Na BRF, uma batalha Marfrig versus Previ

Previ chama voto múltiplo para barrar hegemonia da chapa indicada pelo empresário Marcos Molina e vai indicar Igor Barenboim como conselheiro; assembleia é na segunda

Na BRF, uma batalha Marfrig versus Previ
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(Atualização: Previ e Marfrig chegaram a um acordo antes da assembleia e o fundo de pensão conseguiu incluir Aldo Mendes na chapa que foi eleita em 28/03)

Está armada uma guerra de titãs em torno do controle da BRF. 

De aliada de primeira hora do empresário Marcos Molina nos planos de tornar a Marfrig uma grande acionista da BRF, a Previ passou a adversária.

O fundo de pensão deu hoje uma cartada para tentar barrar o avanço do empresário, que pretende comandar a companhia com a eleição de uma chapa 100% indicada por ele para o conselho de administração. 

O fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil acaba de chamar o voto múltiplo para eleição do conselho da BRF. A assembleia está marcada para a próxima segunda-feira, 28. Com o voto múltiplo, os acionistas podem distribuir seus votos de forma individual entre os candidatos. 

Ainda não é público, mas, fontes disseram ao Reset que, para tentar minar a hegemonia de Molina, a Previ também vai indicar um candidato para a eleição: Igor Barenboim. Economista,  Barenboim foi da tesouraria do Itaú antes de ocupar cargos no governo. Foi secretário adjunto de política econômica no Ministério da Fazenda, com participação no Conselho Monetário Nacional (CMN).

Molina quer, de um jeito ou de outro, assumir o controle da BRF.

Tentou chegar lá de forma ‘numérica’ no ano passado quando a dona da marca Sadia fez um aumento de capital bilionário na bolsa. O plano era aproveitar uma brecha que, em tese, permitiria que ele ultrapassasse os 33% do capital da empresa comprando mais ações na oferta pública sem disparar a poison pill. Bastava que os demais acionistas de referência fossem diluídos e ele acompanhasse o aumento de capital.

Mas o Petros, fundo de pensão da Petrobras, foi para a briga e recrutou o ex-presidente da CVM, Marcos Trindade, para um parecer contestando a estratégia. O plano retrocedeu e, após a oferta, a Marfrig manteve os mesmos 33%.

Mas um mês atrás Molina voltou à carga para tentar controlar a empresa com a fatia acionária que tem.

Indicou uma chapa para o conselho com membros 100% indicados por ele, sem fazer uma costura com todos os outros acionistas de referência. A Petros tem 5,26%, Previ, 6,13% e Kapitalo, 5,34%.

A chapa é encabeçada pelo próprio empresário e traz como vice-presidente Sergio Rial, que há pouco deixou a presidência do Santander Brasil e que, antes, presidiu a própria Marfrig. A mulher de Molina, Márcia Marçal dos Santos, também é uma das indicadas.

No ano passado, a princípio a Previ se alinhou a Molina em seu plano de avançar sobre a BRF. O fundo chegou a vender um terço da sua participação para a Marfrig, reduzindo sua fatia de 9% para 6%. A venda aconteceu na baixa, rendeu apenas R$ 651 milhões à Previ, e foi o motivo da queda do ex-presidente da fundação, José Maurício Coelho, dias depois da venda, em maio do ano passado.

Recentemente, a relação entre Molina e Previ era cordial. Mas a chapa “100% Marfrig” pegou o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil de surpresa e o diretor de participações da Previ, Denísio Liberato, e o presidente, Daniel Stieler, se sentiram traídos.

A resposta da Previ veio hoje, ao chamar o voto múltiplo. Em nota divulgada há pouco, a Previ diz que o “conselho de administração deve refletir, em sua melhor forma, a base acionária da companhia.”

A essa altura, com uma posição acionária bem menor que a do oponente e o apoio de vários outros acionistas à chapa da Marfrig, a Previ conseguirá, no máximo, eleger um entre os dez conselheiros. Se chegar lá, sua aposta é que Barenboim tem estofo para assumir uma posição questionadora.

Sonho antigo

O interesse de Molina pela BRF é antigo. Em 2019 tentou unir as duas empresas, mas teve a proposta recusada pelo conselho, com forte oposição dos fundos de pensão.

No ano passado, o empresário passou a armar seu bote. Comprou ações da BRF em bolsa de forma agressiva, surpreendendo o mercado, até bater no limite de 33% que dispararia a poison pill. Chegou dizendo que seria um investidor passivo – algo que nunca convenceu 100%, dado o histórico agressivo de aquisições da Marfrig e também o tamanho do naco amealhado na BRF.

Assumiu de vez suas verdadeiras intenções um mês atrás, quando, em fato relevante, a Marfrig anunciou que seu board decidira que a empresa “deve exercer seus direitos de acionistas para passar a influenciar na administração da BRF”.