A CCR RioSP, concessionária de rodovias do Grupo CCR, acaba de encerrar a captação de R$ 9,4 bilhões em debêntures incentivadas – maior emissão do tipo no país, de acordo com a companhia. A operação foi 100% subscrita pelo BNDES, e inaugurou as debêntures verdes para rodovias no país. Os recursos serão usados para financiar a ampliação e modernização das rodovias Presidente Dutra e BR 101-RJ/SP.
Das oito séries que compõem a emissão, uma delas usa um instrumento ainda pouco visto no mercado de capitais brasileiro: serão R$ 500 milhões em debêntures de transição verde.
Os transition bonds, como são conhecidos, foram criados para apoiar os esforços de transição de empresas e governos que emitem muito carbono. O governo japonês emitiu recentemente títulos de transição no valor de US$ 5,3 bi.
A ideia é que eles sejam mais flexíveis que os green bonds, por exemplo – cujos recursos são carimbados para um projeto de impacto ambiental positivo –, e direcionem fluxos para quem ainda não tem suas práticas alinhadas a uma economia de baixo carbono.
Mas, ao ficarem “no meio do caminho”, os critérios de enquadramento desse tipo de título ainda não são bem definidos. Os transition bonds ainda representam uma parte pequena do mercado de dívidas verdes e são tipicamente usados por companhias de setores poluentes, como petróleo e aço.
“No BNDES, a gente vem tentando puxar essa discussão com as concessionárias. Não é um setor tão óbvio para encaixar um título de sustentabilidade, mas aqui, a CCR teve um trabalho muito sério de certificação e de identificar quais investimentos na rodovia poderiam ser adequados e interessantes”, diz Felipe Borim, superintendente de infraestrutura do BNDES.
Como nas outras modalidades de emissão de títulos ESG, a companhia busca redução do custo da dívida comprovando a adoção de práticas sustentáveis.
“Ao reconstruir essas estradas e alargá-las, nosso objetivo é reutilizar 100% do asfalto já existente e usá-lo na nova estrada”, afirma o vice-presidente de sustentabilidade, riscos e compliance do Grupo CCR, Pedro Sutter. A medida tem reflexo direto na redução de emissões de carbono ao diminuir a necessidade de Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ), um derivado do petróleo.
A empresa também se compromete a fazer a iluminação de Guarulhos, em São Paulo, à região de Seropédica, no Rio de Janeiro, com energia gerada a partir de fontes renováveis e lâmpadas LED, que são mais eficientes.
Se comprovada a realização a concessionária receberá uma redução de 0,08 ponto percentual no seu custo, diminuindo para IPCA + 6,82% ao ano, nessa tranche.
A Second Party Opinion foi emitida pela auditoria DNV.
Parceria com BNDES
A liberação de recursos será feita ao longo dos anos, conforme a necessidade de desembolso da CCR para investimento nas rodovias, o que deve permitir menor impacto sobre o nível de alavancagem da concessionária.
Com prazo longo, as duas primeiras séries da emissão têm vencimento de 23 anos e taxa de IPCA + 6,90% ao ano.
Além dos R$ 9,4 bi em debêntures, a CCR também recebeu um financiamento de R$ 1,34 bi do BNDES por meio da linha FINEM – com prazo de 22 anos e custo de IPCA + 8,68% ao ano.
No total, foram comprometidos R$ 10,75 bilhões – a concessionária deve investir 70% desse total na Dutra e BR 101. Ao todo, a operação terá uma taxa média de IPCA + 7,17% ao ano.
*Atualização às 19h15, após entrevista com porta-vozes da CCR e BNDES