Sharm el-Sheikh – O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que vai pedir ao secretário-geral da ONU, o português António Guterres, que a COP30, em 2025, seja realizada na Amazônia.
“Acho muito importante que as pessoas que defendem a Amazônia, que defendem o clima, conheçam de perto o que é aquela região. [É uma maneira de] as pessoas discutirem a partir de uma realidade concreta, não só através de leituras.”
Segundo o futuro presidente, dois Estados estariam aptos a receber uma conferência internacional do porte da COP, que este ano conta com mais de 30 mil participantes ao longo de duas semanas.
“Amazonas e Pará”, afirmou Lula. “Aí vocês vão discutir entre vocês quem é que tem a melhor infraestrutura para receber as milhares de pessoas.”
O presidente eleito falou de improviso e prometeu “dizer mais coisas, foi para isso que vim aqui”. Ele tem um pronunciamento marcado para as 17h locais (12h em Brasília), quando se espera um discurso formal com mais detalhes sobre a nova política ambiental e climática do país a partir de 1º de janeiro.
Lula recebeu das mãos do governador paraense, Helder Barbalho, uma carta assinada por ele e oito de seus pares afirmando o compromisso das administrações da região com “a conservação e o desenvolvimento sustentável”.
“As transformações econômicas [na Amazônia] foram incapazes de reduzir as desigualdades e erradicar a pobreza extrema. O modelo de desenvolvimento vigente, para ser economicamente pujante, trouxe o custo de ser ambientalmente devastador e socialmente excludente”, diz o documento.
Lida por Barbalho, a carta faz menção à importância de mecanismos financeiros internacionais e também aos recursos privados.
“Precisamos da floresta viva, isto é, capaz de prover serviços ambientais e gerar remuneração por eles e pelos produtos dela derivados. Essa noção de vida é o marco que nos permitirá a monetização da floresta enquanto nova ‘commodity’ no mercado de bens e serviços ambientais”, diz o texto.
Lula afirmou que “assinaria sem problemas” o documento. “É mais do que justo que recuperemos a aliança [entre os entes federativos] que já tivemos no Brasil.”
Caos na COP
Lula falou no pequeno auditório montado no stand dos governadores da Amazônia legal na COP27, em Sharm el-Sheikh. Na plateia estavam apenas pessoas autorizadas.
Meia horas antes do início do evento, seguranças da ONU esvaziaram o espaço e retiraram aqueles que haviam chegado mais de duas horas antes – inclusive pelo menos uma dezena de jornalistas brasileiros – para assistir ao vivo a primeira fala de Lula.
Imediatamente formou-se uma enorme aglomeração na entrada do estande. Quando o novo presidente chegou, só era possível vê-lo nas telas dos celulares erguidos pela multidão, que se aproximava da presença oficial do atual governo.
Depois de uma reunião de cerca de 20 minutos com os cinco governadores presentes em uma sala fechada, Lula dirigiu-se ao auditório. Nenhuma pessoa não-autorizada conseguiu assistir ao evento da plateia.
Resignados, alguns tiveram de acompanhar a fala de Lula na transmissão ao vivo pelo YouTube. O Brasil Climate Action Hub, o estande da sociedade civil brasileira, colocou o sinal no telão, como se faz em jogos de Copa do Mundo.
* O jornalista viaja a convite da International Chamber of Commerce