GOVERNANÇA

Too big to vote? BlackRock permitirá que clientes votem por conta própria em assembleias

Mudança, que vale a partir de 2022, vem num momento em que a gestoras de fundos passivos são questionadas sobre seu poder individual sobre empresas listadas

Too big to vote? BlackRock permitirá que clientes votem por conta própria em assembleias

Maior gestora do mundo, com quase US$ 10 trilhões em ativos, a BlackRock está abrindo mão de parte de seu poder de voto nas empresas investidas e repassando-o aos investidores que aplicam dinheiro por meio de seus fundos — num movimento que pode mudar a forma como funciona o jogo de força nas empresas listadas. 

Em carta enviada ontem aos clientes, a firma liderada por Larry Fink informou que, a partir de 2022, seus maiores clientes institucionais, como fundos de pensão e endowments, poderão escolher se querem votar em nome próprio nas assembleias de acionistas.

A mudança vem num momento em que gestoras de recursos que gerem fundos passivos (aqueles que acompanham índices) ganharam uma proeminência tão grande no mercado financeiro que passaram a ser questionadas sobre o seu poder individual sobre as empresas listadas. 

Hoje, a BlackRock é uma das três maiores acionistas de mais de 80% das companhias do índice S&P por meio de seus fundos, de acordo com a S&P Global Market Intelligence. 

Se todos os clientes elegíveis à nova política da BlackRock decidirem votar por conta própria, mais de US$ 2 trilhões em investimentos, ou 40% do negócio de US$ 5 trilhões de fundos passivos da BlackRock, serão afetados. 

O movimento vai ao encontro de uma demanda crescente dos investidores institucionais, que estão sendo mais cobrados por seu posicionamento em temas como mudança climática, remuneração de executivos e diversidade. 

“Acreditamos que os clientes da BlackRock devem, quando possível, ter mais escolhas sobre como eles devem participar nos votos de seus investimentos passivos”, disse a gestora em nota. “Queremos oferecer ao cliente o direito de escolha em tudo o que fazemos — o dinheiro que gerenciamos não é nosso, ele pertence a nossos clientes.”

A BlackRock, por meio de seu CEO Larry Fink, tem sido muito vocal ao cobrar engajamento das empresas na redução de gases de efeito-estufa e outras questões socioambientais. 

Mas, se por um lado, seu voto tem sido decisivo em alguns casos relevantes, como o da nomeação de conselheiros favoráveis à transição energética na ExxonMobil, por outro, ativistas cobram uma postura mais ativa em todo o portfólio. 

Nesse sentido, permitir que os clientes votem em nome próprio alivia duas críticas: o dilema ético sobre se a postura está em linha com o que querem seus investidores; e eventuais cobranças sobre o que pode ser considerado omissão em determinados temas.  

Como vai funcionar

Na prática, a BlackRock vai deixar grandes investidores escolherem as resoluções nas quais desejam votar. Um investidor pode decidir votar apenas em empresas específicas ou de determinados setores — ou todas as companhias nas quais investe via BlackRock, de forma indireta. 

O investidor pode optar por votar em linha com suas próprias regras e valores, seguir as recomendações de empresas que prestam consultoria de voto, como a ISS, ou seguir o que recomenda a própria BlackRock.

A nova política vem após um ano de esforços para construir a infraestrutura tecnológica necessária para direcionar os pedidos de votos aos clientes, sincronizar várias partes do ecossistema de votação e se certificar que os investidores vão conseguir entregar os votos a tempo. 

As mudanças não devem parar nos investidores institucionais. A BlackRock disse que está “comprometida em explorar todas as opções para expandir a escolha para ainda mais investidores, incluindo aqueles investidos em ETFs e outros produtos”.

E acrescentou: “Essa iniciativa vai requerer a cooperação de parceiros adicionais no ecossistema de investimentos e proxy voting e, em alguns casos, vai requerer mudanças regulatórias e operacionais no sistema.”