Mombak quer gerar créditos de carbono de reflorestamento (e está levantando um fundo para isso)

Startup fundada por ex-CFO do Nubank quer remover carbono da atmosfera por meio da restauração de áreas desmatadas — uma atividade que ainda não foi provada em larga escala

Desmatamento na Amazônia
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A Mombak, uma startup que quer gerar créditos de carbono a partir do reflorestamento, está levantando um fundo voltado para investidores em busca de ativos de remoção de gases de efeito estufa. 

Batizado de ‘The Amazon Reforestation Fund’, trata-se de um fundo de investimento em participações — ou seja, que será dono dos projetos. 

Documentos públicos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) mostram que a companhia quer levantar até R$ 520 milhões, mas investidores sondados recentemente afirmam que a intenção inicial é fechar uma primeira tranche de R$ 100 milhões. A distribuição é coordenada pelo Credit Suisse. 

Investidores dizem ter ficado bem impressionados com a qualidade da liderança, do time de execução e com a sofisticação das modelagens financeiras. 

Mas o principal desafio da Mombak para atrair capital será mostrar que é capaz de enfrentar os desafios naturais da atividade de reflorestamento em larga escala, que até hoje não foi validada por ninguém. 

Empresas dedicadas a gerar créditos de carbono a partir da preservação da Amazônia têm ganhado tração a olhos vistos. Mas a Mombak faz parte de uma segunda leva, de companhias dedicadas a uma tarefa ainda mais complexa: a remoção de carbono da atmosfera por meio da restauração de áreas desmatadas. Outra startup que também está atuando nessa área, e que nasceu com o apoio de grandes investidores, é a re.green.

Em linhas gerais, tanto no modelo de desmatamento evitado quanto no de reflorestamento, a receita da venda dos créditos de carbono entra na conta para rentabilizar a floresta em pé, como alternativa à renda dos proprietários das terras com atividades que favorecem o desmatamento, como a pecuária.

(Quer entender como funcionam os mercados de carbono? Clique aqui.)

Remoção de carbono na Amazônia

Para cumprir a meta de chegar ao net zero até 2050, as estimativas apontam que o mundo precisa reduzir as emissões de carbono em 40 bilhões de toneladas por ano, mas outras 10 bilhões de toneladas restantes precisarão ser removidas da atmosfera.

“E a melhor oportunidade disponível para remover carbono hoje é o reflorestamento. E o melhor lugar pra fazer isso no mundo é o Brasil. Mas nunca ninguém testou isso em larga escala”, diz Gabriel Haddad Silva, que foi CFO do Nubank e cofundou a Mombak com Peter Fernandez, ex-CEO da 99.

Ele não comenta os planos de captação via fundo. 

O modelo da Mombak é gerar os créditos e fazer a venda diretamente às empresas que buscam a compensação de suas emissões. 

A ideia é desenvolver projetos de reflorestamento prioritariamente em áreas de terceiros. “Queremos crescer através de parcerias rurais. Comprar terras é mais complexo, mas talvez seja necessário fazer algo em terras próprias no começo para testar”, diz Silva.

São vários os formatos possíveis de parcerias. O mais simples deles tem como alvo propriedades na Amazônia que estão desenquadradas do limite de manter 80% de reserva legal.

Sem vazamento

Paralelamente, a empresa quer oferecer um programa de intensificação da pecuária aos proprietários, que poderão produzir mais arrobas de gado por hectare e, assim, manter a receita da venda a frigoríficos. 

Segundo Silva, esse conceito resolve um outro problema.

Normalmente, pela metodologia da Verra, a principal certificadora de créditos do mercado voluntário de carbono, um projeto tradicional de recuperação de pastagem teria que incluir um desconto no cálculo do volume de créditos gerados. 

Isso porque a metodologia considera um fator chamado “leakage”, ou vazamento: o gado que estava na área a ser recuperada terá que ser deslocado para algum outro lugar, com potenciais efeitos negativos sobre o meio ambiente.

A Verra admite programas de mitigação desse vazamento e a Mombak está em conversas com a entidade para validar o seu. “Achamos que isso melhora a qualidade do crédito de carbono que vamos produzir.” 

Foco nos créditos de carbono

Diferentemente da re.green, que prevê gerar uma receita adicional com a venda de produtos madeireiros das áreas recuperadas, a Mombak diz que seu foco exclusivo são os créditos de CO2. 

“Hoje estamos focados em ter o melhor produto de remoção de carbono. Nossos modelos não contam com receitas adicionais. Não vamos nos distrair.”

O fato de a empresa contar apenas com os créditos de CO2 como fonte de receita foi um dos pontos de atenção assinalados por um investidor que teve acesso às informações da oferta. Outra dúvida levantada foi em relação às premissas de valorização dos créditos, consideradas otimistas.

Hoje a startup conta com uma equipe de 18 pessoas, com profissionais experientes em algumas das áreas-chave.   

O primeiro a comprar a ideia foi Renato Crouzeilles, doutor em ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor de um paper sobre a regeneração de florestas que ajudou a inspirar a tese da Mombak. “Ele foi o primeiro louco a topar”, diz Silva.

À frente da operação está Mário Grassi, que foi gerente da área de operações florestais da Suzano. Também com experiência no setor de florestas plantadas, com passagem por Klabin e International Paper, Ligia Rossetto lidera a área jurídica. Também advogada, mas com experiência em políticas climáticas, Natália Renteria responde pela área de ‘policy’.   

Para estruturar a empresa, montar o time e começar a botar a ideia em pé, a Mombak levantou capital no ano passado com três fundos de venture capital: Kaszek, USV e Byers (os dois últimos, americanos).

Estágio inicial

Reflorestamento é sabidamente uma atividade cheia de desafios de execução.

Um dos principais gargalos existentes é o suprimento de mudas de espécies nativas nas quantidades necessárias, uma vez que não existe uma indústria como no segmento de florestas de eucalipto. 

Para resolver a questão, Silva diz que a Mombak mapeou todos os fornecedores existentes e pretende incentivar o desenvolvimento da oferta ao firmar contratos que assegurem a compra da produção. 

Ainda assim, no início dificilmente será possível executar projetos que contemplem as 60 espécies nativas catalogadas pela empresa.

Ele reconhece que não será trivial colocar o negócio em pé e, por ora, evita falar em metas de reflorestamento. 

Uma primeira área deve começar a ser desenvolvida em caráter experimental até o fim do ano e, segundo ele, há um pipeline grande em negociação. 

“Vamos aprender muito ao longo do tempo, mas estamos com um bom modelo de negócios para seguir e testar em campo. Temos muita confiança de que vamos conseguir executar o que estamos imaginando.”

(Créditos da imagem: Alberto César Araújo/Amazônia Real)