DÍVIDA ESG

Itaú emite R$ 1,4 bi em título sustentável – de olho em biodiversidade

Recursos serão destinados a crédito para pequenos negócios e recuperação de pastagens; emissão teve como investidores IFC e IDB Invest

Itaú emite R$ 1,4 bi em título sustentável – de olho em biodiversidade

O Itaú emitiu R$ 1,4 bilhão em títulos sustentáveis, em uma operação com duas tranches: uma focada no financiamento de micro, pequenas e médias empresas, no valor de R$ 1 bilhão, e a outra na preservação da biodiversidade, no montante de R$ 400 milhões.

Os papéis foram integralmente comprados por duas organizações de fomento: a International Finance Corporation (IFC) e o IDB Invest, braços de investimento privado do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), respectivamente. 

Apesar de responder por uma fatia menor da emissão, a inovação da operação estaria na destinação de recursos para biodiversidade, um uso dos recursos relativamente novo no mercado global de dívidas sustentáveis (leia aqui um ABC dos títulos ESG). 

Os R$ 400 milhões destinados à biodiversidade serão alocados no Programa Reverte, da Syngenta, em que o Itaú BBA é o braço financeiro. A iniciativa faz a recuperação de pastagens, convertendo áreas degradadas em áreas agricultáveis. 

O banco já financiou R$ 1,6 bilhão sob o programa, que resultou na recuperação de 239 mil hectares de terras até aqui – cada hectare corresponde a, mais ou menos, o tamanho de um campo de futebol. 

“O programa viabiliza o aumento da produção sem a expansão da área cultivável sobre vegetação nativa, porque recupera uma área que estava degradada”, diz Daniel Goretti, diretor da tesouraria do Itaú Unibanco. 

Já na parte social da emissão, do R$ 1 bilhão, R$ 400 milhões serão destinados a empreendedores do Rio Grande do Sul, para a reconstrução econômica após as enchentes no ano passado no Estado.

“Esta iniciativa apoia e capacita micro, pequenas e médias empresas, proporcionando o tão necessário acesso ao capital”, diz Manuel Reyes Retana, diretor regional da IFC para a América do Sul.

Ineditismo

Segundo o Itaú e os dois investidores, esse é o primeiro título voltado para a biodiversidade emitido por uma instituição financeira no Brasil. 

“Já existem outras emissões no mercado com esse uso de recursos, mas a criação de um novo rótulo específico ainda não foi consolidado. Ainda assim, esses investimentos e atividades voltados à preservação da biodiversidade estão presentes em títulos classificados como ‘verdes’”, explica Leonardo Gava, gerente-sênior de transição agrícola da Climate Bonds Initiative (CBI), organização britânica referência em dívidas sustentáveis, que certifica e reúne dados desse mercado. 

Ele cita como exemplo uma operação do BBVA Colombia no ano passado, que anunciou ter emitido o primeiro título de biodiversidade no mundo. “No entanto, não encontramos informações suficientes que corroborem com essa afirmação”, diz Gava. Ele explica que a organização só poderia avaliar a emissão do Itaú após ter acesso ao framework da operação. 

O título do Itaú seguiu critérios do framework de finanças sustentáveis do próprio banco, que está alinhado aos princípios de títulos verdes e sociais da International Capital Market Association (ICMA) e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Ele recebeu uma opinião de segunda parte positiva do Sustainalytics, uma empresa da Morningstar. 

Os títulos têm prazo de vencimento de três anos e a taxa da operação não foi divulgada. 

Suporte à inovação

“Nosso papel é de suporte técnico e investimento em inovações financeiras. Este título do Itaú tem um componente de muita inovação a nível regional, que é o foco em biodiversidade”, afirma Diego Flaiban, diretor e chefe de divisão do setor financeiro do IDB Invest. 

Além de colocar dinheiro na operação, os dois bancos de desenvolvimento têm também o papel de atrair outros investidores internacionais e institucionais. 

“Para cobrir a demanda mundial de financiamento de projetos de biodiversidade temos que investir 40 vezes mais do que o mundo investiu em temas de biodiversidade. A nível Brasil, o país tem que investir 7% do PIB de forma anual, se quer alcançar as metas do governo”, diz Flaiban. 

Esse tipo de operação tem também como objetivo criar uma comunidade de investidores, segundo Retana, da IFC. 

“Queremos enviar um sinal para o mercado, demonstrar que há portfólios de ativos que cumprem os critérios e metas do framework. O investidor se acostuma com esse tipo de operação e, eventualmente, não haverá mais necessidade de apoio de instituições de desenvolvimento, o banco será capaz de ir ao mercado e colocar os títulos suporte adicional”, explica. 

Do lado do Itaú, esse tipo de captação é essencial para que o banco atinja sua meta de R$ 1 trilhão em concessão e estruturação de crédito para atividades sustentáveis até 2030, dentro de sua ambição de ser net zero até 2050.