A Natura &Co divulgou hoje sua agenda de sustentabilidade para os próximos dez anos, unificando pela primeira vez metas sociais e ambientais de toda a sua gama de empresas, incluindo Aesop, The Body Shop e a Avon, cuja compra foi concluída no começo deste ano.
As metas para 2030 incluem um compromisso ambicioso de zerar as emissões de carbono, com base em um amplo compromisso com a economia circular.
A empresa se comprometeu a utilizar 95% de ingredientes naturais e renováveis nas formulações de seus produtos e chegar a 100% de embalagens reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis.
O grupo se comprometeu ainda a aumentar a participação de mulheres nos cargos de liderança de 35% para 50% até 2023, eliminar a diferença salarial entre homens e mulheres e garantir 30% de participação no seu quadro gerencial a grupos sub representados, incluindo aqui os ângulos de raça e etnia, diversidade sexual e identidade de gênero.
“A crise climática é séria, a pandemia global tem impactos sem precedentes em vidas e subsistência. A gente vê o crescimento da intolerância e radicalização e um aumento da desigualdade”, disse o CEO da Natura &Co, Roberto Marques, em teleconferência com jornalistas.
“A humanidade parece que está retrocedendo em alguns momentos, mas não vamos desistir. Estamos construindo um alicerce com o que acreditamos serem compromissos muito importantes para adotar e promover práticas sustentáveis.”
Fundada em 1969, a Natura foi pioneira na adoção de critérios sustentáveis em seus negócios e agora enfrenta o desafio de integrar essas práticas a um grupo com mais de R$ 30 bilhões em receitas — dois terços gerados fora do país — e que atua em mais de 100 países.
Precursora no combate à mudança climática, a Natura neutraliza suas emissões de carbono desde 2007. Essa compensação, no entanto, é feita por meio, por exemplo, da compra de créditos de carbono. A meta agora é tornar a cadeia efetivamente zero-carbono, estabelecendo métricas de neutralização de emissões de gases-estufa que vão da extração de matérias-primas ao descarte de embalagens.
O caminho é longo, já que as demais empresas do grupo ainda estão num estágio menos avançado. “Cada empresa está num estágio diferente. A ideia é que, num primeiro passo, a gente consiga alinhar e padronizar de forma que todos façam a mesma medição do escopo”, disse Keyvan Macedo, gerente sênior de sustentabilidade do grupo.
A companhia reforçou ainda seu compromisso com a preservação da Amazônia, praticamente dobrando sua área de proteção de 1,8 milhão de hectares para 3,3 milhões de hectares.
O plano aqui é aumentar o uso de bioativos que são extraídos pelas comunidades das florestas para uso nas formulações, ampliando a área de preservação para além da Amazônia brasileira em direção ao Peru e à Colômbia, além de fomentar técnicas de agricultura regenerativa.
“É uma mistura entre aplicação de ciência, conexão com comunidade extrativistas para geração de novas fontes de renda e colaboração com startups e ambiente de desenvolvimento tecnológico para garantir alternativas à monocultura”, disse Andrea Alvares, vice-presidente de comunicação, marketing e sustentabilidade da Natura.
Economia circular
No anúncio de hoje, a Natura também desenhou metas agressivas de circularidade tanto na sua cadeia de suprimentos quanto na gestão das embalagens e resíduos. A meta é ter 100% das embalagens reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis até 2030.
O grupo quer reduzir em 20% ou mais o plástico das embalagens — e, da parcela restante, quer que 50% venha de plástico reciclável. Onde não houver estrutura de reciclagem, a Natura se comprometeu a ter programas de coleta ou reúso para alcançar 100% de descarte responsável.
Mais que isso, a empresa quer chegar a pelo menos 95% de ingredientes renováveis ou naturais nas suas fórmulas e que 95% delas sejam integralmente biodegradáveis.
Para isso, a Natura &Co vai investir pelo menos US$ 100 milhões no desenvolvimento de soluções de biotecnologia, para evitar desperdício de plástico e ingredientes, agricultura regenerativa, para reduzir o uso de químicos e criar alternativas para monoculturas.
“Queremos devolver mais para o planeta do que tiramos dele”, resume Silvia Lagnado, que assumiu o cargo recém-criado de diretora de crescimento sustentável do grupo em fevereiro para auxiliar nessa integração. Lagnado já estava no conselho da Natura desde 2014 e deixou o cargo de CMO do Grupo McDonald’s em outubro do ano passado.
Segundo ela, apesar da postura geral de sustentabilidade do grupo, cada uma das empresas deve manter seu posicionamento de marca.
“A Natura e a The Body Shop têm uma promessa mais do lado natural, que não é o que acontece como a Avon e nem de forma explícita no caso da Aesop. O bonito da nossa meta de 95% ou mais de ingredientes naturais ou renováveis é que isso inclui soluções de química verde e biotecnologia, que incluem outras soluções para ser totalmente circular e bom para o meio ambiente, sem necessariamente precisar ter um posicionamento de ‘natural’, diz.
Metas sociais
Do lado social, a Natura se comprometeu a passar de 35% de mulheres no board e equipe sênior para 50% e acabar com a diferença salarial entre homens e mulheres até 2030. A empresa não informou qual é essa diferença hoje.
Além disso, vai trabalhar pela inclusão de 30% no time de gestão de grupos subrepresentados, definidos como “raciais ou étnicos, diversidade sexual ou identidade de gênero (LGBTI), socioeconomicamente desfavorecidos, ou portadores de deficiências mentais ou físicas”.
A empresa se comprometeu ainda a aumentar investimentos em causas cruciais para suas marcas, como a prevenção ao câncer de mama, violência doméstica e educação, em 20%, para US$ 600 milhões.
O progresso em direção a todas as metas será atualizado anualmente.
“Teremos com a divulgação dessas métricas o mesmo compromisso que temos com os nossos relatórios financeiros. É muito difícil fazer isso em todos os países e em todos os negócios, mas estamos comprometidos”, disse o CEO Roberto Marques.