A fintech Gyra+, que concede crédito para micro e pequenos empreendedores plugados a plataformas de comércio eletrônico, está emitindo o primeiro social bond numa oferta pública no país, segundo fontes ouvidas pelo Reset.
A captação de R$ 50 milhões em debêntures servirá de funding para novas concessões e se concentrou em fundos de crédito nacionais.
Os títulos contaram com parecer de segunda opinião da Sitawi e têm prazo de três anos.
Após uma explosão na emissão de green bonds — aqueles que financiam projetos com benefícios ambientais —, o Banco ABC Brasil inaugurou há um mês a emissão de social bonds no país, com uma emissão de R$ 525 milhões totalmente encarteirada pelo BID Invest, braço do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Naquele caso, além de a oferta não ter sido pública, a utilização dos recursos será menos ‘raiz’. Irá beneficiar empresas de médio porte, com faturamento entre R$ 30 milhões e R$ 250 milhões, especialmente fora do eixo Sudeste-Sul.
Os recursos também poderão ser destinados a empresas de saúde de qualquer porte, como parte de esforços para aliviar o estresse financeiro provocado pela covid. A emissão contou com parecer da Vigeo Eiris.
Fundada em 2017 por Rodrigo Cabernite e Sergio Spieler, executivos com passagens por bancos de investimentos como Goldman Sachs e Standard Chartered, a Gyra+ (lê-se ‘Gira Mais’) dá crédito para micro e pequenos empreendedores que vendem seus produtos por meio de plataformas de ecommerce, como Mercado Livre, Mercado Pago e B2W.
Com um sistema que mapeia o histórico de vendas e o potencial de pagamentos a partir do relacionamento com essas plataformas, a empresa consegue fazer uma análise de crédito em até 24 horas e liberar os recursos para que os clientes possam comprar estoques, contatar funcionários e expandir suas operações.
A maior parte dos empréstimos está concentrada em pequenas empresas com faturamento de até R$ 4,8 milhões, e há fatia voltada a empresas consideradas de médio porte, com faturamento de R$ 25 milhões, que têm dificuldades de conseguir crédito a taxas atrativas nos bancos.
A Gyra+ também tem uma boa concentração de empréstimos a empresas lideradas por mulheres, e na emissão se comprometeu a voltar recursos também para negócios com controlados por lideranças femininas, negras e de populações com mais de 60 anos.
A carteira ativa de empréstimos da companhia está em cerca de R$ 10 milhões.
A emissão da Gyra+ é a primeira a testar o apetite do mercado por títulos rotulados como sociais. A oferta foi feita de forma restrita nos moldes da Instrução 476 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que permite a oferta para até 50 investidores profissionais e qualificados.
Num mercado empoçado de liquidez e carente de produtos com juros atrativos, a demanda foi alta para uma fintech. A emissão foi a primeira a ser feita por uma fintech no mercado desde o estouro da covid.