A GK Ventures, gestora de impacto do ex-Tarpon Eduardo Mufarej, acaba de oficializar o fechamento da primeira captação do seu fundo de impacto, de R$ 330 milhões, com potencial de chegar a até R$ 450 milhões nos próximos meses.
A maior parte do capital, conforme relatado pelo Reset, já estava assegurada desde o começo do ano passado, com single e multi-family offices, mas a pandemia de covid-19 colocou os planos em modo de espera.
Na época, em vez de colocar o fundo de private equity de pé, a GK se concentrou na iniciativa Estímulo 2020, um fundo de alívio que já desembolsou R$ 70 milhões para pequenas e médias empresas.
“Muito do conceito do que seria o fundo de private equity naquela altura já era necessário num momento de pré-pandemia. Num momento de pós-pandemia se tornou mais importante ainda”, diz Mufarej.
Com o fundo efetivamente na rua, a GK tem focado sua atenção em empresas de educação — onde Mufarej, ex-CEO da Somos, construiu boa parte de sua expertise —, saúde e de economia circular, como tratamento de resíduos e reciclagem.
A ideia é fazer aportes entre R$ 30 milhões e R$ 100 milhões em cada empresa, entre primeiro cheque e follow-ons, para ter fatias minoritárias, num portfólio relativamente concentrado, que deve ter de seis a oito companhias.
Além disso, a gestora está azeitando sua tese de impacto.
Trabalha para consolidar uma métrica de ‘múltiplo de impacto’, que permita comparar o retorno para a sociedade de investimentos e setores distintos, a exemplo do que faz fora do país o The Rise Fund, plataforma de impacto de US$ 5 bilhões da gestora TPG.
Impacto com cifrão
Enquanto muitos fundos de impacto concentram suas métricas nos chamados ‘outcomes’, como número de pessoas beneficiadas por determinado negócio ou emissões de carbono evitadas, a GK Ventures quer um número que se traduza em uma cifra.
“No fim do dia, a gente quer saber para cada real que a gente coloca na empresa, o quanto de valor financeiro volta para a sociedade, o quanto foi gerado de impacto social e ambiental”, diz Patrícia Nader, da GK Ventures.
A meta da GK é devolver para a sociedade ao menos duas vezes o valor do fundo.
Vinda da Vox Capital, onde ficou por quase dois anos como gestora de portfólio, sentando no conselho de empresas de saúde como BemCare, Magnamed e ProRadis, Nader se juntou à GK no começo do ano como head de impacto.
A gestora de Mufarej fez uma parceria com o Insper Metricis para avaliar diversas metodologias disponíveis — advindas tanto do universo de impacto quanto do de filantropia —, num estudo que deve ficar pronto nos próximos meses e deve ser compartilhado com o mercado.
“Assim como um projeto financeiro tem uma Taxa Interna de Retorno (TIR), que permite comparações entre um projeto e outro, queremos ter uma proxy para o mundo de impacto”, diz Nader.
Se, por um lado, a métrica pode ser considerada ampla demais pelo mundo de impacto mais ‘raiz’, por outro ela tem a vantagem da comparabilidade. “Claro que não dá para usar somente essa métrica, mas o interessante é que ela permite colocar todo mundo na mesma página.”
A remuneração da GK Ventures no fundo não é atrelada a métricas de impacto.
O primeiro investimento
O primeiro investimento da GK, anunciado em fevereiro deste ano, ajuda a exemplificar.
A gestora participou de um aporte de R$ 45 milhões liderado pela SK Tarpon na Zenklub, de saúde mental. A startup, que conecta psicólogos e pacientes de maneira online e vem se consolidando num modelo B2B, de benefício corporativo das empresas para seus funcionários, deve faturar cerca de R$ 20 milhões neste ano.
Segundo Nader, as análises junto à equipe apontam para um retorno do investimento do ponto de vista do impacto para a sociedade da ordem de oito vezes o capital investido.
Aqui, a matemática leva em conta tanto o benefício para os usuários quanto para a produtividade das empresas que adotam a tecnologia.
Na prática: a conta parte do número de beneficiários que deve ser impactado pela empresa nos próximos cinco anos, que é o período médio que a GK pretende ficar nas empresa. Depois, parte para o ‘outcome’, o impacto principal que a empresa quer atingir e, para isso, parte de premissas colhidas em estudos relacionados ao setor.
“No caso da Zenklub, 16% da população em geral têm algum tipo de transtorno mental. E estudos-âncora mostram que quem tem transtorno mental, por mais leve que seja, ganha de 20% a 30% menos que uma pessoa sem transtorno mental, além de ter muito mais chances de estar desempregada”, aponta Nader.
Além disso, as empresas têm queda de produtividade por conta desse problema, além dos custos com saúde, continua. “Calculamos tudo isso e fizemos um ajuste de risco, porque não estamos usando os dados da empresa ainda, porque ela ainda não mede isso”, ressalta.
No caso da Zenklub, apesar do investimento ser menor do que o que deve tipicamente ser feito pelo fundo, a GK já amarrou a possibilidade de fazer um investimento maior numa próxima rodada.
“No exterior, a Lyra Health, que é o principal player no setor de saúde mental, acabou de receber uma rodada de US$ 200 milhões e foi avaliada em US$ 4,6 bilhões”, compara Mufarej.
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