
Medir o impacto social da concessão de um empréstimo é um desafio. Existe muita teoria e percepções sobre a geração de renda, inclusão e desenvolvimento local. Mas também são muitas as variáveis, como aspectos regionais e até o gênero do tomador do empréstimo.
É isso que a fintech de meios de pagamentos Stone quer medir no crédito que concede a empresas da Amazônia. Ela obteve financiamento de R$ 295 milhões do BID Invest, braço do Banco Interamericano de Desenvolvimento para o setor privado, para ampliar empréstimos a micro, pequenas e médias empresas na Amazônia Legal.
O BID Invest apoiará na criação de indicadores para medir o impacto social. “Todos reconhecem que há impacto, mas a dificuldade está em quantificá-lo de forma efetiva”, afirma Diego Salgado, diretor de tesouraria da Stone.
Hoje, a Stone oferece três produtos para empresas: cartão de crédito, capital de giro e empréstimos com prazo entre 36 e 48 meses. “São esses os canais ou produtos por meio dos quais esses recursos [do BID Invest] vão chegar na ponta”, diz Salgado. A empresa não divulga quantos pequenas e médias empresas atende atualmente na Amazônia.
O objetivo é alcançar empreendedores que, muitas vezes, não têm acesso ao mercado bancário tradicional. O foco está nas mulheres, que são parte significativa dos clientes da Stone e “frequentemente enfrentam vulnerabilidades sociais e acumulam outras atividades além do negócio”, explica Carolina da Costa, diretora de impacto e sustentabilidade da empresa.
A Stone considera empresas médias aquelas com faturamento mensal de até R$ 2 milhões por mês. A maioria dos clientes da Stone fatura entre R$ 300 mil e R$ 500 mil por mês, com uma base de empreendedores que começam a partir de R$ 3 mil por mês.
Impacto
Esse projeto segue os passos de um anterior, realizado com a Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (DFC), que concedeu financiamento de US$ 470 milhões para a Stone em 2023. O objetivo era incentivar o crescimento de negócios por meio de capital de giro, com foco em mulheres da região Norte e Nordeste.
“Queremos descer até o ponto de responder: o IDH da região melhora? Quanto?”, diz Costa. Ela conta que a consultoria do BID Invest será importante para indentificar quais ações potencializam o impacto dos recursos.
O projeto prevê capacitações, entre elas educação financeira, e condições de crédito personalizadas de acordo com o perfil e as necessidades das empresas. “Podemos apoiar o empreendedor não apenas no acesso ao crédito, mas também em outras frentes”, diz Costa.
Os executivos destacaram que a relação com organizações multilaterais são estratégicas, para além do financiamento. “O que a gente faz com o time de sustentabilidade é, dado aquilo que a gente tem de estratégia na ponta, de impacto, com quem a gente pode conversar e mostrar essa oportunidade?”, conta o diretor da tesouraria.
Segundo ele, os multilaterais trazem a experiência em projetos internacionais de finanças de impacto, enquanto a Stone tem capilaridade em diversas regiões do país. “A motivação [da Stone] é menos sobre o custo dos recursos e mais sobre ter ganhos de comunicação externa e feedback sobre o que estamos fazendo. [O projeto] nos permite coletar dados e informações para desenhar ações que realmente gerem impacto na ponta.”
A Stone está em negociações para novas captações com outros bancos multilaterais, segundo Salgado. Uma das operações deve ser concluída até o fim do ano.