Circular Brain levanta capital para alavancar reciclagem de eletrônicos

Barn e BR Angels investem R$ 3 milhões na startup que criou solução digital para conectar rede de recicladores e empresas que precisam fazer logística reversa de aparelhos descartados

Circular Brain levanta capital para alavancar reciclagem de eletrônicos
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Se a reciclagem de resíduos comuns ainda engatinha no Brasil, a do lixo eletrônico é ainda mais incipiente — e com o agravante de que esse tipo de resíduo cresce exponencialmente junto da digitalização de tudo.

De olho nesse mercado a ser desenvolvido, a startup Circular Brain acaba de levantar R$ 3 milhões em capital semente, num aporte liderado pela gestora Barn Investimentos e que também contou com a participação da BR Angels.

“O Brasil é o país em desenvolvimento que mais gera lixo eletrônico per capita e a taxa de reciclagem formal é de apenas 1% a 3%. Nosso objetivo é aumentar essa taxa”, diz Marcus Oliveira, cofundador e CEO da empresa.

Para chegar lá, a Circular Brain não atua na reciclagem propriamente. Sua solução é um ecossistema para a logística reversa de eletrônicos por meio de ferramentas tecnológicas.

“As alternativas atuais de reciclagem de eletrônicos são baseadas em logística, que envolve o transporte do material para ser reciclado por grandes operadores, localizados especialmente em São Paulo, com o impacto ambiental da emissão de CO2 nesse processo”, diz Oliveira. 

Ele conhece bem essa cadeia porque, junto de seu pai, fundou, em 2009, o Grupo Reciclo, um operador na reciclagem de eletrônicos.

A Circular Brain identifica inúmeros pequenos recicladores regionais, que costumam ficar fora do radar dos grandes fabricantes de eletrônicos, e entrega a eles um software de gestão completo.

O sistema permite registrar a entrada dos equipamentos e também a saída dos diversos tipos de componentes — dos valiosos, como ouro, prata e paládio, que são vendidos dentro de uma lógica de ‘urban mining‘, aos contaminantes, como chumbo e mercúrio, que precisam ser descartados corretamente. 

A partir daí se abrem duas possibilidades de produtos.

Num deles, os fabricantes e grandes empresas usuárias de eletrônicos que precisam descartar seus equipamentos conseguem contratar o serviço de logística reversa diretamente dos operadores regionais cadastrados dentro da plataforma da startup — que se remunera com um percentual sobre as transações fechadas.

O outro produto são créditos de logística reversa que são emitidos e certificados pela Circular Brain com base nos dados registrados pelos operadores em seu sistema.

Esses créditos são adquiridos da startup pelos fabricantes para cumprir suas obrigações legais de coletar os eletrônicos descartados pelos consumidores domésticos. A lógica se aproxima do que algumas empresas, como a Eureciclo, já fazem em relação às embalagens pós-consumo.

“É um sistema que gerencia toda a cadeia. Resolve o problema do fabricante e também para o consumidor que busca uma forma de descartar seu eletrônico usado”, diz Flavio Zaclis, sócio e CEO da Barn. 

Metas a cumprir

O negócio da Circular Brain ganhou mais urgência no Brasil desde o ano passado.

A logística reversa dos resíduos eletrônicos está contemplada na Política Nacional de Resíduos Sólidos, assim como a de embalagens, e foi regulamentada por decreto em fevereiro de 2020.

A partir deste ano, os fabricantes precisam comprovar a reciclagem de 1% do que foi produzido três anos atrás e esse percentual sobe ano a ano até atingir 17% em 2025, quando novas metas serão estabelecidas para os anos seguintes. Grandes empresas consumidoras também têm que se responsabilizar pela reciclagem.

Gargalo e próximos passos

Hoje a Circular Brain tem 20 recicladores parceiros em todas as regiões do país e a ideia é chegar a 100 em 2025.

O principal gargalo para conseguir escalar a reciclagem de eletrônicos, diz o empreendedor, é a coleta. “Existe mercado para comprar todo o material recuperado. O grande desafio é como garantir o volume, porque as pessoas não se engajam e não descartam corretamente.”

Para resolver isso, a empresa criou uma rede de quase 12 mil pontos de coleta por meio de uma parceria com a Kangu, startup que faz a coleta e entrega de mercadorias para e-commerce, recentemente comprada pelo Mercado Livre.

Além disso, acordos que estão sendo costurados com grandes fabricantes e varejistas deverão permitir que consumidores recebam um cashback para ser usado na compra de novos produtos ao entregar seus usados para reciclagem, numa lógica de incentivo.

A Circular Brain entrou na fase operacional há apenas quatro meses e já tem entre os clientes as fabricantes Huawei e GE, por exemplo, e grandes consumidores como Honda e Panco. 

Está também desenvolvendo projetos especiais de logística reversa para alguns grandes fabricantes. A meta é atingir um faturamento entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões nos próximos 12 meses.