CBI: Green bonds vão superar US$ 1 trilhão ao ano pela primeira vez

CEO da Climate Bonds Initiative destaca emissões soberanas, como a do Brasil, e prevê crescimento em títulos de transição e resiliência

CBI: Green bonds vão superar US$ 1 trilhão ao ano pela primeira vez
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Os green bonds devem ultrapassar a marca de US$ 1 trilhão em emissões pela primeira vez neste ano. Com a expansão do mercado, novos instrumentos de dívida sustentável, como os transition bonds, devem se fortalecer – também no Brasil. A previsão é da Climate Bonds Initiative, organização britânica referência nas dívidas sustentáveis. 

No primeiro semestre, foram mais de US$ 300 bilhões emitidos em títulos verdes, com recursos carimbados para projetos com impacto ambiental e climático positivo – metade do volume total de emissões das diversos tipos de tíitulo ESG. 

“O mercado de green bonds está crescendo muito rápido, é o principal do segmento. Estamos indo bem”, diz Sean Kidney, CEO e cofundador da CBI. 

Se a projeção se concretizar, os recursos captados com esse instrumento terão quase dobrado em relação aos US$ 587,6 bilhões do ano passado. 

Quando se amplia o escopo para outros instrumentos de dívidas ESG, como social bonds, sustainability linked bonds (SLB) e transition bonds, o valor acumulado de 2017 a 2023 é de US$ 4,4 trilhões. 

A demanda dos investidores só cresce e continua sendo “muito, muito maior” que a oferta, característica marcante do mercado há alguns anos, avalia Kidney. A expectativa é que essa desproporção se mantenha por um longo período. 

“Há mais de 50 governos ao redor do mundo emitindo green bonds. É esse o nível de sucesso desse instrumento”, afirma o executivo, “Temos a Comissão Europeia considerando a emissão de centenas de bilhões de green bonds para financiar seu Green New Deal. Esse é apenas o mais recente desdobramento, e deve ter mais pela frente”. 

O Brasil faz parte dessa lista, com suas duas emissões de US$ 2 bilhões em títulos soberanos verdes – a primeira em novembro de 2023 e outra no mês passado

Desde então, o efeito tem sido de bola de neve, diz Kidney: um governo faz emissões, outro observa e o copia, bancos de desenvolvimento começam a se envolver, e regulações, diretrizes e taxonomias se espalham pelos países, contribuindo para que o mercado avance.

Novos instrumentos

Os transition bonds estão na ponta da inovação das finanças sustentáveis. Como o nome sugere, esses títulos foram criados para direcionar recursos para a financiar companhias altamente poluentes na adoção de práticas de mais baixo carbono. 

Há algumas semanas, a CCR RioSP, concessionária de rodovias do grupo CCR, incluiu esses bonds em uma das tranches em sua captação de R$ 9,4 bilhões. A Marfrig e a Eneva também fizeram emissões do tipo há alguns anos. Essa modalidade estreou entre as operações de paíes em fevereiro: o governo japonês levantou US$ 5,3 bi com transition bonds. 

A expectativa do CBI é que os transition bonds cheguem a US$ 1,5 trilhão acumulados ao longo dos próximos três anos. O instrumento é especialmente importante para a Ásia e deve ganhar relevância também no mercado latino-americano, diz Kidney. 

Em meio ao revés em fundos ESG nos Estados Unidos, onde o tema se tornou altamente politizado, os títulos de transição também devem ter um papel importante, já que não enfrentam a mesma resistência que os green bonds mais convencionais, segundo o executivo. 

O instrumento é alvo de críticas por não ter parâmetros bem definidos – ou pelo menos bem absorvidos pelo mercado – sobre quão verdes são e devem ser. “Esses títulos são uma subseção dos green bonds. Há sempre o risco de que sejam fracos, mas estamos cada vez mais disponibilizando orientações”. 

Na metodologia adotada pelo CBI para o levantamento, entre 10% e 15% de todos os ESG bonds são eliminados por não atenderem aos requisitos de qualidade. 

A partir do próximo ano, prevê Kidney, os resilience bonds também devem começar a aparecer no mercado. Esses títulos movimentam capital especificamente para investimentos resilientes às alterações climáticas. O Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (EBRD) foi pioneiro, com uma emissão de US$ 700 milhões em 2019.

Mercado verde (e amarelo)

A soma dos green bonds emitidos na América Latina no ano passado foi de US$ 3 bilhões  – metade deles, no Brasil. 

Nos primeiros seis meses deste ano, de acordo com o CBI, essas emissões já chegaram a US$ 3,2 bilhões. Considerando todas as modalidades sustentáveis, o valor foi de US$ 71, bilhões no país, e US$ 21,6 bilhões na América Latina.

“Os mercados de capitais não são tão grandes na região. O tamanho do mercado de títulos verdes é proporcionalmente pequeno, mas não está diminuindo, na verdade. Continuamos a ver movimentação”, diz Kidney. 

No Brasil, o atual governo e sua busca por metas climáticas devem contribuir para o mercado de green bonds. Na avaliação do executivo, o agronegócio brasileiro também parece comprometido com a agricultura sustentável, dado o entendimento de que haverá mais oportunidades de exportação para China, Europa e Estados Unidos.

O desafio agora no Brasil é entender suas oportunidades de negócios. “Esse mercado [de finanças sustentáveis] é apenas um sintoma, não o objetivo. Os green bonds são um indicador de que haverá dinheiro: se você estiver disposto a fazer o investimento, você consegue levantar capital. Para isso, são necessários planos de transição de companhias, estados, cidades e da nação. Esse é o verdadeiro trabalho”.