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A guerra cultural em torno do ESG chega à Casa Branca

Biden deve vetar resolução aprovada no Congresso que impede fundos de pensão de favorecer critérios sustentáveis em seus investimentos

Púlpito da sala de imprensa da Casa Branca

Joe Biden deve vetar uma decisão do Congresso americano que tenta impedir que gestores de fundos de pensão favoreçam critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) em seus investimentos. Será o primeiro veto do presidente americano em mais de dois anos de mandato.

A decisão é um sinal do avanço da campanha de políticos conservadores contra o que classificam de capitalismo “woke”. A expressão é usada hoje de forma pejorativa para qualificar toda e qualquer iniciativa ligada a assuntos como inclusão e proteção do meio ambiente.

Apesar de contar com uma maioria apertada no Senado, o Partido Democrata, de Biden, sofreu duas defecções ontem. Ambos votaram a favor da resolução apresentada pela oposição.

Os congressistas derrubaram uma regra instituída pelo Departamento do Trabalho em substituição à política da gestão Donald Trump. 

A medida era interpretada como um favorecimento dos parâmetros ESG na alocação de recursos e na participação desses fundos em assembleias de acionistas, por exemplo.

Para os republicanos, a medida significaria uma “politização” dos investimentos dos fundos de pensão, que administram US$ 12 trilhões em nome de mais de 150 milhões de americanos.

No ano passado, o movimento anti-ESG começou a ganhar força regionalmente, em estados dependentes da indústria dos combustíveis fósseis. Governadores e legisladores aprovaram leis proibindo a contratação de gestores cujas políticas de investimento excluem petroleiras, por exemplo.

Agora, o assunto chegou à mesa do presidente e deve figurar com destaque na próxima eleição presidencial, em novembro de 2024. O gestor Vivek Ramaswamy, do fundo ativista Strive, uma das vozes anti-ESG mais estridentes nas finanças americanas, anunciou semana passada sua pré-candidatura presidencial.

Guerra cultural

Quanto mais pende para a direita radical, mais o Partido Republicano se afasta de seus tradicionais aliados em Wall Street e no mundo corporativo.

O argumento “anti-woke” diz que ao olhar para questões socioambientais os gestores estariam deixando de lado sua principal função: garantir bons retornos.

O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, afirmou que na realidade a direita radical quer “enfiar decisões [privadas] de investimento goela abaixo de empresas e investimento”.

Mas, segundo o Fórum de Governança Corporativa da Universidade Harvard, o barulho em torno da resolução a ser vetada por Biden serve para alimentar a profunda divisão do país, a guerra cultural – e basicamente nada mais.

Nem a regra agora derrubada pelo Congresso nem a da gestão Trump que ela substituiu favorecem – ou desfavorecem – os critérios ESG, segundo os autores da análise.

Tanto a versão de Biden quanto a de Donald Trump “especificam que gestores de fundo não podem subordinar os interesses dos beneficiários a outros objetivos e não podem sacrificar retorno do investimento ou tomar riscos adicionais para promover [outros] outros benefícios ou objetivos”, escrevem os professores da universidade.