Dois anos de testes foram necessários para que a startup francesa NetZero conseguisse colocar de pé a tecnologia ideal para escalar suas remoções de gases de efeito estufa.
A empresa produz o biochar, ou biocarvão, um material que fixa no solo CO2 que foi removido da atmosfera pela agricultura – e, portanto, gera créditos de carbono. Quando adicionado às plantações, funciona como um insumo que aumenta a produtividade das lavouras e reduz a necessidade de fertilizantes.
A matéria-prima do biochar são resíduos do campo, fornecidos por produtores parceiros que entregam à empresa restos sem valor como cascas de café. Ele são, então, processados e devolvidos para a aplicação nas fazendas.
A NetZero descreve esse ciclo como um ganha-ganha-ganha. O agricultor consegue dar destino a um subproduto que não lhe interessa – e que provavelmente entraria em decomposição, gerando emissões de metano, um dos mais potentes gases de efeito estufa.
Transformados em biochar, esses resíduos melhoram a saúde do solo e diminuem a utilização de químicos, o que é bom para o planeta. Para a NetZero, o negócio está na venda de créditos de remoção de carbono.
Depois de uma captação de R$ 97 milhões em 2024 com o fundo de impacto francês STOA, a companhia anuncia uma melhoria tecnológica que pode dar velocidade e escala ao negócio.
Apesar de recentes, as remoções com biochar são consideradas promissoras e com o potencial de desempenhar um papel importante na luta contra a mudança do clima.
Em suas unidades atuais, duas no Brasil (em Minas Gerais e no Espírito Santo) e uma em Camarões, na África Central, a NetZero transforma restos de 6.500 produtores de café em biochar. O salto tecnológico permitirá agora parcerias com produtores de cana, milho, soja.
A startup também conseguiu automatizar processos, permitindo uma produção sem interrupções, e acelerar o tempo de construção das plantas, reduzindo-o de 12 para 3 meses. Mais duas estão em construção em Minas.
“É o que queríamos fazer desde o início. Era o nosso objetivo, mas precisávamos de uma série de resultados operacionais e dados que não tínhamos”, diz Olivier Reinaud, cofundador e diretor-geral da empresa.
Créditos de carbono premium
A NetZero afirma que os compradores têm pagado mais de US$ 100 por cada crédito de carbono – uma unidade corresponde a uma tonelada de CO2 removida da atmosfera. Segundo a startup, cada planta gera em média 5 mil créditos ao ano, certificados pela Puro Standard.
“Se você emite uma molécula de CO2 que vai ficar mil anos na atmosfera, tem que remover outra que também vai ficar fora da atmosfera por mil anos. Isso é o ‘like for like compensation’”, explica Reinaud. “Esse posicionamento, que é mais premium, tem pouca oferta no mercado, faz com que nosso crédito seja muito caro. Mas isso não significa necessariamente que fazemos muita margem porque temos muitos custos.”
Ele afirma que projetos de reflorestamento costumam obter preços mais baixos porque a permanência do carbono nas árvores está sob mais riscos que o fixado no solo.
Entre os clientes da NetZero estão grandes empresas multinacionais com sede na América do Norte e Europa.
Francês, Olivier Reinauld fundou a empresa no país europeu ao lado do pai, Axel, em 2020. Eles seguiram o avô, que já atuava com biochar em menor escala. Desde o início o foco são as regiões tropicais e países em desenvolvimento, onde a tecnologia tem mais impacto.
O potencial de remoção de carbono do biochar foi chancelado pelo painel científico IPCC em 2018. Se disponibilizado em escala global, ele pode remover a cada ano cerca de 2 e 3 bilhões de toneladas de CO2 da atmosfera.