, aposta nestes ingredientes da biodiversidade nativa valorizando o comércio justo com produtores locais e práticas que preservem a floresta. Toda a cadeia é baseada no agroextrativismo sustentável.

“Hoje beneficiamos duas cooperativas, uma em Igarapé-Miri e outra em Abaetetuba, impactando cerca de 340 famílias”, diz Mauricio Pantoja, um dos fundadores. A ideia de comercializar também cacau e cupuaçu surgiu para garantir renda a essas famílias durante o ano todo. “Elas antes plantavam apenas o açaí, um produto sazonal com safra que vai apenas de julho a dezembro. O cacau é colhido entre janeiro e maio, e o cupuaçu, no inverno amazônico.”

A Tribo chegou a ensaiar parcerias para comercializar seus produtos em São Paulo, mas encontrou obstáculos logísticos. “O valor do frete era alto demais”, conta Pantoja. “Então partimos para o Nordeste, especialmente Piauí, Ceará e Maranhão. A ideia é tomarmos mais fôlego para então voltar ao Sudeste.”

A aceleração da Amaz, segundo ele, será fundamental para este fôlego. “Validar o que fazemos é importantíssimo, e fazer parte deste ecossistema vai nos proporcionar conexão com marcas que já entendem e realmente se importam com negócios de impacto.”

Também da Amazônia, de Manaus (AM), a ForestiFi utiliza a tecnologia blockchain em ativos florestais. O objetivo é oferecer mais transparência, maior eficiência e segurança e menor custo nas transações. Com uma plataforma de tokenização própria, com tokens emitidos em nome de organizações amazônicas interessadas, a startup atrai investidores interessados em apoiar sistemas produtivos locais em manejo florestal, sistemas agroflorestais e recuperação de áreas degradadas.

“O investidor escolhe o número de tokens, e de que organização, e realiza a compra por meio de Pix para obter saldo na plataforma. Depois disso é assinado um contrato com prazo e taxa de retorno definidos”, explica Macaulay Abreu, um dos fundadores. O investidor recebe atualizações sobre o projeto apoiado e a liquidação dos tokens ocorre automaticamente via smart contracts, gerando saldo em moeda na plataforma para saque ou reinvestimento. 

A meta da ForestiFi é, até 2026, impactar 500 produtores e 2.500 hectares de unidades produtivas. “Queremos mostrar que é possível alinhar investimentos a cadeias produtivas amazônicas, para que eles sejam compatíveis com o nível de maturidade de cada uma delas. Com os tokens definimos metas e indicadores em conjunto” diz Abreu. “Assim podemos mensurar com transparência o impacto socioambiental, além do financeiro, dessas organizações.”

É banco ou não é?

Voltada para o financiamento de ações em clima, comunidade e biodiversidade, a Impact Not a Bank é uma plataforma global que conecta fundações, corporações, governos e investidores a iniciativas e empreendimento socioambientais de impacto na Amazônia.  

A startup foi criada por Gabriel Ribenboim e Ian Lazoski, que já acumulam alguns anos de experiência em negócios de impacto. Em 2015, eles criaram o Instituto Welight de Inovação Socioambiental, que formatava projetos de fornecimento de água para regiões necessitadas. No ano seguinte, eles migraram para a área de tecnologia. A Welight Tecnologia Social desenvolvia ferramentas digitais de arrecadação de recursos para ONGs e outras organizações de impacto social.

A virada da dupla para instituição financeira aconteceu em 2020, com o Impact Bank Pagamentos, focado em soluções para a gestão de capital filantrópico. Em 2024, a mudança de nome para Impact Not a Bank teve como objetivo reforçar o “não somos um banco, somos muito mais do que isso”.

“Partimos de um olhar diferente sobre finanças de impacto”, diz Gabriel Ribenboim, CEO e um dos fundadores da startup. “Sou biólogo de formação, então logo percebemos que era necessário criar novas soluções para alavancar esse ecossistema composto de visão coletiva, com foco em transparência e inclusão financeira. Nós queremos conectar a floresta com o mercado, e não o mercado com a floresta.”

A Impact Not a Bank fechou 2024 com mais de US$ 15,6 milhões direcionados a projetos e empreendimentos, beneficiando diretamente mais de 33.500 pessoas de 65 grupos étnicos, em 141 comunidades. Os 22 projetos e programas apoiados contribuíram para a conservação de 3,2 milhões de hectares.