Com startups de impacto brasileiras na mira, fundo dos EUA capta US$ 150 mi

Há 25 anos na América Latina, EcoEnterprises investe em empresas que tenham natureza e biodiversidade no centro de suas soluções

Tammy Newmark, CEO do EcoEnterprises Fund, o fundo de impacto que investe na natureza
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O EcoEnterprises, fundo de impacto que investe na América Latina, está estruturando seu quarto veículo de venture capital. A meta é levantar US$ 150 milhões (cerca de R$ 750 milhões) e fechar a primeira rodada de captação até a COP16 da Biodiversidade, que ocorre na Colômbia em outubro. 

O fundo nasceu como um spin-off da ONG The Nature Conservancy e, ao longo dos últimos 25 anos, investiu pouco mais de US$ 160 milhões em quase 50 companhias – com 20% dos aportes feitos no Brasil. O investimento mais recente no país foi na Smartbreeder, empresa que faz software preditivo de controle de pragas.

“Estamos vendo mais startups de clima e agro no Brasil, o que nos traz oportunidades animadoras”, diz Tammy Newmark, CEO e sócia do EcoEnterprises, “Sinto que agora há uma porta se abrindo e, com o lançamento do nosso quarto fundo, veremos muito mais negócios brasileiros em nosso portfólio”. 

O foco do fundo é claro: apoiar startups em estágio de crescimento que tenham como parte de seu modelo de negócio o impacto positivo sobre a natureza e a biodiversidade.

O menu é amplo: além da Smartbreeder, primeira agtech a receber investimentos do fundo, inclui produtores orgânicos de cacau e camarão a empresas envolvidas em sistemas agroflorestais e de gestão de resíduos. 

A simples prática de agricultura orgânica, por exemplo, não faz brilhar os olhos de Newmark e de Michele Pena, sua sócia. “Mas o uso de agricultura regenerativa ou a recuperação da produtividade de uma área degradada é um critério que vamos avaliar. Se a empresa está comprando produtos das comunidades locais e fornecendo assistência técnica a elas, também”, diz a CEO.

No ano passado, o fundo investiu US$ 4 milhões na mineira Nuu Alimentos, uma empresa que utiliza práticas regenerativas na plantação da mandioca. Ao longo da última década, também tem sido investidor da Sambazon, companhia da Califórnia que vende produtos de açaí e tem uma operação na Amazônia. 

“Para o nosso próximo fundo, provavelmente teremos um foco maior no Brasil do que em qualquer outro país. Aos poucos, nos últimos anos, o mercado de impacto tem se movido para lá”, afirma o diretor administrativo do fundo, John McKenna.

A atuação se concentra na América Latina porque a região reúne cinco dos países com as maiores biodiversidades do mundo: Brasil, Peru, México, Colômbia e Equador. 

A maioria dos investidores do EcoEnterprises são bancos de desenvolvimento, como o  Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o FinDev, do Canadá, e o Banco Europeu de Desenvolvimento. Investidores-anjo, family offices e outras organizações também já fizeram aportes. 

Evolução do mercado

A tese de investimento do fundo segue a mesma desde o fim dos anos 1990. O que mudou, no entanto, foi o mercado, diz Newmark. 

Mesmo antes de o nome de “fundo de impacto” ganhar popularidade, o EcoEnterprises acompanhava métricas de aspectos sociais e ambientais das startups de seu portfólio, como benefícios para comunidades onde os negócios atuam e as consequências para o clima. 

“Nós sempre fizemos essa coleta de dados de impacto, mas foi só a partir do nosso terceiro fundo que as empresas em que investimos começaram a dizer que seus clientes e parceiros passaram a se interessar no trabalho completo”, afirma Newmark 

O movimento provocou uma mudança no EcoEnterprises, que começou a priorizar a padronização de informações e ajudar as investidas a desenvolver sistemas de gestão ambiental e social. 

O EcoEnterprises mantém sua posição entre cinco e oito anos nas empresas em que investe. Seus fundos têm prazo de dez anos. 

Os investimentos ficam entre US$ 3 milhões e US$ 5 milhões, com a possibilidade de novas rodadas que levem o aporte total à faixa entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões.

O valor é decidido de acordo com as necessidades da empresa, diz Newmark, mas não se trata somente da injeção de capital. Além de entrar para os conselhos de administração, o EcoEntreprises oferece orientação técnica e adota uma postura “opinativa”, nas palavras da CEO.

“Algumas companhias só querem o dinheiro, mas não é assim que funcionamos e isso é algo bem importante para o longo prazo”.