A Vox Capital, gestora pioneira em fundos de venture capital de impacto no Brasil, acaba de registrar na CVM a oferta do seu terceiro fundo.
O nome do produto sugere que não se trata de uma continuidade, mas sim de uma nova geração de fundos de impacto da casa.
Procurada, a gestora informou que não poderia se pronunciar por estar em período de silêncio por conta da captação.
Enquanto os dois primeiros fundos foram chamados de Vox Impact Investing I e II, o terceiro foi batizado de Vox Tech for Good Growth I. Saiu o ‘impacto’, que dava a ideia de nicho, e entraram a tecnologia, o crescimento e o fazer o bem.
A Vox parece querer mostrar que é possível fazer impacto com rigor e em escala para o mainstream econômico e financeiro e, com isso, marcar posição num espaço que começa a ser ocupado por grandes gestoras que descobriram o impacto apenas recentemente.
Em conversas preliminares com investidores, a gestora tem informado que seu objetivo é captar R$ 500 milhões com o Tech for Good Gowth, ou seja, dez vezes o tamanho de seu segundo fundo, de 2016. O primeiro fechamento, de estimados R$ 250 milhões, está previsto para o primeiro trimestre do ano que vem.
Com esse tamanho de bolso, a gestora também poderá se posicionar de forma competitiva entre gestoras de venture capital de forma geral. Muitas vezes, demonstrar capacidade para acompanhar o crescimento da investida em novas chamadas de capital é um fator decisivo para ganhar a concorrência com outros fundos nas rodadas iniciais.
Num primeiro momento, o fundo vai mirar investidores profissionais, com aplicação mínima de R$ 3 milhões. Em tranche futura, poderá haver oferta pública para investidores qualificados, no varejo de alta renda.
No regulamento do fundo, protocolado na Comissão de Valores Mobiliários na semana passada, a gestora informa que vai buscar investimentos em empresas com impactos sociais e/ou ambientais nas áreas de educação, saúde, habitação, água e saneamento, energias renováveis, serviços financeiros e de tecnologia.
A Vox vem a mercado com um bom histórico para mostrar. Embora pequeno, o seu segundo fundo apresenta taxa interna de retorno superior a 50% nos seus quatro anos de existência, puxada pelas valorizações de Celcoin e Sanar. Neste segundo veículo, a gestora consolidou a tese de apostar em soluções tecnológicas e escaláveis para problemas nas áreas de saúde, educação e financeira.
No novo fundo, a opção da gestora por empresas de tecnologia ficou tão clara que foi parar até no nome do produto.
Alinhamento
Mesmo procurando ganhar musculatura, a fórmula de remuneração do fundo busca garantir alinhamento da gestora com a entrega.
Além da taxa de administração de 2%, a gestora poderá receber uma taxa de performance, condicionada a duas dimensões: uma financeira e outra de desempenho socioambiental e de governança das investidas (ESG).
Para fazer jus à taxa de performance, primeiro o fundo terá que bater o benchmark de retorno de IPCA mais 6% ao ano. Se não cumprir a meta financeira, de nada adiantará bater a meta ESG.
Para medir a performance ESG das investidas, todas as empresas do portfólio terão que fazer, anualmente, a Avaliação de Impacto B, do B Lab. Ou seja, terão que responder o questionário utilizado no processo de certificação de empresa B.
O bechmark ESG do fundo será a nota mínima para obtenção da certificação B, que é de 80 pontos. A nota do fundo será calculada somando-se as notas de cada uma das investidas, ponderadas pelo valor das empresas.
Se o fundo cumprir a meta financeira e a meta ESG, a gestora recebe 100% da taxa de performance (20% do que exceder IPCA mais 6% ao ano). Caso o fundo não alcance os 80 pontos na avaliação de impacto, a gestora recebe apenas 50% da taxa de performance.
É importante fazer uma distinção: embora o fundo seja de impacto, a remuneração variável estará atrelada a indicadores ESG e não de impacto propriamente. Em outras palavras, para efeitos de taxa de performance, o que contará não é se as empresas do portfólio resolveram as dores a que se propuseram, mas se, no curso dos seus negócios, desenvolveram boa relação com seus funcionários, fornecedores e clientes, se adotaram boas práticas de governança e se causaram ou não danos ao meio-ambiente.