Novo lance na batalha pela supremacia no rating ESG

Morningstar fecha a compra do controle da Sustainalytics, depois de Moody's e S&P terem se posicionado via aquisições em 2019

Novo lance na batalha pela supremacia no rating ESG
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A pandemia não foi obstáculo para que a gigante provedora de pesquisa e dados de investimentos Morningstar, de Chicago, fechasse um acordo para comprar o controle da holandesa Sustainalytics, uma das líderes no mercado de análise e rating ESG (ambiental, social e de governança). O negócio, anunciado na terça (21), marca o mais recente movimento na corrida entre as grandes empresas de rating e dados do mundo para se posicionar no mercado de análise de risco socioambiental.

Até recentemente, esse espaço era dominado pelo braço ESG da MSCI e por firmas especializadas, com destaque para a própria Sustainalytics. Mas o cenário começa a mudar conforme cresce a demanda de investidores e reguladores do mundo todo por dados e pesquisa em ESG.

Um ano atrás a agência de classificação de risco de crédito Moody’s comprou o controle da francesa Vigeo Eiris, uma das mais conhecidas empresas de pesquisa ESG da Europa. Em julho, a Moody’s voltou à carga e fechou a aquisição da Four Twenty Seven, especializada em integrar a análise de risco de mudanças climáticas aos investimentos.

Em novembro foi a vez da outra grande no ramo de risco de crédito, a S&P, anunciar a compra do negócio de rating ESG da Robeco, a gestora de fundos holandesa. Terceira das três grandes firmas de classificação de crédito ao lado de Moody’s e S&P, a Fitch ficou de fora do movimento de aquisições, até porque não restaram muitas oportunidades disponíveis, mas tem se esforçado para demonstrar como integra os riscos ambientais, sociais e de governança a suas análises de capacidade de pagamento das empresas.

“Investidores modernos nos mercados público e privado estão exigindo dados ESG, pesquisas, classificações e soluções para poder tomar decisões de investimento informadas e com significado”, disse o CEO da Morningstar, Kunal Kapoor, em comunicado. A empresa já tinha 40% da Sustainalytics, comprados em 2017, e agora levará os outros 60% por um “enterprise value” (ações mais dívidas) de 170 milhões de euros.

Fundada há mais de 25 anos, a Sustainalytics faz o rating de cerca de 20 mil empresas em 172 países. São 16 escritórios no mundo e 650 funcionários, incluindo 200 analistas, que agora se juntarão à Morningstar.

Em entrevista ao Financial Times em novembro, Craig Huber, da Huber Research Partners, analista de ações que cobre a MSCI, estimou o mercado global de classificações de ESG em cerca de US$ 200 milhões por ano e projetou que em cinco anos ele poderia chegar a US$ 500 milhões.

Perdas concretas de investidores com catástrofes ambientais como o rompimento da barragem da mineradora Vale, somadas à maior consciência sobre os riscos impostos pelas mudanças climáticas às empresas e agora a pandemia de covid-19 tendem a levar os investidores a se preocupar cada vez mais com a sustentabilidade dos negócios a longo prazo.

Mas conforme esse mercado se expanda e os critérios de análise ESG passem a ser mais amplamente usados, a necessidade de se criar padrões ficará ainda mais latente. Como mostra um projeto conduzido no MIT Sloan Sustainability Initiative batizado com o sugestivo nome de Aggregate Confusion, a discrepância entre os ratings das diversas agências é enorme, o que ainda dificulta muito a tomada de decisão dos investidores.