As normas para o que pretende se constituir como um padrão global para as divulgações de sustentabilidade por parte das empresas acabam de ser anunciadas oficialmente.
Criado pela IFRS Foundation, a mesma organização que dita as regras para o padrão contábil mais adotado pelas empresas de capital aberto do mundo, o International Sustainability Standards Board (ISSB) vem trabalhando no conjunto de regras há cerca de um ano e meio.
O padrão não é obrigatório de largada, mas deve servir de parâmetro para divulgações voluntárias. Além disso, os pronunciamentos do ISSB tendem a servir de benchmark para reguladores locais.
À Reuters, o chairman da organização, Emmanuel Faber – ex-presidente da Danone – disse que o Brasil é um dos países que estão estudando adotar a regra, ao lado de Canadá, Reino Unido, Cingapura, Nigéria, Chile, Egito, Quênia e África do Sul.
A adoção depende do aval de reguladores locais, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Banco Central.
A Iosco, organização que reúne os reguladores de mercados de capitais de todo o mundo, já anunciou que pretende dar seu apoio.
“O endosso deve ser um game changer para os reguladores ao redor do globo ao considerarem o uso do framework do ISSB”, disse o chairman da entidade, Jean-Paul Servais, num evento de lançamento que aconteceu hoje em Londres.
O arcabouço do ISSB bebeu diretamente da fonte do TCFD, força-tarefa criada pelo Financial Stability Board, formado por países do G-20, e que vem ganhando cada vez mais adeptos para as divulgações de riscos e oportunidades climáticas.
O que dizem as regras
Foram divulgados hoje dois conjuntos de normas, já há meses em consulta pública. A primeira delas, chamada de S1, diz respeito a informações mais gerais de sustentabilidade. A segunda, chamada de S2, trata das informações diretamente relacionadas ao clima.
Em ambos os casos, as empresas precisam detalhar quatro aspectos:
- O primeiro deles é a governança, para mostrar como funciona a atribuição de responsabilidades sobre as questões socioambientais;
- O segundo é gestão de riscos, com os processos empregados para identificar, avaliar a gerenciá-los;
- Em seguida, vem a estratégia, que engloba inclusive as oportunidades relacionadas a esses fatores;
- Por fim, há a dimensão de metas e métricas, que dizem respeito aos números em si.
A princípio, deve ser divulgado tudo o que pode ter impacto material, ou seja, é relevante para o negócio.
Aqui, o ISSB também não inventou a roda.
Ele parte das definições de materialidade do Sustainability Accounting Standards Board (SASB), divididas por setor de atuação das companhias. É um padrão amplamente utilizado por empresas e investidores para este fim.
Quanto às métricas, no S1, de informações mais gerais de sustentabilidade, os pronunciamentos do ISSB são bem abertos e principiológicos, sem indicadores específicos a serem reportados.
Escopo 3
Já para o S2, de informações climáticas, há exigências mais específicas.
Pelo padrão, as empresas precisarão divulgar seu inventário de emissões de gases de efeito-estufa.
Serão exigidos tanto os escopos 1 e 2, de emissões diretas e relativas à energia utilizada nos processos, quanto as de escopo 3, que envolvem a cadeia de valor – desde os fornecedores até as emissões resultantes do uso do produto.
Essas emissões indiretas são as mais difíceis de medir e devem trazer uma curva de aprendizado para as empresas. Por isso, há um “período de transição” previsto pelo padrão.
Porém há exigências de divulgações mais detalhadas no escopo 3 para o setor financeiro em relação a emissões relacionadas a alguns setores, como óleo e gás.
“Mantivemos essa exigência porque os bancos e a supervisão [do setor] foram muito claros que isso é necessário nesse caso”, disse Faber à Reuters.
Entre os indicadores climáticos necessários também estão investimentos em projetos relacionados ao clima e remuneração dos executivos atrelada a metas climáticas.