Uma startup pré-operacional que promete revolucionar a indústria siderúrgica empregando uma tecnologia livre de carvão, e que tem Bill Gates entre seus apoiadores de primeira hora, acaba de atrair a mineradora Vale para sua base de acionistas, complementando uma rodada de investimentos ‘serie B’ que levantou US$ 50 milhões em janeiro.
A Boston Metal utiliza uma tecnologia desenvolvida por professores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) — daí seu nome — que permite substituir o carvão por energia elétrica no processo de transformação do minério de ferro em aço.
A empresa americana é comandada pelo brasileiro Tadeu Carneiro, engenheiro metalúrgico formado pela Poli-USP, ex-CEO da produtora brasileira de nióbio CBMM, da família Moreira Salles, conselheiro do hospital Sirio Libanês e professor convidado do MIT.
A siderurgia, setor que está no berço da industrialização, é um dos mais intensivos em CO2, responsável por cerca de 9% das emissões globais. É praticamente impossível combater a mudança climática sem encontrar tecnologias que substituam os fornos a carvão usados na atividade.
A Vale, que aportou US$ 6 milhões no negócio, tem investido em tecnologias que ofereçam uma saída para descarbonizar a siderurgia e, assim, tentar limpar sua cadeia de valor.
Em dezembro, a mineradora se comprometeu em reduzir em 15% até 2035 as emissões líquidas de CO2 do chamado escopo 3, aquelas relativas a seus fornecedores e clientes, e sabe que sem novas tecnologias não tem como o setor siderúrgico entregar a sua parte nessa conta.
Todas as mineradoras já admitem, em maior ou menor grau, que controlar as emissões da cadeia é responsabilidade delas, mas a brasileira é a única entre as grandes a divulgar uma meta para escopo 3.
A BHP divulgou no ano passado um amplo plano para ajudar a descarbonizar sua cadeia, mas não fixou meta. A Rio Tinto tem dito que não tem como controlar as emissões de seus clientes. As três mineradoras se comprometeram a se tornar carbono neutras até 2050, considerando as suas emissões diretas (escopos 1 e 2).
Molten o quê?
A tecnologia desenvolvida pela Boston Metal se chama MOE (molten oxide electrolysis ou eletrólise de óxido fundido) e permite o uso da eletricidade para transformar metais em forma bruta em produtos de metal fundido de alta pureza, facilitando a produção de aço sem emissões de CO2.
Mas é importante notar que, embora elimine o carvão do processo, a tecnologia ainda depende de energia. Em seu ‘GatesNotes’, Bill Gates comentou sobre a tecnologia da Boston Metal: “É claro que a eletrificação só ajuda a reduzir as emissões se usar energia limpa.”
A empresa já havia captado US$ 20 milhões numa rodada ‘série A’ em 2018, que incluiu o fundo Breakthrough Energy Ventures, de Gates. De lá para cá, a empresa cresceu de 5 para 20 funcionários.
Com os recursos levantados agora, a empresa quer para validar sua tecnologia em escala industrial, expandir mais a equipe e começar a implantar sua tecnologia com os clientes.
Em entrevista ao TechCrunch em janeiro, o CEO Tadeu Carneiro disse que a ideia é ter a primeira célula semi-industrial operando até o fim de 2022 e ter sua primeira planta instalada e funcionando até 2024 ou 2025. “Nesse momento poderemos comercializar a tecnologia”, disse Carneiro.
A rodada fechada em janeiro foi liderada por Piva Capital, BHP Ventures e Devonshire Investors, empresa de investimento privado afiliada à FMR LLC, empresa controladora da Fidelity Investments. O Breakthrough Energy Ventures e outros investidores da rodada anterior acompanharam o aumento de capital ampliando a aposta na escalabilidade da tecnologia.
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