Adam Neumann, o empreendedor cujas ações desastrosas no comando do WeWork se tornaram símbolo do excesso dos unicórnios na última década, está de volta com um novo negócio: colocar créditos de carbono em blockchains.
A nova startup de Neumann, batizada de Flowcarbon, acaba de levantar sua primeira grande rodada de financiamento, no valor de US$ 70 milhões.
A Flowcarbon transforma os créditos de carbono em tokens, como são conhecidos os ativos digitais transacionados via internet em redes semelhantes às que sustentam as criptomoedas, como Bitcoin e Ethereum.
Cada crédito de carbono corresponde a uma tonelada de CO2 (ou o equivalente em gases de efeito-estufa) que tenha deixado de ser emitida, ou então retirada da atmosfera.
Tradicionalmente, esses créditos são adquiridos por companhias que querem compensar as suas próprias emissões de CO2 de forma voluntária, seja por pressão dos clientes, dos investidores ou por boa cidadania corporativa.
Hoje, essas transações acontecem num mercado de balcão e de maneira analógica: companhias como as brasileiras Ambipar Biofílica e Carbonext, por exemplo, desenvolvem projetos de preservação na Amazônia e vendem os créditos correspondentes a grandes empresas.
A ideia da startup de Neumann e de outras companhias, como a brasileira Moss, é aumentar a liquidez desses créditos. Uma vez tokenizados, eles podem ser negociados em bolsas em que ocorrem transações de criptomoedas.
Com mais potenciais compradores, aumentariam as oportunidades de financiamento de projetos que ajudem a combater a mudança climática, argumentam os defensores da aplicação da tecnologia blockchain.
O custo de transação também seria muito mais baixo. Enquanto no modelo tradicional brokers poderiam ficar com até 30% do valor de venda, a Flowcarbon cobra 2%, afirmou a CEO da companhia, Dana Gibber, à agência Reuters.
Os créditos de carbono a Moss, por exemplo, podem ser comprados e vendidos na Coinbase, uma das maiores plataformas de criptoativos do mundo.
Sob o código MCO2, um crédito da startup brasileira era negociado a US$ 6,87 na manhã desta quarta-feira, um preço bem abaixo da alta histórica de US$ 20,56.
Segundo ato
Dos US$ 70 milhões levantados pela Flowcarbon, pouco mais de metade foi via venda de ativos digitais lastreados em créditos de carbono desenvolvidos nos últimos cinco anos.
O restante veio de investidores de risco liderados pelo fundo a16z, um dos mais prestigiosos do Vale do Silício. “O mercado de carbono é extremamente opaco, e acreditamos que a demanda por compensações vai rapidamente superar a oferta”, afirmou Arianna Simpson, responsável por investimentos em cripto do a16z.
Se a lógica por trás do aporte parece clara, a confiança em Neumann é mais difícil de entender. Apesar de não fazer parte da equipe executiva da Flowcarbon, ele e a mulher, Rebekah, são listados como fundadores da companhia.
Neumann fundou o WeWork em 2008 e transformou a companhia em uma das maiores startups privadas do mundo, avaliada em US$ 47 bilhões em seu ápice.
Mas a história era boa demais para ser verdade: em 2019, a empresa cancelou os planos de abrir o capital quando seus números e seus problemas de governança vieram a público.
A ascensão e queda espetaculares de Neumann e sua mulher são o tema de WeCrashed, disponível na plataforma de streaming AppleTV+.
Dois ganhadores do Oscar, Jared Leto e Anne Hathaway (foto), interpretam o casal na série que romantiza uma das histórias de fraude mais célebres da história recente dos Estados Unidos.