A SulAmérica terá de pagar juros mais altos em uma emissão de debêntures de R$ 1,5 bilhão porque não conseguiu atender às metas de promoção de acesso à saúde mental definidas no contrato de dívida ESG.
A seguradora havia se comprometido a “promover acesso à saúde emocional por meio da conscientização, oferta de diagnóstico ou tratamento para 30.000 pessoas” até 31 de dezembro de 2024. Caso contrário, estaria sujeita ao aumento da taxa – o “step up”, como é conhecido.
Fontes que acompanham o mercado de dívida ESG disseram à reportagem não ter conhecimento de evento de step up anterior em uma emissão feita no Brasil.
Essa penalização é prevista em dívidas atreladas à sustentabilidade (SLBs, na sigla em inglês). Emissores se comprometem com metas e indicadores sociais ou ambientais e, se não as atingirem, o gatilho para o step up é ativado. Neste tipo de dívida, os recursos não são carimbados.
Os papéis da SulAmérica foram ofertados em duas séries, de R$ 750 milhões cada, em 8 de novembro de 2021. A primeira tinha prazo de 5 anos e a segunda, de 7 anos.
A companhia informou ao mercado que a segunda série da emissão terá a taxa acrescida em 0,125% e passará a operar com CDI + 1,825% ao ano, a partir de 8 de maio. O comunicado foi publicado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 2 de janeiro pela Rede D’Or São Luiz, controladora da SulAmérica desde 2022.
Ainda há mais um degrau à frente: a segunda meta da SulAmérica é promover acesso à saúde mental para 150 mil pessoas até o fim de 2026. Caso não seja alcançada, está previsto novo step up de 0,125%.
A linha de base foi estabelecida pela seguradora em 2020, quando 1.000 pessoas foram beneficiadas pelos projetos sociais e outras 2.000, por ações de mapeamento de transtornos mentais.
Críticas anteriores
À época da emissão, as metas e os indicadores escolhidos pela SulAmérica foram criticados por participantes do mercado de dívida ESG, como mostrou o Reset.
A promoção ao acesso à saúde mental poderia se dar pela conscientização, oferta de diagnóstico ou tratamento. No primeiro caso, por exemplo, a companhia contabiliza participantes de palestras, oficinas e workshops, com foco na qualificação profissional e difusão do conhecimento.
Já no escopo de diagnóstico ou tratamento, pessoas que tiverem acesso a ferramentas de diagnóstico, como questionários e avaliações, também entram na conta, não apenas as que realizarem consultas com profissionais.
Apesar de impacto e custo diferentes, essas duas abordagens são contabilizadas da mesma maneira pela SulAmérica.
Outro ponto criticado anteriormente foi a estratégia de colocar o Instituto SulAmérica, ou entidade filantrópica equivalente que viesse a substituí-lo, como principal contribuinte para o cumprimento da meta. Entre investidores interessados em dívidas vinculadas a impacto social ou ambiental positivo, a preferência é por ações que estejam diretamente relacionadas ao core business da emissora.
O Instituto SulAmérica não existe mais, informou a empresa. Questionada sobre o progresso em relação ao compromisso e seu insucesso, a seguradora respondeu por nota: “A SulAmérica informa que a decisão teve como base a preservação da saúde financeira da empresa. Ressaltamos que essa decisão não representa qualquer recuo em nossos compromissos ESG, que permanecem como prioridade na condução de nossas ações”.