Transparência reduz custo e uma nova proposta para o ICO2: os vencedores do prêmio ESG da Fama

Transparência reduz custo e uma nova proposta para o ICO2: os vencedores do prêmio ESG da Fama
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A adoção voluntária do chamado ‘relato integrado’, que une informações financeiras e não financeiras de uma companhia, reduz o custo de capital próprio das empresas, aponta a tese de doutorado de Elise Soerger Zaro, obtida na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP. 

O trabalho foi o vencedor da primeira edição do Prêmio ESG da Fama Investimentos, criado para fomentar a pesquisa acadêmica em torno dos temas relacionados às pautas ambiental, social e de governança no mercado brasileiro. 

“Entramos numa fase em que os investidores começam a demandar mais informações das companhias e muitas empresas reclamam do trabalho que é reunir essas informações. A tese vencedora mostra o benefício disso”, aponta Fabio Alperowitch, sócio-fundador da Fama. 

Alguns estudos já mostravam a relação entre adoção do relatório integrado e menor custo de capital. Mas a maior parte deles tinha um recorte mais restrito.

Zaro analisou mais de 20 mil relatórios integrados produzidos por companhias em todo o mundo entre 2010 e 2017, partindo de empresas que constam na base International Integrated Reporting Council (IIRC) e do Global Reporting Initiative (GRI).

Além do escopo mais amplo, ela foi além para avaliar o quanto a força das instituições das regiões em que cada empresa atua — o chamado ‘enforcement’, a percepção de aplicação e cumprimento das leis — influenciam a relação entre divulgação de informações e menor custo de capital. 

Para isso, a pesquisadora usou um indicador do Banco Mundial chamado “Rule of Law”, em que avalia até que ponto os agentes confiam e cumprem as regras da sociedade. (Em linhas gerais, ele mede a qualidade e execução dos contratos, direitos de propriedade, polícia e tribunais, bem como a probabilidade de crime e violência.)

O custo de capital tende a cair mais com adoção do relatório integrado tanto maior o enforcement da região em que a empresa atua. Isso corrobora a hipótese de que, mesmo se tratando de uma iniciativa voluntária, em locais onde a lei se cumpre, há menos propensão para se adotar divulgações apenas para ‘inglês ver’. 

Um novo ICO2

No segundo lugar, o prêmio da Fama contemplou uma monografia que mergulha num problema bem conhecido do mercado brasileiro: a robustez e o grau de adesão dos índices acionários relacionados à sustentabilidade. 

No seu trabalho para o MBA Ações e Stockpicking da Ibmec em parceria com a Xpeed, Felipe de Sousa Nobre propôs novas configurações para o ICO2, o Índice de Carbono Eficiente da B3. 

Apesar do nome, o índice frequentemente sofre críticas por incluir nomes de grandes emissores de gases de efeito-estufa, como Petrobras e JBS. Na prática, o ICO2 é uma carteira rebalanceada: trata-se do IBRX100, que reúne as 100 maiores empresas brasileiras, ponderado pela emissão de gases de efeito estufa (quanto maior a emissão, menor a participação no índice).

Na sua monografia, Nobre propõe novas distribuições de participações para que a carteira tenha um desempenho ótimo de risco e retorno, com menos emissões de gases. Em seus exercícios, ele chega a uma carteira com apenas 5% de emissões de gases de efeito-estufa da atual, que teve retornos superiores ao ICO2 nos últimos anos, com menor risco. 

“Sempre bato na tecla que os índices têm uma responsabilidade muito grande. As pessoas vão olhar o ICO2 e entender que aquela é uma carteira que tem baixa emissão de gases de efeito estufa, o que não é verdade”, diz Alperowitch.

“O segundo colocado critica exatamente esse ponto e propõe carteiras com uma fração das emissões do ICO2 original, o que mostra o quão distante da proposta está a metodologia atual que tem sido bastante aceita e não questionada pelo mercado.”

Segunda edição a caminho 

Na estreia do prêmio, a Fama viu um interesse maior que o esperado no prêmio e já se prepara para a segunda edição, da premiação que deve ser anual. 

Ao todo, foram 55 inscritos. “Nossa expectativa era bem humilde: olhando as primeiras edições das outras casas e a novidade do tema, a gente não esperava mais de 15 ou 20 inscrições”, afirma Laura Veléz, analista ESG da Fama e que conduziu boa parte do processo. 

Ao todo, foram 11 Estados brasileiros representados, com trabalhos de 27 faculdades. Apesar da maior concentração dos inscritos nas regiões Sul e Sudeste, os vencedores vieram da região Centro-Oeste: Zora mora em Dourados, e Souza é de Goiânia. A diversidade de gênero também agradou a Fama: 54% dos trabalhos apresentados vieram de homens e 46% de mulheres.

A banca que avaliou os trabalhos reúne tanto profissionais que atuam em empresas e no mercado financeiro, quanto acadêmicos. Fizeram parte: Denise Hills (Natura), Andrea Minardi (Insper), Beatriz Lima (Pragma), Gilberto Oliveira (Vox), Luiz Adaime (Moss), Celso Lemme (Coppead), Salo Coslowsky (NYU), Gustavo Pimentel (Sitawi), Gleycon Silva (especialista em agricultura sustentável) e Raphael Kling (especialista em dados e inteligência artificial). 

O primeiro lugar levou um prêmio de R$ 15 mil e o segundo, de R$ 8,5 mil. Ambos levaram R$ 500 em créditos de carbono da Moss.