Quatro anos após fazer a sua primeira emissão de green bonds, o BNDES quer ir além de projetos de energias renováveis e pretende captar no mercado também com títulos sociais e sustentáveis, voltados para financiar setores que vão de saúde a saneamento.
A expectativa é sair com alguma emissão do tipo ainda em 2021, afirma a CFO do banco de desenvolvimento, Bianca Nasser.
O BNDES acaba de lançar um framework para balizar essas futuras captações, ampliando a lista de projetos com benefícios sociais e ambientais que podem lastrear esse tipo de título.
Na frente verde, além das energias renováveis, foram incluídos mais cinco setores: eficiência energética, transporte limpo, prevenção da poluição, uso do solo (que inclui florestas e agricultura sustentável) e saneamento básico.
Nos projetos com benefícios sociais, entraram aqueles voltados a educação, saúde e financiamento a micro, pequenas e médias empresas — frentes que ganharam ainda mais protagonismo e urgência em meio à pandemia prolongada de covid.
Por definição, os sustainable bonds são aqueles que unem características sociais e ambientais, caso do saneamento, que além dar tratamento correto a dejeitos é uma questão de saúde pública.
Nessa frente, o BNDES parece vê grande apetite dos investidores, sugere Nasser.
“No relacionamento com investidores, não só para nossas captações, mas na divulgação de projetos estruturados para concessão e privatização em que atuamos, temos visto uma demanda muito grande de projetos de saneamento”, afirma a CFO.
Os projetos em saneamento são prioritários para o banco. Ontem, o BNDES divulgou as condições para o leilão da Cedae, do Rio de Janeiro, previsto para 30 de abril. O banco poderá financiar até 30% do valor mínimo de outorga, previsto em cerca de R$ 10 bilhões, além de 55% do investimento previsto na concessionária fluminense.
Potencial no mercado interno
O BNDES foi pioneiro entre as instituições financeiras brasileiras, com a emissão de um green bond de US$ 1 bilhão em 2017 no mercado externo. No ano passado, acessou o mercado interno para captar R$ 1 bilhão em letras financeiras verdes, voltadas para financiar projetos eólicos e solares.
Com uma demanda forte, de sete vezes a oferta, agora vê espaço para estrear os títulos sustentáveis no mercado doméstico.
“O investidor estrangeiro é mais maduro em relação a essa agenda, mas achamos que tem um bom interesse no mercado nacional. De fato estávamos aguardando o anúncio desse framework sustentável para repensar [captações]. Não temos um prazo específico, mas a expectativa é acessar o mercado interno ainda este ano”, diz Nasser.
O banco está em uma situação confortável de liquidez, diz ela, mas há espaço para diversificação de funding.
No mercado externo, o framework abre espaço para captações no médio prazo, já que, por ora, há funding barato de longo prazo de linhas emergenciais de organizações multilaterais em meio à covid.
O banco captou US$ 750 milhões com o BID no ano passado, e este ano negocia um volume adicional de US$ 1 bilhão com a instituição, além de US$ 1,7 bilhão com o New Development Bank (NDB). A linha com o NDB também está atrelada a projetos com benefícios climáticos, saneamento e infraestrutura sustentável.
Quantificando impacto
Para além do acesso a uma gama maior de investidores, Nasser afirma que a adoção dos títulos temáticos faz parte de uma agenda ESG mais ampla do banco e de um esforço para identificar melhor o impacto dos projetos que financia.
Hoje, o banco estima que 53% de sua carteira de crédito está em projetos de economia verde e desenvolvimento social. Do desembolso total de R$ 64 bilhões no ano passado, R$ 13,3 bilhões foram para esse tipo de financiamento. Esses percentuais não incluem as operações indiretas, via agentes financeiros, que perfazem boa parte da carteira.
Títulos carimbados — sejam verdes, sociais ou sustentáveis — estabelecem critérios de reporte periódico do uso de recursos para os investidores. O framework recém-lançado prevê mais de 20 indicadores de impacto, a depender do tipo de empreendimento financiado.
O documento foi elaborado em parceria com o BID e com a consultoria da Sitawi e tem parecer de segunda opinião, atestando a integridade da metodologia, da Sustainalytics.