Colombiana de cannabis medicinal quer investir R$ 150 mi no Brasil

Volcanic chega ao país com aquisição de startup de saúde e aposta em mercado de remédios à base maconha e fitoterápicos

Ilustração com a molécula do canabidiol
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A colombiana Volcanic, especializada em cannabis medicinal e tratamentos fitoterápicos, chegou ao Brasil com a intenção de investir R$ 150 milhões no país até 2026.

O primeiro passo da empresa por aqui foi a aquisição da Elleven Health Care, uma startup que atua na distribuição de produtos à base de maconha. O valor do negócio não foi divulgado.

A Volcanic afirma que a primeira fase dos investimentos será de R$ 30 milhões. Parte dos recursos será usada para erguer um laboratório em São Paulo, que sediará um centro de produção de fármacos naturais.

Para financiar a estratégia de crescimento, a empresa pretende levantar até R$ 50 milhões numa rodada de equity no final do ano e já mira novas aquisições.

Em dois anos, a meta é alcançar uma receita anual de vendas no valor de R$ 148 milhões. A ambição da companhia, fundada em 2018, é grande diante do tamanho do mercado nacional: estima-se que no ano passado as aplicações medicinais de cannabis tenham movimentado R$ 700 milhões.

O número de usuários desses medicamentos não passa de 500 mil, e a legislação sobre o assunto está parada no Congresso há nove anos. Hoje, os tratamentos com canabidiol dependem de brechas legais e resoluções normativas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Essa incerteza jurídica não parece preocupar Pelayo Gutierrez, CEO e cofundador da Volcanic. “Na Colômbia, o cultivo da planta é permitido, mas o registro dos medicamentos, não. No Brasil é o inverso.”

Depois de mapear oportunidades nos Estados Unidos e na Europa, a companhia decidiu que o Brasil oferecia o melhor potencial.

Foco na cannabis

Os produtos à base de maconha representam a maior fatia de negócios da Volcanic. A principal patologia atendida é a insônia, que responde por cerca de 30% do faturamento, seguida por dores crônicas, autismo e TDAH.

O modelo da empresa é quase todo terceirizado. O cultivo – 100% orgânico – e o processamento da cannabis ficam a cargo de parceiros da empresa na Colômbia e nos Estados Unidos. A plantação colombiana foi auditada por técnicos da Anvisa e recebeu aprovação de boas práticas.

Inicialmente, os produtos vendidos aqui serão importados. A Volcanic apresentou à agência documentações para obter o registro que a permitirá trazer derivados vegetais usados na purificação do canabidiol (CBD) em grau farmacêutico.

O passo seguinte é fabricá-los no Brasil. A expectativa é que eles cheguem às farmácias no final de 2025, afirma Gutierrez.

Experiência pessoal

Como muitos empreendedores e ativistas, Gutierrez, que é espanhol, passou a se dedicar à cannabis depois de uma experiência pessoal.

Seu pai foi diagnosticado com câncer e era refratário ao tratamento quimioterápico. Com produtos da cannabis, suplementações e fitoterápicos, ele apresentou sinais de melhora.

Isso o levou a procurar um amigo colombiano, Julián Holguín, cujas raízes familiares remontam a um gigante agroindustrial do país andino, o Mayagües, que tem entre os negócios plantações de cannabis e cânhamo para uso industrial.

A dupla decidiu, então, investir recursos próprios num modelo de negócio que unia o uso da terra e saúde. O plano é oferecer uma ampla linha de medicamentos, não restritos aos de base natural.

“Começamos com a cannabis porque identificamos uma linha de soluções para males que os medicamentos tradicionais não estavam conseguindo resolver, como dor crônica, insônia, autismo, epilepsia e doenças neurodegenerativas”, afirma Pelayo.

Com a aquisição da Elleven, a Volcanic incorporou 15 medicamentos à base de cannabis e 18 fórmulas de produtos complementares numa tacada só.

“Produtos muito bons não estavam chegando aos ouvidos dos médicos e empresas muito boas que não tinham os melhores produtos do mercado. Queremos unir as duas pontas”, diz o CEO.