Com a tese de resolver o apagão de aprendizagem brasileiro, a startup Alicerce acaba de receber um aporte de R$ 40 milhões liderado pela gestora de impacto Rise Ventures, que há tempos buscava um ativo no setor de educação para compor o portfólio.
A startup foi fundada em 2019 para oferecer reforço em matemática e português no contraturno escolar, a preços acessíveis, para crianças e jovens de 6 a 18 anos das classes C, D e E – e, de quebra, ser uma solução para pais e mães que não têm onde deixar as crianças enquanto trabalham.
Depois de mudanças de planos forçadas pela pandemia, a rodada pré-série B tem o objetivo de financiar o relançamento da sua operação B2C.
A Rise está aportando R$ 15 milhões, e um cheque do mesmo tamanho está vindo do fundador e CEO, Paulo Batista (à direita na foto). Os outros R$ 10 milhões serão divididos entre um grupo de investidores individuais, com preferência para os cotistas da própria Rise.
A Alicerce já investiu mais de R$ 50 milhões e a nova captação prepara o terreno para a série B, prevista para 2024.
A Rise analisou quase 100 startups de educação durante dois anos até decidir pela Alicerce.
“Sempre quisemos investir em uma empresa de educação, pelo tamanho do problema que representa no Brasil. Mas é muito difícil combinar escalabilidade e retorno financeiro com o impacto social de servir, de fato, às classes C e D. Encontramos negócios com modelos excepcionais que atendiam às classes A e B e outros que tinham o impacto, mas não paravam de pé”, diz Pedro Vilela, CEO da Rise, que se posiciona como uma gestora de private equity early-growth.
“A Alicerce consegue ter escala porque seu modelo demanda baixo investimento, tem preços acessíveis e uma metodologia de ensino forte.”
Com o aporte, a Rise se torna o principal investidor da Alicerce, com presença no conselho de administração.
“Temos a meta de ser o primeiro unicórnio de impacto social da bolsa brasileira e, para isso, queríamos um investidor de impacto de referência, que acompanhe as métricas de impacto e ajude a construir o negócio”, diz Batista.
Pivotando
A Alicerce nasceu como um negócio B2C. Os alunos são avaliados ao chegar, inclusive em relação a habilidades emocionais e sociais, e uma trilha individual de aprendizagem é criada. Cada ‘sprint’ dura dois meses e, então, há uma reavaliação do aluno para definir os próximos passos. “Conseguimos recuperar 1 ano de conteúdo em 60 dias”, diz Batista.
A pandemia forçou o fechamento das suas 49 unidades, e em 2020 a empresa teve que mudar de rumo para sobreviver.
Primeiramente, encontrou uma oportunidade na venda de cursos para empresas, oferecendo reforço escolar para os filhos dos funcionários e crianças de comunidades do entorno. Outro serviço lançado foi a qualificação profissional para aumento de produtividade ou como parte de estratégias de diversidade e inclusão. A série A captada em 2021 alavancou essa vertente B2B.
A eficácia da metodologia de ensino e o preço acessível acabaram chamando a atenção de prefeituras e governos estaduais interessados em implantar modelos de escola pública integral. Foi o nascimento do negócio B2G da startup. Hoje, a Alicerce tem oito contratos e atende 15 mil alunos de escolas públicas.
As duas verticais respondem cada uma por cerca de metade da receita de R$ 50 milhões prevista para 2023. Com esse modelo em que uma empresa ou governo paga a conta e todos os alunos são bolsistas, a empresa tem 300 unidades físicas (sendo 160 em escolas públicas) em 24 Estados, com um total de 30 mil alunos.
A meta é mais que dobrar o faturamento em 2024, ultrapassando os R$ 100 milhões, com o objetivo de chegar a 500 mil alunos até 2027. No longo prazo, Batista fala em impactar 10 milhões de estudantes para conseguir mover o ponteiro da educação no país. Para chegar lá, o atendimento direto às famílias é crucial.
A volta do B2C
O aporte da Rise vai servir para validar o modelo escolhido para a volta do B2C e preparar a empresa para a série B. A rodada vai financiar a expansão desse novo modelo, diz o CEO Paulo Batista.
A prova de conceito vai acontecer exclusivamente na cidade de Curitiba, onde a empresa já abriu 31 unidades e pretende chegar a 44 no começo de 2024.
“A Alicerce atende uma camada social que tem desafios de mobilidade. Precisamos estar perto da casa das pessoas e, como elas estão espalhadas, precisamos ter muita cobertura, em todos os bairros de classe B e C e um pouco de D”, diz.
Essa lógica de ocupação territorial, explica, tem como foco também potencializar o B2B, numa abordagem multicanal. “Na frente de benefícios corporativos, é preciso ter cobertura geográfica para ser uma Gympass da educação”, diz o CEO.
O mínimo para viabilizar um contrato com uma empresa são 40 alunos, ou R$ 8 mil reais por mês em receita. Ou seja, pelo equivalente a uma mensalidade num colégio de elite em São Paulo, uma empresa ou filantropo consegue contratar a solução da startup. Não é muito, e isso explica o crescimento da empresa.
“Mas, com esse modelo que estamos implantando em Curitiba, permito que filantropos e empresas façam contratos menores. Façam isso como um benefício flexível na sua companhia, por exemplo”, diz Batista. Uma vez validado o modelo, a ideia é levá-lo para 400 outras localidades já mapeadas.
Nas unidades B2C, com capacidade para atender 200 alunos com tíquete médio de R$ 200 reais por mês, o breakeven acontece com ocupação de 30% a 40%; a partir de 50%, o negócio se torna lucrativo.
Só em Curitiba, a startup terá que contratar 500 novos professores, quando as 44 unidades estiverem com a capacidade completa.
Hoje a Alicerce tem 150 funcionários da equipe administrativa e mais de 1000 colaboradores que são professores em todo o país. A maior parte são estudantes universitários de diversas áreas, que recebem formação para se tornarem tutores.
Esse formato, diz Batista, faz da Alicerce uma grande geradora de renda para universitários – neste ano serão R$ 20 milhões.
O aporte na Alicerce é o sétimo investimento do primeiro fundo da Rise, que levantou R$ 150 milhões. No portfólio estão negócios de saúde, crédito, água, resíduos, energia renovável e alimentos à base de plantas.
“Temos espaço para mais um ou dois investimentos. Também podemos participar da série B da Alicerce, por exemplo”, diz Pedro Vilela. Em 2024, a gestora pretende abrir a captação do seu segundo fundo.